Débora Motta
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| Em visita ao Parque da Cidade, guiados por Leandro Urso Santos, líder comunitário e vice-presidente da Associação de Moradores do local, estudantes de graduação de Geografia da PUC-Rio conheceram o Rio Rainha (acima) e discutiram os desafios para seu saneamento e preservação (Fotos: Divulgação) |
O Rio Rainha, que corta o campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na Gávea, tem sua identidade associada à própria história deste bairro. Para promover ações de educação ambiental e a recuperação e manejo desse recurso hídrico, que nasce no Maciço da Tijuca, atravessa a Gávea e deságua no canal da Rua Visconde de Albuquerque, no Leblon, pesquisadores da PUC-Rio criaram um projeto de extensão que envolve diversos atores sociais e a comunidade local. Trata-se do projeto Laboratório Vivo de Educação Ambiental e Sustentabilidade (Luvas).
“O Luvas surgiu em 2023, quando fomos motivados com o lançamento, pela FAPERJ, do edital Programa de Educação Ambiental: Capacitação e Ações de Lixo Zero em Lagoas, Manguezais e na Região Costeira”, contou a coordenadora do projeto, Agnieszka Ewa Latawiec, que também é professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente (GEO/PUC-Rio). A chamada, com previsão inicial de repasse de R$ 5 milhões, destina-se a apoiar projetos científicos dedicados ao desenvolvimento de pesquisas-extensão em Educação Ambiental, de capacitação e ações voltadas para alcançar a meta de lixo zero em lagoas e na região costeira fluminenses, valorizando ativos econômicos, sociais e a preservação ambiental da biodiversidade no território do estado do Rio de Janeiro.
O projeto articula esforços da academia (PUC-Rio e parceiros), do meio empresarial (Fundação Grupo Boticário) e do governo (FAPERJ, Secretaria do Ambiente e Sustentabilidade - SEAS, Prefeitura do Rio, Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia – SMCT, Fundação Rio-Água e Museu Histórico da Cidade), além da sociedade civil como o Comitê de Bacia da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara, o Instituto Francisco, o Instituto Fecomércio de Sustentabilidade, a Associação de Amigos e Moradores da Gávea - Amagávea e a Associação de moradores [da comunidade] do Parque da Cidade.
“Nosso objetivo é fazer confluir comunidade local, universidade, governo e setor privado para transformar a região do Rio Rainha em um modelo de desenvolvimento sustentável e de impacto positivo para o meio ambiente, a economia e a cidade do Rio de Janeiro”, completou a economista Ruth Mello, articuladora de parcerias do projeto Luvas e líder de inovação para impacto socioambiental da Vice-Reitoria de Desenvolvimento e Inovação da PUC-Rio.
Ao atravessar a Gávea, o Rio Rainha participa do ciclo das águas, influencia a vegetação, a fauna e até aspectos urbanos, como drenagem e microclima. Em parceria com o Departamento de Química da PUC-Rio e o Comitê da Bacia da Baía de Guanabara (gerido por Estado, Prefeitura e sociedade civil), será realizado um monitoramento da qualidade desse curso d’água. “Vamos monitorar os microplásticos presentes no Rio Rainha. Phelipe Marinho e Diene Miguel são os pesquisadores que, sob a supervisão do professor Renato Carreira, estão verificando o aporte, a distribuição e o destino da contaminação por microplásticos no curso do nosso rio. Estes microplásticos serão classificados de acordo com o tipo de material, por critérios como dureza, tamanho, cor e maleabilidade”, contou Daniela Neves, gestora da iniciativa. “Na nascente do rio, que fica no Parque da Cidade, na Rua Marquês de São Vicente, próximo da PUC, e no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, estão sendo realizadas as análises dos pontos de interferência nas áreas já mapeadas pelo Comitê da Bacia da nossa Baía de Guanabara”, detalhou.
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| Realização da Oficina de Futuros no Centro Loyola: encontro reuniu lideranças do Parque da Cidade, professores, pesquisadores e agentes sociais. À dir., de camisa azul, a articuladora de parcerias do projeto LUVAS, Ruth Mello |
Outras atividades realizadas no âmbito do projeto Luvas são oficinas educativas e campanhas de conscientização ambiental. No dia 9 de julho, o Centro Loyola, no Alto da Gávea, recebeu a “Oficina de Futuros – Olhar coletivo para o Rio Rainha. O encontro reuniu lideranças do Parque da Cidade, professores, pesquisadores e agentes sociais. A iniciativa abre caminho para ações de educação ambiental, visto que escolas da Gávea começaram a visitar o Parque da Cidade para conhecer a bacia do Rio Rainha. Já a Escola Municipal Christiano Hamann, na Gávea, e a Escola Parque acolheram dinâmica similar com suas crianças e jovens. Esta atividade foi coordenada pela então mestranda em Ciência da Sustentabilidade pela PUC-Rio, Caroline de Albuquerque Neutzling.
