Paula Guatimosim
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Com oito títulos da Copa América e três medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos, a seleção feminina de futebol do Brasil ainda não conseguiu um titulo de Copa do Mundo. No seu melhor resultado na competição, foi vice-campeã em 2007, na China (Foto: Divulgação/CBF) |
O Brasil será sede da Copa do Mundo Feminina de Futebol FIFA em 2027. Pela primeira vez um país da América do Sul sediará este megaevento esportivo. Tal oportunidade, gera a necessidade de estudos que apoiem a estruturação e o preparo das cidades sedes. Doutora em Turismo na Universidade de Aveiro (Portugal), coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Turismo e professora do Programa de Pós-Graduação em Administração da Unigranrio Afya, Paola Lohmann está desenvolvendo o projeto intitulado “O modelo de quádrupla hélice como instrumento de inovação no contexto dos megaeventos esportivos: aplicação prática na Copa do Mundo Feminina de Futebol - 2027 no Brasil”. A proposta tem como principal objetivo estimular a interação entre a universidade, o setor público, o setor privado e a sociedade civil, em prol do melhor aproveitamento das oportunidades que podem ser geradas a partir da realização deste megaevento no País.
A pesquisadora ressalta que os megaeventos geram efeitos econômicos, culturais e políticos significativos no curto, médio e longo prazos nas cidades sedes, principalmente porque há desenvolvimento de diferentes áreas, tais como infraestrutura urbana, transporte, tecnologia, comunicação e esporte, propiciando o aumento do turismo, a divulgação da imagem da cidade e do país sede, o que possibilita a atração de capital antes, durante ou após o evento. E há de se trabalhar uma agenda de inovação, empreendedorismo, diversidade, saúde e bem-estar.
A metodologia da pesquisa inclui a coleta de dados primários; quantitativa, junto a residentes nas cidades sedes, antes da realização do megaevento; e uma pesquisa qualitativa, junto a diferentes atores, englobando representantes de universidades, governo, gestores privados e sociedade civil (residentes e turistas) no Rio de Janeiro. “A interação entre esses atores é fundamental para a inovação de um destino, segundo os conceitos da quádrupla hélice”, esclarece Paola. Uma das pesquisas inclusive já está em fase de coleta de dados por meio do link: https://pt.surveymonkey.com/r/Copa_Feminina.
Segundo a pesquisadora, o trabalho pretende ainda estudar formas de minimizar os impactos negativos decorrentes de megaeventos esportivos, como a má gestão dos recursos públicos e as obras inacabadas, por exemplo. Para desenvolver seu projeto, Paola, mãe de Mateus, foi contemplada no Programa de Apoio às Cientistas Mães com vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, uma parceria entre a FAPERJ e o Instituto Serrapilheira, com apoio do movimento Parent in Science, que busca reduzir o impacto da maternidade sobre as atividades acadêmicas.
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Em Duque de Caxias, território onde está situada a universidade Unigranrio, o projeto 'Daminhas da Bola' valoriza a participação feminina no futebol (Foto: Divulgação) |
Paola explica que o estudo também prioriza as pautas femininas, a fim de inserir mais mulheres na organização do megaevento. “Chuteira Rosa”, como foi batizada uma das iniciativas do projeto, pretende estimular mais mulheres atuando no futebol, dentro e fora do gramado, não apenas nos times e nas demais funções nos jogos, como também fora dos estádios, como agente esportivo, cinegrafista, advogada, médica, fisioterapeutas, designer, especialista em tecnologia da informação, entre outras (veja o infográfico). “O próprio futebol feminino vem ganhando espaço na mídia e no coração dos brasileiros”, alega a pesquisadora, que defende a mudança do mindset, que valoriza formar jogadores de futebol em detrimento das demais atividades ligadas ao esporte. Segundo ela, mais de 50 profissões já foram mapeadas pelo “Chuteira Rosa”. A cada partida, seja na modalidade masculina ou feminina, estão envolvidos profissionais com diferentes expertises para que o grande espetáculo aconteça.
