Marcos Patricio *
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Coleta de dados de um ônibus, por meio de cabo, em teste. MobiCrowd foi projetado para fazer coleta, análise e monetização de dados veiculares (Foto: Malkai Oliveira/Inmetro) |
Vistos pela maioria da população apenas como um meio de transporte, os veículos podem ser utilizados como sensores para monitorar se os motoristas estão dirigindo de maneira eficiente e ambientalmente correta. Esse é um dos aspectos do projeto MobiCrowd, um sistema inteligente de gestão da mobilidade que visa incentivar uma postura mais sustentável ao volante e permite recompensar motoristas que adotem uma condução mais eficiente e com menos emissão de poluentes. Confira mais detalhes sobre a plataforma na videorreportagem, lançada hoje (25/9), no Canal da FAPERJ no YouTube.
Desenvolvido para fazer coleta, análise e monetização de dados veiculares, o sistema funciona como uma plataforma que combina diferentes tecnologias. Conta com 5G para transmissão de dados em tempo real, e blockchain para garantir a segurança e a transparência das recompensas dadas aos motoristas com hábitos mais eficientes e sustentáveis. Dispõe, também, inteligência artificial para analisar os dados sobre o desempenho dos motoristas. O nome do projeto vem de Mobilidade e de Crowdsourcing, um processo colaborativo que visa, entre outras coisas, desenvolver novas ideias.
O MobiCrowd reúne pesquisadores, professores e alunos do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mais de 20 estudantes trabalharam no desenvolvimento do projeto. Acompanhados por pesquisadores das duas instituições, eles foram capacitados para atuar em um setor em plena transformação. A iniciativa contou com cerca de R$ 1 milhão do Programa de Apoio a Projetos Científicos e Tecnológicos em Mobilidade Urbana, um edital lançado pela FAPERJ em 2021.
“Com o MobiCrowd, estamos criando um ecossistema, no qual o carro passa a contribuir ativamente para cidades mais sustentáveis e motoristas mais conscientes, deixando de ser apenas um meio de transporte. O sistema conta com tecnologia nacional e oferece segurança e benefícios concretos para a população”, destaca o pesquisador do Inmetro Raphael Machado, coordenador-geral do projeto.
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Parceria: parte da equipe que desenvolveu o MobiCrowd. Projeto envolveu professores, pesquisadores e alunos do Inmetro e da UFF (Foto: Jorge Mansur/FAPERJ) |
Um dos resultados do projeto foi a criação do Laboratório de Tecnologias em Comunicações Veiculares (V2Lab), no qual foi investida parte dos recursos concedidos pela FAPERJ. Inaugurado em junho passado, no campus Praia Vermelha da UFF, o V2Lab conta com uma infraestrutura moderna, com antena 5G privativa para testes em tempo real de comunicação veicular e coleta de dados.
O laboratório reúne cientistas, empresas e estudantes em uma estrutura inédita no País em busca por cidades mais sustentáveis, tráfego mais seguro e geração de novos modelos de negócio. “O V2Lab coloca o Brasil entre os países que estão à frente do debate sobre a mobilidade conectada e sustentável”, afirma Machado, que também é professor do Instituto de Computação da UFF e é apoiado pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.
A equipe do V2Lab desenvolveu um sistema capaz de monitorar, em tempo real, diferentes aspectos relacionados ao desempenho e segurança dos veículos conectados e de propor melhorias no modo de condução. Em testes realizados, veículos monitorados percorreram mais de 200 km em trajetos urbanos, gerando 200 GB de dados brutos que alimentam modelos matemáticos e de inteligência artificial usados para mensurar a quantidade de emissões e outros dados relacionados a cada veículo.
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Para Raphael Machado, coordenador do projeto, com o sistema os veículos podem contribuir ativamente para cidades mais sustentáveis (Foto: Rodrigo David/Inmetro) |
O sistema conta com uma plataforma baseada em blockchain que permite aos motoristas compartilhar dados como estilo de condução, consumo de combustível e emissões de poluentes. Aqueles que dirigem de forma mais eficiente, economizando combustível e reduzindo emissões, recebem recompensas financeiras em troca. A estimativa é de até R$ 0,10 por litro de combustível economizado. A segurança das infomações compartilhadas é garantida por tecnologias de ponta como blockchains permissionados e criptografia homomórfica, assegurando a privacidade dos dados.
“Atualmente, rodam pelas ruas e estradas do Brasil cerca de 25 milhões de automóveis, ônibus e caminhões equipados com a chamada porta OBD-II, uma tomada padrão que dá acesso aos sistemas eletrônicos dos veículos, e por meio da qual é possível se conectar ao MobiCrowd. Os números mostram o potencial de escala do sistema”, explica Machado, doutor em Engenharia de Sistemas e Computação pela Coppe/UFRJ. Esse tipo de tomada, que quase sempre está instalada na parte inferior do painel, permite a conexão com ferramentas para realização de leitura de dados, de diagnóstico de problemas, de rastreamento, de monitoramento e de ajustes.
Agora em 2025, o MobiCrowd entrou em uma nova fase, na qual estão previstos investimentos da ordem de R$ 3 milhões. Os recursos serão destinados à validação comercial da tecnologia e à formação de parcerias estratégicas com instituições públicas e acadêmicas, e com a iniciativa privada.
* Com informações das equipes do Inmetro e da UFF