Marina Verjovsky
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De acordo com o estudo, os materiais permanentes, como o PMMA (polimetilmetacrilato) e silicone, foram os mais associados a reações graves e duradouras após os procedimentos de preenchimento labial (Foto: Lookstudio/Freepik) |
Os preenchimentos labiais, vendidos como procedimentos minimamente invasivos, têm conquistado popularidade nos últimos anos. No entanto, um novo estudo, liderado por Fábio Ramoa Pires, dentista e patologista bucal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), alerta sobre complicações que podem surgir até 20 anos após o procedimento.
A pesquisa, publicada na revista Oral Diseases, envolveu oito instituições de países como Brasil, México e Espanha. Com apoio da FAPERJ, a equipe reuniu e analisou amostras de 151 pacientes com reações adversas crônicas de longo prazo causadas por materiais usados nos preenchimentos, desde os temporários, como o ácido hialurônico, até os permanentes, como o polimetilmetacrilato (PMMA) e o silicone. Trata-se do maior número de casos do tipo já relatados em revistas especializadas. O objetivo foi oferecer um panorama para ajudar profissionais de saúde a aprimorarem diagnósticos e tratamentos, pois esse tipo de reação ainda é pouco descrita na literatura médica e odontológica.
A maioria dos pacientes desenvolveu nódulos entre 2 e 60 milímetros, que aparecem em média 1 ano e meio após os procedimentos, com variação de 6 meses até 20 anos. Eles eram assintomáticos em 74% dos casos, o que pode retardar a busca por ajuda médica. Esses nódulos são causados por acúmulos de células de defesa do corpo que tentam absorver os materiais, mas acabam presas no local da lesão – um processo que resulta em danos celulares de intensidades variadas.
Os materiais permanentes, como o PMMA (polimetilmetacrilato) e silicone, foram os mais associados a reações graves e duradouras. Mas, mesmo os temporários, como o ácido hialurônico, não estão isentos de risco e foram responsáveis por 12% dos casos estudados.
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Fábio Ramoa Pires: patologista bucal liderou equipe responsável pela pesquisa (Foto: Divulgação) |
No entanto, o pesquisador afirma que ainda é um desafio atribuir exatamente os tipos de reações a cada um dos materiais. “Às vezes o profissional usa mais de um material no preenchimento, ou o paciente já fez mais de um procedimento com tipos diferentes. Além disso, estão constantemente sendo criados materiais novos, que causam reações ainda não tão documentadas”.
Outro desafio é a falta de informações na hora do diagnóstico. “Muitos pacientes não mencionam os procedimentos estéticos durante as consultas com os profissionais de acompanhamento”, ressalta o pesquisador. “Isso é muito grave, pois os nódulos formados nos tecidos profundos da boca podem ser confundidos com outras condições inflamatórias, tumores benignos ou até tumores malignos. Saber a causa do problema faz toda a diferença no tratamento e no prognóstico".
O estudo reforça a importância de uma abordagem criteriosa na realização de preenchimentos labiais. É importante consultar profissionais qualificados e realizar acompanhamento contínuo. “A principal mensagem é a necessidade de acompanhar os pacientes após a aplicação e contribuir para ampliar o conhecimento sobre as reações adversas para médicos e dentistas responsáveis pelos procedimentos. Também é importante alertar as pessoas que esses procedimentos não são isentos de risco, seja a curto ou longo prazo", completa.