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Publicado em: 04/09/2025 | Atualizado em: 04/09/2025

Estudo aponta potencial analgésico do CBG, canabinoide ainda pouco conhecido

Marina Verjovsky

Guilherme Carneiro Montes (à esq.), coordenador do projeto, e o doutorando Bismarck Rezende, primeiro autor do artigo publicado revista Scientia Pharmaceutica (Fotos: Divulgação)

Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) identificou efeitos analgésicos promissores em uma substância ainda pouco conhecida da planta Cannabis sativa, o canabigerol (CBG). Os testes em roedores mostraram alívio de diferentes tipos de dor – incluindo as neuropáticas, de difícil tratamento. O estudo, que teve apoio da FAPERJ, foi publicado na revista Scientia Pharmaceutica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dores persistentes afetam cerca de 30% da população mundial. Ainda é crucial a busca por novos medicamentos eficazes, mas sem os riscos de dependência e efeitos colaterais dos opioides tradicionais.

“A Cannabis sativa contém centenas de compostos. Os mais conhecidos são o tetrahidrocanabinol (THC), responsável pelos efeitos psicoativos, e o canabidiol (CBD), com amplo potencial terapêutico. Menos conhecido, o CBG não tem efeito psicoativo e é precursor químico dos outros canabinoides”, explica o coordenador do projeto, professor Guilherme Carneiro Montes, do Instituto de Biologia da Uerj (Ibrag/Uerj).

O estudo usou roedores com maior sensibilidade à dor devido à hipóxia-isquemia pré-natal, uma condição que simula complicações gestacionais. Foram administradas doses orais de CBG (50 mg/kg), e testados três modelos de dor: térmica, inflamatória e neuropática.

Ao serem colocados sobre uma placa aquecida a 52 °C, os animais tratados demoraram mais tempo para reagir e pular da placa, sugerindo um efeito analgésico central. Já no teste que simula uma picada de formiga, o CBG teve efeito analgésico tanto na fase inicial, aguda, quanto na posterior, inflamatória.

O composto também foi promissor contra a dor neuropática, que pode surgir após lesões em nervos ou na medula espinhal – e muitas vezes refratária a tratamentos. Após dez dias com CBG, os animais tiveram redução significativa na sensibilidade dolorosa, sem efeitos colaterais como sedação ou prejuízos motores, comuns em analgésicos potentes.

“Nossas análises moleculares mostraram que, além de aliviar a dor, o CBG parece interferir em mecanismos que contribuem para a sua persistência crônica”, afirma Bismarck Rezende, doutorando em Fisiopatologia Clínica e Experimental na Uerj e primeiro autor do estudo. “Além disso, vimos que o composto atua por vias diferentes em machos e fêmeas, o que é importante ser considerado em futuras pesquisas e tratamentos", completa.

Mesmo com os resultados animadores, ainda são necessários ensaios clínicos com seres humanos para comprovar eficácia, segurança e formas ideais de administração. No entanto, essas descobertas oferecem perspectivas de futuras terapias mais seguras e eficazes contra a dor, especialmente para pacientes que não encontram alívio nos analgésicos convencionais.

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