Na campanha “Abrace uma árvore”, realizada em 10 de novembro de 2024, a proposta foi uma reconexão social do homem com a natureza. “Ao motivar os transeuntes a abraçarem o tronco de uma árvore e escutarem sobre a história e importância do Rio Rainha, promovemos um experimento social na Lagoa e no campus da PUC”, disse Ruth.
O projeto também promoveu a Caminhada e Corrida do Rio Rainha, com direito a medalha. A ação, aberta ao público, foi coordenada pela oceanógrafa Manoela Barbosa, colaboradora do projeto, nas margens do canal da Avenida Visconde de Albuquerque. Depois de percorrerem o trajeto e observarem de perto trechos do Rio Rainha, os participantes formaram uma roda de conversa, em que discutiram a poluição e o lixo irregular ali despejados. Eles refletiram sobre a importância do rio para a comunidade.
Outro desdobramento do projeto Luvas será a formalização de uma disciplina de extensão curricular disponível para todos os alunos de graduação da PUC-Rio. “Ano que vem, vamos formalizar o Luvas como um programa de extensão da PUC-Rio. Estamos alinhados com a Vice-reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica para o acolhimento desta proposta de disciplinas extensionistas, como a ‘Métodos e técnicas de pesquisa em Geografia’, da professora Agnieszka, e da ‘Neurociência comunitária’, que eu leciono na PUC-Rio”, disse Ruth. Precisamos revisitar as práticas extensionistas na universidade, criando laços dialógicos e profundos com a sociedade. As disciplinas de Extensão, por obrigatoriedade do MEC, devem compreender ao menos 10% do currículo de todos os cursos de graduação, e o Luvas está fazendo parte dessa história.”
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| Outra atividade realizada pelo projeto LUVAS foi a campanha Abrace uma Árvore, para promover a conscientização ambiental dos transeuntes na Lagoa Rodrigo de Freitas |
Também participam da equipe do projeto Luvas: a engenheira civil e professora Ana Cristina Carvalho; a engenheira e advogada, vice-presidente do Comitê da Bacia da Baía de Guanabara, Adriana Bocaiúva; a advogada indígena da etnia Pataxó, Wilza Neves; a assistente social Lídia Mello; a cientista e professora Ailim Schwambach; o geógrafo Alex Archer Marques Gomes; a assistente social e teóloga Anne Ramiro; a arquiteta e urbanista do Instituto Fecomércio de Sustentabilidade, Erika Laursen; o designer e professor Gilberto Mendes; o geógrafo Glaucio Marafon; o graduando em Sociologia e liderança comunitária Felipe Luther; o engenheiro químico da Fundação Rio Águas, Daniel Hoefle; o líder da comunidade Vila Parque da Cidade, Leandro Urso; a arquiteta e urbanista e professora Raquel Cruz; a graduanda em Administração Sara Pimenta; a engenheira civil Helena Gottschalk; o designer João Pedro Bittencourt; a bióloga e educadora ambiental Lucia Souza; advogada ambiental Eduarda Martins de Oliveira; a estudante de Engenharia Química Stephanie Abdala; o administrador e professor Marcos Cohen; a antropóloga social e cultural Camille Ibarroule, dentre outros que têm acolhido ao chamado do grupo no sentido de contribuir em favor da educação ambiental e do bem-estar da sociedade.
Breve história do Rio Rainha
O Rio Rainha nasce na Ponta das Andorinhas – um dos picos da Serra da Carioca, no Maciço da Tijuca – e corta a Gávea em rumo paralelo à Rua Marquês de São Vicente, a principal rua do bairro, desaguando no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon. Antes de ser Rainha, o rio era chamado de Branco. Até a década de 1920, ele desaguava na Lagoa Rodrigo de Freitas. No governo do prefeito Carlos Sampaio (1920-22), quando foram feitas canalizações dos rios da Serra da Carioca, seu destino passou a ser o canal da Avenida Visconde de Albuquerque.