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Publicado em: 12/06/2025 | Atualizado em: 12/06/2025

Pesquisa contribui para aproveitamento de imóveis ociosos em habitação popular

Paula Guatimosim

Construção antiga e em condições precárias, no bairro da Glória, abriga 61 famílias (Foto: Francisco Viniegra)

Levantamento feito pelo governo em 2024 identificou 3.213 imóveis não operacionais administrados pelo INSS.  A fim de aproveitar esses imóveis inutilizados da União para moradia e outros fins sociais, como saúde, educação e segurança, o governo federal lançou o Programa de Democratização dos Imóveis da União. O programa pretende dar uma destinação estratégica ao patrimônio público, minimizar o déficit habitacional junto à população em situação de vulnerabilidade social, e reduzir os gastos do INSS com a manutenção desses prédios. À época, do total de 3.213 imóveis, 483 foram considerados elegíveis para o programa, sendo 12 prédios para projetos habitacionais e 471 áreas ocupadas e conjuntos habitacionais a serem regularizados. As unidades constam na portaria conjunta nº13, de 31 de março de 2021. 

Projeto conduzido na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), amparado no tripé pesquisa-ensino-extensão, prevê a prestação de serviço gratuito de Assessoria Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) como prática extensionista e transdisciplinar. A Lei nº 11.888/2008, que instituiu a ATHIS, garante a famílias com renda de até três salários mínimos assistência pública e gratuita em elaboração de projetos, acompanhamento e execução de obras necessárias para a edificação, reforma ampliação ou regularização fundiária de suas moradias em áreas urbanas e/ou rurais. Em 2017, projeto de lei, encaminhado pela vereadora Marielle Franco, estendia esse benefício ao município.

A pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo Maíra Machado Martins, atual coordenadora do Instituto de Estudos Avançados em Humanidades, vinculado ao Decanato do Centro de Teologia e Ciências da PUC-Rio, vem se dedicando ao estudo de imóveis ociosos que são ocupados e da produção do espaço em conjuntos habitacionais e favelas há 18 anos. Naquela época, ela se dedicava à pesquisa sobre os “condomínios populares” da Avenida Brasil. “Há muita casa sem gente e muita gente sem casa”, alega. Um trabalho que ganhou impulso com o Programa Minha Casa Minha Vida – Entidades em 2023[1] (MCMV-Entidades). Destinado ao público-alvo de famílias cuja composição de renda chega a R$ 2.640,00 brutos mensais, a nova edição do Programa ampliou as modalidades de financiamento,  compreendendo a requalificação de imóveis usados, vazios abandonados e subutilizados, situados em áreas urbanas que apresentem infraestrutura, equipamentos e serviços públicos adequados. O programa vem viabilizando a modernização de construções antigas, preservando suas características originais, mas adaptando-as às necessidades e exigências atuais, o chamado retrofit, com provisão de até R$238.000,00 por unidade habitacional.

Mais recentemente, a pesquisadora começou a se dedicar ao estudo desses imóveis subordinados à Secretaria de Patrimônio da União. Em 2023, ela e uma equipe multidisciplinar, que reúne arquitetos e urbanistas, engenheiros civis, advogados, cientistas sociais e assistentes sociais, passaram a se dedicar ao estudo de ocupação de imóvel da União no bairro da Glória. O casarão antigo onde funcionou, no início do século XX, o Hotel Moderno, hoje propriedade da União, abriga 61 famílias, sendo que algumas ali residem há mais de 20 anos. A equipe verificou o estado e os riscos que a construção apresentava na estrutura, telhado, piso etc. Os assistentes sociais, por sua vez, aplicaram questionários junto aos usuários a fim de levantar suas necessidades e hábitos coletivos e individuais, além de sua relação com a cidade. Os pesquisadores ainda recuperaram e digitalizaram as plantas do imóvel, e com Auxílio da tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging) “escanearam” o imóvel criando um modelo tridimensional para estudos de projeto de reforço estrutural e de instalações hidrossanitárias e elétrica.

Maíra Machado Martins: para a pesquisadora, 'há muita gente sem casa e muita casa sem gente' (Foto: Arquivo Pessoal)

Contemplada no Programa de Apoio às Cientistas Mães com vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, muitas vezes Maíra precisou levar sua filha pequena para o trabalho, que normalmente acontece aos sábados. “Acho importante que ela conheça a realidade da cidade em que vive, que tenha conhecimento das desigualdades e injustiças sociais”, alega a mãe de Alice, que hoje, aos 11 anos, prefere os programas comuns à pré-adolescência, na companhia de amigas.

Maíra ressalta a importância da Universidade e dos editais da FAPERJ para viabilização dos projetos.  No caso da Fundação, os recursos serão utilizados para a montagem do Colabis – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão em Projeto e Práticas Colaborativas de Interesse Social, reunindo a equipe multidisciplinar, além da aquisição de material para a realização de oficinas com as comunidades. A pesquisadora participou do lançamento do programa no Palácio Guanabara, em março passado. “Foi muito emocionante presenciar o lançamento de um edital que apoia políticas afirmativas e reparadoras”, afirmou. 

O projeto já conta com dois estudantes de mestrado e uma de graduação desenvolvendo pesquisas no tema da assessoria, a partir da prática extensionista. Com os projetos, os pesquisadores esperam ainda formar recursos humanos, tanto na graduação quanto na pós-graduação, com especialidades e experiências no campo da habitação popular e da ATHIS;  gerar produção acadêmica e divulgação das pesquisas que são realizadas nos Laboratórios da PUC-Rio; contribuir com a produção acadêmica sobre o tema da apropriação do espaço e do habitar, sobretudo na sua articulação com as práticas de extensão no ensino e na pesquisa com pesquisadores de outras instituições e parceiros internacionais. Ainda este ano, Maíra pretende publicar o livro “De fábricas a Condomínios Populares”, que detalha a pesquisa sobre ocupações às margens da Av. Brasil, trabalho que originou projeto recentemente contemplado, e que também recebeu apoio da FAPERJ por meio do edital de Apoio à Editoração.

[1] Instrução Normativa nº 28, de 04/07/2023

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