Linguagem Libras Facebook X Intagram YouTube Linkedin Site antigo
logomarca da FAPERJ
Compartilhar no FaceBook Tweetar Compartilhar no Linkedin Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Email Imprimir
Publicado em: 29/05/2025 | Atualizado em: 30/05/2025

Empresa americana negocia licenciamento do luminol da UFRJ para controle de contaminação hospitalar

Cristina Cruz

Teste com o luminol patenteado pela UFRJ: substância fluorescente indica resíduos de sangue e pode ser utilizada para monitorar a higienização de hospitais, com o objetivo de reduzir focos de contaminação (Foto: Patrick Viegas) 

A empresa americana Belcher Pharmaceuticals, com sede na Flórida, está em negociações com a Agência UFRJ de Inovação para licenciar a patente do luminol desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Usado desde 2002 pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na elucidação de homicídios, o produto agora poderá ser adaptado para detectar resíduos hemáticos em ambientes hospitalares, com o objetivo de reduzir a contaminação por microrganismos patogênicos.

A proposta de licenciamento internacional prevê o uso do luminol como ferramenta de verificação dos protocolos de higienização em hospitais e centros de saúde. A expectativa é que a tecnologia possa contribuir para o controle de infecções, especialmente em ambientes críticos como centros cirúrgicos, CTIs, salas de hemodiálise e de esterilização de materiais.

Do laboratório da UFRJ para hospitais ao redor do mundo

Segundo o professor Cláudio Cerqueira Lopes, do Instituto de Química da UFRJ, responsável pelo desenvolvimento da fórmula nacional, o potencial do luminol vai além das perícias criminais. “O luminol pode identificar sangue oculto em áreas hospitalares, garantindo um controle rigoroso da limpeza. Em um cenário onde infecções hospitalares causam cerca de 100 mil mortes anuais no Brasil, sua aplicação pode representar um avanço significativo na segurança dos pacientes”, afirma o pesquisador.

Nos Estados Unidos, França e Holanda, o uso do luminol como verificador da limpeza hospitalar já demonstrou resultados expressivos na redução de infecções. A versão brasileira, no entanto, apresenta diferenciais técnicos que despertaram o interesse do mercado internacional.

Produto nacional tem durabilidade superior

O presidente da Belcher no Brasil, Emanuel Katori, afirma que o produto nacional é superior aos importados em diversos aspectos. “O luminol da UFRJ é o melhor do mundo. Ele tem rendimento elevado, não gera resíduos tóxicos e permanece ativo por até seis meses após aberto. Em comparação, os similares disponíveis no mercado internacional duram, em média, apenas duas horas”, diz Katori.

O contrato em negociação prevê o investimento de R$ 4,5 milhões por parte da empresa para obter o direito de exploração da patente por dez anos. A universidade será beneficiada com o recebimento de royalties sobre as vendas futuras.

Fomento público garantiu desenvolvimento da tecnologia 

A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, lembra que o desenvolvimento do luminol só foi possível graças ao apoio da Fundação, que financiou as pesquisas e toda a produção até então. “Esse é um exemplo claro de como o investimento em ciência e inovação pode gerar impacto real na sociedade. O luminol, que já auxilia a perícia criminal, agora tem potencial para salvar vidas ao reduzir a contaminação hospitalar. Nosso compromisso é continuar fomentando pesquisas que tragam benefícios concretos para o país e para o mundo”, afirma Caroline.

O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado, Anderson Moraes, também destaca o papel do financiamento público. “Esse tipo de inovação é a prova de como a ciência pode transformar realidades, tanto na área criminal quanto na saúde. Estamos falando de um trabalho que pode salvar vidas e contribuir para a segurança pública”, afirma.

Responsável pelo desenvolvimento da fórmula nacional, Cláudio Lopes, da UFRJ, ressalta que o luminol pode ser um aliado para mitigar as infecções hospitalares, que causam cerca de 100 mil mortes anuais no País (Foto: Patrick Viegas)

Novos usos ampliam atuação do luminol na perícia

Além da possível aplicação hospitalar, o luminol da UFRJ passou por aprimoramentos recentes que ampliaram sua utilidade em investigações forenses. As novas pesquisas possibilitaram o desenvolvimento de uma técnica que quantifica a concentração de sangue em cenas de crime. “Criamos essa tecnologia para que a polícia possa determinar, com exatidão, que uma vítima está morta apenas pela quantidade de sangue encontrada no local – seja dentro de uma casa, de um carro ou em qualquer outra cena de crime”, explica Cláudio.

Outra inovação permite estimar o tempo de morte da vítima com base nas características da reação do luminol. Essa possibilidade tem sido importante para a identificação de corpos em cemitérios clandestinos ou em investigações mais complexas.

Alta sensibilidade e precisão na cena do crime

A perita criminal Paula de Freitas de Moraes, que atua na aplicação da substância em cenas de crime, destaca a intensidade e durabilidade da reação química como elementos essenciais para o trabalho pericial. “A quimioluminescência do luminol da UFRJ é intensa e prolongada, o que facilita a documentação fotográfica da cena do crime. Isso é fundamental para garantir a integridade dos laudos periciais”, comenta.

Segundo a perita, o produto é eficaz mesmo em concentrações muito baixas de sangue e pode ser aplicado em superfícies de difícil acesso, como rejuntes e estofados. “Mesmo que alguém tente limpar o local, o luminol revela até os menores traços de sangue, o que é crucial para a elucidação de crimes”, afirma.

A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, e o secretário estadual de C,T&I, Anderson Moraes, destacam que a tecnologia do luminol tem potencial para gerar impactos diretos à sociedade nas áreas da segurança pública e saúde (Fotos: Divulgação)

Parceria entre ciência e segurança pública

O perito criminal Diego Risse, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, também destaca a importância da tecnologia no trabalho de campo. “A base do nosso trabalho, apesar de estarmos em uma instituição policial, é a ciência. A aplicação de técnicas científicas, como o uso do luminol, é fundamental para garantir a precisão dos resultados e a resolução dos casos. O luminol, por exemplo, tem sido essencial na identificação de vestígios de sangue que de outra forma seriam impossíveis de detectar, especialmente em locais onde o sangue foi limpo ou disfarçado”, afirma.

Risse também reforça a importância da colaboração entre a polícia e a academia. “Nossa parceria com o Lasape-IQ-UFRJ, por meio do desenvolvimento do luminol, tem sido fundamental para o avanço das técnicas de investigação. A constante atualização das técnicas, com o apoio de universidades e órgãos de fomento como a FAPERJ, tem sido essencial para garantir que nosso trabalho seja cada vez mais eficaz”, completa.

Ciência feita no Brasil, com impacto global

Caso o licenciamento seja concluído, o luminol da UFRJ poderá se tornar uma tecnologia estratégica tanto para a segurança pública quanto para a saúde, com aplicação global. Para a universidade e seus parceiros, é também uma demonstração de como o conhecimento científico gerado localmente pode atingir novos patamares e beneficiar a sociedade em diversas frentes.

As atividades realizadas pelo Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos da UFRJ (Lasape/UFRJ) já foram tema de um vídeo produzido pelo Canal de Divulgação Científica da FAPERJ no YouTube.

Veja também (FAPERJ no YouTube): Laboratório da UFRJ produz kits que ajudam a elucidar crimes

Topo da página