Paula Guatimosim
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| Rosana Rodrigues: para a reitora da Uenf, ao incentivar a aquisição de equipamentos de grande porte e de uso compartilhado, a FAPERJ reafirma seu compromisso com a excelência da pesquisa (Fotos: Divulgação) |
O Programa de Apoio às Fronteiras da Ciência e Inovação RJ – Infraestrutura Multiusuária em Equipamentos de Grande Porte destinou cerca de R$ 70 milhões para a aquisição de grandes equipamentos multiusuários, destinados à realização de projetos de fronteira – científicos e tecnológicos – em áreas experimentais, para o uso compartilhado. Biociências e Biotecnologia (CBB), Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) e Ciência e Tecnologia (CCT) são os centros de pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense contemplados na segunda edição do Edital Faperj nº 13/2024 — Programa de Apoio às Fronteiras da Ciência e Inovação RJ – Infraestrutura Multiusuária em Equipamentos de Grande Porte. "A segunda edição do edital Fronteiras da Ciência e Inovação representa um passo fundamental para o fortalecimento da infraestrutura científica no estado do Rio de Janeiro. Ao incentivar a aquisição de equipamentos de grande porte e de uso compartilhado, a FAPERJ reafirma seu compromisso com a excelência da pesquisa e com a promoção da colaboração entre diferentes grupos e instituições”, disse a reitora da Uenf, Rosana Rodrigues.
Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, Rosana também integra o Conselho Superior da Fundação. Para ela, investir em infraestrutura multiusuária é garantir que pesquisadores tenham acesso a tecnologias de ponta e consolidar o papel estratégico da ciência fluminense no cenário nacional e internacional. “Essa iniciativa é especialmente relevante em um momento em que a ciência brasileira precisa de apoio sólido e contínuo para inovar, formar talentos e responder aos grandes desafios da sociedade”, acrescenta.
Segundo Rosana, a aprovação das propostas dos pesquisadores da Uenf reafirma o papel da Universidade como instituição de referência, ao mesmo tempo em que abre novas perspectivas para a produção de conhecimento inovador, a formação de recursos humanos e a consolidação de redes de colaboração científica.
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| Afonso Azevedo: segundo o pesquisador JCNE da FAPERJ, o espectrômetro de fluorescência de raio X é capaz de realizar a análise química, permitindo aos pesquisadores conhecerem melhor as propriedades químicas de materiais, matérias-primas, resíduos industriais etc |
A Oficina Multiusuária de Caracterização Microestrutural foi uma das contempladas no edital. Seu foco é o desenvolvimento de materiais alternativos para a construção civil, mas também atende a vários programas de pós-graduação da Uenf. Segundo o pesquisador e coordenador da Oficina, Afonso Azevedo, que também recebe apoio da FAPERJ por meio de bolsa de Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE), o apoio do edital de Fronteiras da Ciência permitirá o incremento da infraestrutura, com a aquisição de novos equipamentos, entre eles um espectrômetro de fluorescência de raio X, capaz de realizar a análise química que permitirá aos pesquisadores conhecerem melhor as propriedades químicas de alguns materiais, matérias-primas, resíduos industriais etc., visando desenvolver materiais mais sustentáveis para a construção civil. A análise microestrutural revela as características específicas de cada tipo de material, sejam elas características físicas ou químicas.
Doutor em Engenharia Civil pela Uenf, onde realizou pesquisas na área de reutilização de resíduos sólidos para o desenvolvimento de materiais alternativos de construção, Afonso Azevedo explica que a partir das características de microestrutura é possível correlacionar algumas outras propriedades, já visando maior eficiência do material final, como argamassas, materiais cerâmicos, entre outros. Além desse edital, a oficina já foi contemplada em editais anteriores da FAPERJ, como os de apoio à infraestrutura e temáticos.
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| Segundo a Profa. Maura da Cunha (ao centro), a microscopia confocal funciona como uma espécie de scanner em 3D, tirando várias "fatias" de uma amostra e formando uma imagem tridimensional |
“Avanços em Microscopia Confocal: Inovações Tecnológicas para Pesquisas em Micro-organismos, Plantas e Saúde Humana”, coordenado pela professora Maura da Cunha, foi mais um projeto da Uenf contemplado. Segundo a professora, a microscopia confocal é uma técnica avançada que permite a observação do interior de células e tecidos com muito mais nitidez e profundidade do que um microscópio comum. “Este microscópio funciona como uma espécie de scanner em 3D, tirando várias 'fatias' de uma amostra e formando uma imagem tridimensional com detalhes incríveis. Imagine você ver o que tem dentro de um bolo sem cortá-lo. A microscopia confocal faz algo parecido, mas com células e tecidos, mostrando o que está lá dentro camada por camada”, explica a pesquisadora.
