Débora Motta
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Detalhe da interface do app Shaped: com auxílio da Inteligência Artificial, aplicativo oferece opção acessível para mensurar de forma remota a composição corporal (Imagem: Reprodução/Shaped) |
Uma jovem empresa criada a partir do apoio da FAPERJ, por meio do edital Doutor Empreendedor, desenvolveu uma tecnologia inovadora, que utiliza a inteligência artificial para analisar, à distância, a composição corporal, por meio de fotos capturadas pelo celular, com alta precisão dos resultados. Trata-se do aplicativo Shaped, capaz de fornecer, de forma remota, prática e econômica, dados como os percentuais de gordura, de massa gorda e magra, e os perímetros corporais da pessoa analisada (circunferências de braço, cintura e quadril).
O app é destinado a trabalhadores da Saúde, como nutricionistas, profissionais da Educação Física, fisioterapeutas e médicos, que podem assinar o serviço e utilizar a ferramenta online para mensurar os dados corporais dos seus pacientes. “O software se integra a imagens capturadas por smartphones, possibilitando a realização de avaliações remotas. Ele abre novas perspectivas para a democratização do monitoramento da saúde ao oferecer uma ferramenta precisa, de baixo custo e de fácil acesso, para tornar essas avaliações mais acessíveis a uma ampla faixa da população. Além disso, estamos desenvolvendo novos algoritmos para a predição de doenças crônicas, com base em grandes volumes de dados coletados por meio da plataforma”, explicou o sócio-fundador da startup Shaped, Luiz Lannes.
A ideia de fundar a empresa surgiu quando ele era aluno de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGN/UFRJ), e desenvolvia seu projeto de pesquisa sob orientação da professora e nutricionista Anna Paola Pierucci, coordenadora do Laboratório de Desenvolvimento de Alimentos para Fins Especiais e Educacionais (LabDAFEE). Ela desenvolve seus estudos por meio do programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e o laboratório vem recebendo, ao longo dos anos, recursos da Fundação para melhorias de infraestrutura. “Nós trabalhávamos em uma pesquisa sobre a saúde de atletas de elite, que tinham dificuldades de comparecer aos testes presenciais para avaliação física. Durante o isolamento social na pandemia, senti uma necessidade maior ainda de criar um meio de mensurar a composição corporal deles de forma remota”, resumiu Lannes.
Partindo dessa necessidade, ele se associou ao engenheiro Gabriel Bandeira Holanda, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), para criar o algoritmo do Shaped, capaz de interpretar imagens capturadas por dispositivos móveis. “Gabriel desenvolveu, especialmente para a nossa empresa, um software que utiliza algoritmos de Inteligência Artificial, pelo qual o profissional de saúde cadastra os pacientes e estes tiram a foto em casa, fornecendo instantaneamente a avaliação, com dados sobre massa magra, massa gorda e os perímetros corporais. Mais de cinco mil pacientes já foram analisados”, contou Lannes. “Resolvi criar a empresa Shaped assim que fui contemplado no edital Doutor Empreendedor, da FAPERJ, em 2019. Foi a grande motivação para começar a empreender nesse ramo”, detalhou.
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A partir da esq., a equipe reunida no LabDAFEE, na UFRJ: Anna Paolla Pierucci, os bolsistas da FAPERJ Angélica Ignacio e Rudson Ribeiro, Tathianny Jessica, Luiz Lannes e a doutoranda Carolina Pessanha (Foto: Divulgação/UFRJ) |
Exemplo bem-sucedido de diálogo entre a universidade e o setor empresarial, a startup Shaped emprega hoje diversos pesquisadores – alguns inclusive são da UFRJ e bolsistas da FAPERJ –, absorvendo profissionais com alta qualificação e formação acadêmica. O projeto se tornou tema da tese de Doutorado da pesquisadora e nutricionista Tathiany Ferreira, que foi colega de Lannes na UFRJ e também teve como orientadora Anna Paola Pierucci, no LabDAFEE. Colhendo bons frutos do trabalho, ela publicou recentemente um artigo na renomada revista científica NPJ – Digital Medicine, do grupo Nature, intitulado Advances in the estimation of body fat percentage using an artificial intelligence 2D-photo method.
No estudo, Tathiany, que é bolsista no Programa Pesquisador na Empresa, da FAPERJ, comparou diferentes métodos e equipamentos utilizados tradicionalmente para análise da composição corporal com a metodologia inovadora do Shaped. “Por meio da análise comparativa de 1.273 voluntários adultos, de ambos os sexos, chegamos à conclusão que os resultados da mensuração pelo método Shaped são comparáveis aos resultados obtidos no tradicional teste de densitometria óssea (DXA), o equipamento mais difundido e considerado o padrão-ouro para mensurar a composição corporal. Mas o acesso ao DXA é pago, em um exame encontrado em clínicas particulares, e esse equipamento não está disponível em todas as cidades, para a ampla maioria da população brasileira, enquanto o Shaped surge no mercado como uma opção mais simples e prática para estimar o percentual de gordura corporal, com a vantagem de ser realizado à distância”, disse.
A professora Anna Paola Pierucci comemora os desdobramentos das pesquisas dos seus ex-orientandos. “Fico feliz que esse projeto tenha surgido a partir da rotina de trabalho de Lannes e Tathiany no LabDAFEE. O Shaped vem para popularizar a avaliação da composição corporal, e os dados coletados vão certamente ajudar na formulação de políticas públicas em Saúde, especialmente na questão da obesidade. Ele pode se tornar uma ferramenta importante para ajudar a construir uma grande base de dados sobre a composição corporal da população brasileira, que servirá como base para diversos estudos, sobre diferentes aspectos da saúde”, concluiu.