A própria energia sustentável, que a cada dia é mais fundamental, poderá contar com novidades de soluções desenvolvidas no País, como, por exemplo, os dispositivos móveis de recarga para melhor experiência nos estádios da @energy2gobrasil, empresa que contou com o apoio da FAPERJ por meio do Programa de Apoio à Inovação em Micro, Pequenas e Médias Empresas no Estado do Rio de Janeiro (InovAÇÃO RIO), em 2021.
“Hoje, o celular é utilizado para efetuar pagamento, acessar ingresso, apresentar documento de identificação, utilizar transporte aéreo, terrestre (público ou de aplicativo), reservar hospedagem, compartilhar experiência em redes sociais e cada vez vai agregar ainda mais funcionalidades”, lembra Paola. “E vivenciar um evento estando conectado gera inclusive mais possibilidades e segurança ao espectador”, acrescenta.
“O objetivo principal deste estudo é detectar oportunidades e, de forma conjunta, fomentar o empreendedorismo”, diz a pesquisadora, ressaltando que todas as metas do trabalho estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que incluem metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, especialmente: Implementação de parcerias (ODS7), Geração de Trabalho e Renda (ODS8), Saúde e Bem-estar (ODS 3), Igualdade de Gênero (ODS5), Inovação (ODS9). Paola defende ainda a oferta de opções de alimentação saudável dentro e fora dos estádios (mesmo que seja ao lado das grandes redes de fast food, que costumam patrocinar os eventos), além de prática de preços inclusivos e responsáveis, o incentivo ao uso de “transporte limpo”, como bicicletas (inclusive com opções elétricas), a redução do lixo por meio da educação e o uso da imagem do esporte como veículo de educação para a promoção da saúde e bem-estar.
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Paola Lohmann: projeto da pesquisadora visa identificar oportunidades que podem ser geradas a partir da realização da Copa do Mundo de futebol feminino no País em 2027 (Foto: Divulgação) |
“A FAPERJ vem apoiando a promoção e o desenvolvimento de projetos de Indicação Geográfica (IG) junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e eu acredito que esta seja uma oportunidade única para colocarmos muitos destes produtos na vitrine do País”, afirma Paola. “Sejam aqueles que já estão estruturados para atender a uma demanda regional, sejam os que estão sendo comercializados no mercado nacional ou em vias de internacionalização. Eu percebo que a Copa de Futebol Feminino tem tudo para deixar a sua marca, valorizando o que é produzido no Brasil, de forma integrada com as diferentes culturas”, reforça ela.
Neste momento, a pesquisadora está iniciando a articulação de ações com organizações em Duque de Caxias, território onde está situada a universidade Unigranrio, discutindo diferentes pautas, tais como a de conectividade, junto a 2Flex Telecom (@2flextelecom); futebol feminino, com a Daminhas da Bola (@soudaminhas) e projetos de leis de incentivo ao esporte, com o Instituto Brasileiro de Capacitação e Desenvolvimento Social (@ibcadsoficial).
Paola, que desde o seu doutorado se dedica ao estudo da inovação do turismo e dos megaeventos esportivos, esteve na Copa do Mundo do Qatar, em 2022, desenvolveu estudos relacionados à Copa do Mundo no Brasil, em 2014, aos Jogos Olímpicos em Paris, em 2024, e no Rio, em 2016. “Esta falta de interação entre os diferentes setores é recorrente em megaeventos esportivos. E neste momento estou dando continuidade ao trabalho iniciado com a professora Dra. Deborah Zouain (in memoriam), juntamente com a pesquisadora Kaarina Virkki, diz Paola. “Cada vez mais devemos estimular pesquisa e desenvolvimento, e levar este conhecimento para a sociedade”, afirma ela. Aos seus alunos de Mestrado e Doutorado que acham que a dissertação e a tese são as principais entregas dos respectivos cursos, Paola alerta: “Esses resultados registram não o fim, mas sim o início da trajetória acadêmica e profissional”.