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Publicado em: 21/08/2025 | Atualizado em: 21/08/2025

Estudo analisa percepção de profissionais de saúde sobre doação de órgãos

Claudia Jurberg

O doutorando e assistente de pesquisa Noé Vaz e a coordenadora do estudo, a professora Claudia Araújo, do Coppead/UFRJ: participaram do estudo 578 profissionais de saúde que atuam em emergências e CTIs de cinco hospitais fluminenses (Foto: Arquivo Pessoal) 

A percepção de profissionais de saúde sobre o processo de doação de órgãos foi analisada em uma pesquisa financiada pela FAPERJ e coordenada pela professora Claudia Araújo, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ). Participaram do estudo 578 profissionais que atuam em emergências e CTIs de cinco hospitais fluminenses.

A decisão de doar órgãos de um ente querido acontece em momentos de grande dor e incerteza — e os profissionais de saúde que atuam em emergências e CTIs têm um papel central nesse processo. São eles os primeiros a identificar potenciais doadores, comunicar-se com os familiares e garantir as condições clínicas necessárias para que a doação ocorra. Por isso, compreender as crenças, conhecimentos e atitudes desses profissionais é essencial para fortalecer a cultura da doação no País.

"Desconfiança em relação à morte encefálica, medo de retirada precoce dos órgãos, temor de desfiguração do corpo, crença em tráfico de órgãos ou favorecimento a pessoas ricas, preocupações religiosas e desconforto com a manipulação post-mortem ainda são crenças negativas expressas por esses entrevistados e que podem prejudicar o processo e afastar possíveis familiares da decisão de doar", afirma Araújo.

Segundo ela, a desinformação — como acreditar que a morte encefálica é reversível ou que o transplante ainda é experimental — está ligada à oposição do profissional de saúde à doação de órgãos, reduzindo as chances de que os órgãos de potenciais doadores sejam efetivamente aproveitados.

Por outro lado, profissionais que acreditam que a doação é um ato de solidariedade, que beneficia a sociedade, traz esperança de vida a outros e conforta as famílias demonstraram maior apoio à prática, contribuindo diretamente para o processo.

Enquanto médicos mostraram grande apoio à doação de órgãos, profissionais como técnicos de enfermagem demonstraram mais dúvidas ou resistência. E mais: quanto maior o nível de escolaridade, maior a chance de apoiar a doação. Ou seja, formação e conhecimento fazem toda a diferença.

Profissionais que se sentem bem-informados sobre como funciona a doação e o transplante são muito mais favoráveis ao processo. Além disso, conhecer a comissão intra-hospitalar de doação também aumenta o apoio, conta Claudia.

O estudo mostrou que gênero, idade, estado civil ou religião não têm relação direta com a atitude dos entrevistados em relação à doação. No entanto, preocupações religiosas e existenciais — como acreditar que o transplante é contra a vontade de Deus ou sentir desconforto com a manipulação do corpo após a morte — estiveram, sim, associadas a atitudes menos favoráveis.

Os participantes do estudo apontaram que a falta de tempo para a manutenção do potencial doador, pouca preparação para o processo e o desgaste emocional ao cuidar de pacientes com morte encefálica também são obstáculos concretos à doação. Esses achados indicam que tanto a sobrecarga emocional quanto limitações institucionais podem dificultar ações relacionadas ao tema. Isso mostra que, mesmo entre profissionais de saúde, é preciso mais apoio institucional e capacitação.

Outro aspecto abordado no levantamento foi a conversa sobre o tema. Ter falado previamente com a família sobre doação — ou ter uma família favorável à prática — aumenta significativamente o apoio dos profissionais ao processo.

O levantamento foi realizado no segundo semestre de 2024, e os dados estão agora sendo finalizados. Para Araújo, o estudo mostra que conhecimento adequado, crenças altruístas, apoio familiar e nível de formação são fatores fortemente associados a uma atitude positiva dos profissionais em relação à doação de órgãos. Por outro lado, medos, desinformações sobre o processo e barreiras práticas ainda limitam o engajamento, indicando que intervenções educativas e institucionais podem ser estratégicas para promover a cultura da doação entre profissionais da saúde.

Este estudo ajuda a revelar quais barreiras ainda persistem e aponta caminhos para melhorar a formação, o apoio institucional e a sensibilização desses trabalhadores que estão na linha de frente da vida e da esperança.

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