Com a ajuda da microscopia confocal, pesquisadores conseguem ver como um vírus entra numa célula humana ou como uma bactéria interage com a raiz de uma planta. Esses detalhes, invisíveis nos microscópios comuns, são fundamentais para desenvolver novas soluções para a saúde e a produção de alimentos. A tecnologia é essencial para entender como funcionam os micro-organismos, as plantas e até as células humanas, ajudando, por exemplo, no estudo de doenças, no desenvolvimento de medicamentos, no melhoramento de plantas e na descoberta de micro-organismos úteis à agricultura e à saúde. Além de apoiar pesquisas de ponta, o projeto também visa fortalecer o ensino, formar novos cientistas e gerar inovações com impacto direto na sociedade, como tratamentos mais eficazes, alimentos mais saudáveis e tecnologias sustentáveis para o campo.
A professora Maura esclarece que o projeto tem como objetivo ampliar o acesso à microscopia confocal. A proposta prevê a aquisição de um equipamento de última geração — o microscópio confocal Zeiss LSM980 — que será instalado na Plataforma de Equipamentos Multiusuários de Microscopia e Microanálise Prof. Ulysses Lins, no Laboratório de Biologia Celular e Tecidual (LBCT) da Uenf. Sua tecnologia de super-resolução permite visualizar estruturas celulares com até 90 nanômetros de detalhe (mil vezes menores que um fio de cabelo), às vezes, sem necessidade de corantes específicos. Também serão adquiridos uma estação de trabalho moderna para análise das imagens e um sistema de laser para estudos mais profundos da dinâmica celular. Os recursos serão utilizados para a compra do equipamento e instalação, com contrapartida da Uenf em infraestrutura física, taxas e insumos para pesquisa. O foco é criar uma unidade de pesquisa aberta a outros grupos científicos do estado do Rio de Janeiro, incluindo instituições parceiras no projeto como UFRJ, Uerj, UFRRJ, Embrapa, entre outras.
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| Eliemar Campostrini: o pesquisador, CNE da FAPERJ, está cursando pós-doutorado na Itália e aproveitou para visitar fabricantes da Plataforma de Fenotipagem de Alta Resolução |
Já o professor Eliemar Campostrini é o responsável pelo terceiro projeto: “Plataforma multiuso de fenotipagem de alta resolução: Inovações e aplicações na identificação de características agronômicas de interesse para o desenvolvimento de cultivares-elite para o estado do Rio de Janeiro”. Ele explica que o equipamento de alta resolução possui uma estrutura física composta por três unidades (câmaras fechadas), contendo um sensor que avalia a eficiência no uso da luz pela planta; um sensor que mede o crescimento da planta, avaliando, entre outros parâmetros, a altura, a área foliar, a inclinação das folhas e a taxa de crescimento da planta; e um terceiro sensor que avalia a capacidade da folha em realizar a fotossíntese. “Esses sensores obtêm imagens da planta num tempo muito curto (segundos) e, por meio destas imagens, é possível avaliar a eficiência no uso da luz, o crescimento e a capacidade fotossintética da planta”, explica Campostrini. Com a mesma rapidez, a plataforma pode ainda avaliar o desempenho fotossintético e o crescimento de plantas jovens da Mata Atlântica e outros biomas como, por exemplo, as plantas de restinga. O pesquisador esclarece que, normalmente, sem a plataforma, as avaliações são feitas em horas, dias e até semanas. Com ela, é possível economizar tempo, espaço e recursos.
Com a ajuda da plataforma de fenotipagem de alta resolução, o pesquisador pode acelerar o processo de seleção das plantas tolerantes à seca e a altas temperaturas, plantas tolerantes a pragas e doenças (vírus, fungos e bactérias), e plantas tolerantes à deficiência nutricional do solo, especialmente Nitrogênio e Fósforo. “Além disso, será possível selecionar as melhores associações entre as bactérias e fungos benéficos ao crescimento e à planta”, explica Campostrini. Segundo ele, na Uenf, as culturas que serão beneficiadas com a aquisição da plataforma serão cafeeiro, mamoeiro, milho comum, milho de pipoca, feijão, uva, maracujá, citros, abacaxi, lúpulo, cana-de-açúcar, hortaliças, pimenta e pimentões. O objetivo final é a obtenção de plantas com maior produtividade agrícola sob estresse biótico e abiótico, bem como plantas com maior capacidade para a restauração de florestas e restingas no estado do Rio de Janeiro e no Brasil.
No momento, Eliemar Campostrini, que conta com bolsa de Cientista do Nosso Estado da FAPERJ para conduzir suas pesquisas, está cursando pós-doutorado na Itália. Ele aproveitou a oportunidade para visitar duas empresas fabricantes da Plataforma de Fenotipagem de Alta Resolução, uma alemã e outra da República Tcheca. “Estamos na fase final para o fechamento da compra desta plataforma, para a obtenção de uma melhor relação custo/benefício, visando a otimização dos recursos provenientes do edital da FAPERJ."