Claudia Jurberg
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Trabalho de parte do grupo coordenado por Eliane Cipolatti na UFRRJ: aproveitamento sustentável do abacate (Fotos: Divulgação) |
Um grupo de cientistas das Américas está focado no reaproveitamento de resíduos oriundos do processamento de matrizes agroindustriais. A pesquisa avalia as potencialidades do uso da farinha da semente do abacate para obtenção de uma enzima fundamental para a indústria, a lipase.
A pesquisadora Eliane Pereira Cipolatti, que desenvolve seus estudos com recursos da FAPERJ, por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, explica que a lipase pode ser adquirida comercialmente, mas seu alto custo, muitas vezes, inviabiliza a aquisição. Uma alternativa mais econômica, sustentável e, em certos casos, inovadora, é a produção de lipases por meio de resíduos da agroindústria associados a microrganismos como os fungos Rhizopus oryzae e Aspergillus oryzae.
Como é o processo? Os microrganismos requerem uma fonte de lipídios e a farinha de abacate, que é extraída da semente, é então utilizada como essa fonte, pois ainda contém vestígios de lipídios, o que a torna uma opção viável nesse processo. Essa abordagem não apenas promove o aproveitamento da farinha proveniente da semente do abacate, mas também contribui para a sustentabilidade, pois diminui o descarte do fruto. Cerca de 18% do peso do abacate corresponde à semente, gerando, assim, um problema em relação ao seu descarte.
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Eliane aposta na produção inovadora da lipase por meio de resíduos da agroindústria, como a farinha da semente do abacate, associados a microrganismos |
"A lipase desempenha um papel vital na inovação e eficiência de diversas indústrias. O uso da lipase ocorre na produção de biodiesel, onde catalisa a transformação de óleos em ésteres que darão origem ao biocombustível. Também é amplamente utilizada na indústria alimentícia para melhorar a textura e o sabor de produtos, como queijos e pães. Na indústria farmacêutica, a lipase pode auxiliar na digestão de lipídios e na formulação de medicamentos. No caso do nosso grupo, estamos estudando compostos antioxidantes vitais para o organismo", explica Eliane.
O projeto apoiado pela Fundação conta com 15 pesquisadores brasileiros e peruanos que, até o momento, conseguiram verificar o potencial da farinha da semente do abacate na obtenção dos antioxidantes, mas Cipolatti comenta que esses compostos podem se desestabilizar em algumas condições do ambiente, como elevada temperatura, e que processos de estabilização podem ajudar no seu uso, mantendo suas qualidades originais.
Brasil e Peru estão entre os cinco maiores produtores mundiais do abacate. A produção de abacate no Brasil ultrapassa as 338 mil toneladas, já a do Peru ultrapassa as 550 mil toneladas. Pensar em soluções e novas tecnologias para o aproveitamento de matrizes que poderão contribuir diretamente com a economia do País e de países-irmãos, como é o caso do Peru, poderá alavancar nossa economia e valorizar o papel das mulheres latinas no desenvolvimento da sociedade.