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Publicado em: 21/08/2025 | Atualizado em: 21/08/2025

Pesquisa conduzida na Uerj propõe soluções para a restauração da Bacia do Rio Doce

Paula Guatimosim

O rompimento da barragem do Fundão despejou 50 milhões de toneladas de lama e resíduos tóxicos no Rio Doce (Foto: Ascom/Ibama)

Novembro de 2025 marca 10 anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Considerado um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, o rompimento da barragem liberou 50 milhões de toneladas de lama e resíduos tóxicos decorrentes da extração de minério de ferro no Rio Doce, matando 19 pessoas, contaminando plantações, devastando a vida aquática e poluindo a água que serve às comunidades ao longo de 650 quilômetros do rio, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Estima-se que 2,2 milhões de pessoas dependam da Bacia do Rio Doce. 

O Parque Estadual do Rio Doce, com uma extensão de quase 36 mil hectares e uma importante unidade de conservação, foi uma das áreas mais afetadas. Em 2010 recebeu o título de Sítio Ramsar – convenção internacional que aponta as zonas úmidas de maior importância globalmente - por abrigar mais de 40 lagos em toda a sua extensão, sendo o terceiro maior sistema lagunar do Brasil, superado apenas pelo Pantanal e a Amazônia.

Em 2024, a Samarco Mineradora fechou um acordo de repactuação do processo de reparação e compensação pelo rompimento da barragem, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no final daquele ano. O documento foi assinado pela União, pelos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Ministérios Públicos Federal e Estaduais e Defensorias Públicas da União e Estaduais, além de outras autoridades públicas. O acordo definitivo prevê um desembolso de R$170 bilhões pela mineradora para o cumprimento de obrigações passadas e futuras, para atender às comunidades e o meio ambiente impactados pelo rompimento da barragem. 

Uma pesquisa conduzida no Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas (Lece), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), fruto de dissertação de mestrado do biólogo Luiz Conrado Silva, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Uerj, usou a Bacia do Rio Doce como estudo de caso. O trabalho, orientado pela bióloga Aliny Pires, contemplada no Programa Jovem Cientista Mulher com vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, avalia que as iniciativas atuais de restauração na Bacia do Rio Doce podem ser ineficazes no longo prazo se não forem considerados os eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas (chuvas intensas e inundações) e a restauração das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), como topos de morros e matas ciliares. O artigo, intitulado “Adaptative Restoration Planning to Enhance Water Security in a Changing Climate” foi publicado na revista Ambio, vinculada ao Grupo Springer Nature.

Luiz Conrado Silva: para o biólogo, a restauração da vegetação nas APPs pode reduzir os danos causados pelos eventos extremos (Foto: Divulgação)

O biólogo escolheu a Bacia do Rio Doce para estudo de caso com o objetivo de restauração ecológica considerando duas variáveis: serviços ecossistêmicos e diferentes cenários climáticos projetados para 2070. “Entendíamos que as principais ações de mitigação adotadas após o acidente estavam voltadas à recuperação da qualidade da água do rio Doce”, pontua Luiz Conrado. A modelagem utilizou o software de gestão ambiental InVEST (Avaliação Integrada de Serviços Ecossistêmicos), que permite mapear, avaliar e comparar diferentes cenários de uso da terra incluindo variáveis como altitude, cobertura vegetal, granulometria do solo, entre outras, a fim de avaliar os futuros processos erosivos. 

Dois diferentes cenários foram avaliados, o primeiro a partir da situação atual da cobertura vegetal (vegetação nativa, pastagens, áreas cultivadas etc); e o segundo considerando a adoção do Novo Código Florestal (Lei de Proteção à Vegetação Nativa de 2012). Os pesquisadores concluíram que se forem adotadas as diretrizes do Novo Código Florestal, principalmente a restauração da vegetação nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), como nos topos de morros e das matas ciliares (vegetação às margens ou próximas de cursos d'água, como rios, lagos e nascentes), as consequências dos eventos extremos seriam menores. A cobertura vegetal minimizaria o efeito da variável climática sobre o processo de erosão e o possível carreamento de mais resíduos tóxicos para o Rio Doce. 

“Com a restauração das APPs, a exportação de sedimentos pode ser reduzida em até 90%, em algumas áreas”, afirma o pesquisador. O estudo conclui que caso não sejam adotadas essas medidas complementares, há risco de se perder o que já foi feito até agora. “Esperamos que o modelo seja um protocolo replicável para outras regiões. No momento, esperamos poder mostrar os resultados do trabalho a todos os envolvidos, sejam os responsáveis nas mineradoras, os órgãos ambientais ou os governos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo”, conclui Luiz Conrado. 

Para a orientadora do estudo, incorporar as mudanças climáticas no desenho de estratégias de priorização para a restauração é fundamental para garantir seus benefícios de longo prazo. “O clima vai mudar e como consequência a prioridade das áreas a serem restauradas também. Se não desenvolvermos uma estratégia que considere este efeito, podemos focar em áreas menos relevantes para garantir serviços ecossistêmicos estratégicos para este tipo de iniciativa, como é o caso da melhoria da qualidade da água para a bacia do Rio Doce.”, afirma Aliny Pires.

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