Linguagem Libras Facebook X Intagram YouTube Linkedin Site antigo
logomarca da FAPERJ
Compartilhar no FaceBook Tweetar Compartilhar no Linkedin Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Email Imprimir
Publicado em: 24/03/2022 | Atualizado em: 24/03/2022

Projeto na UENF estuda os efeitos das mudanças climáticas na Mata Atlântica

Paula Guatimosim

Área alagada que integra a Reserva Biológica União, UC onde as pesquisas serão conduzidas (Fotos: Paulo Augusto Ferreira)

A certeza de que as mudanças climáticas provocarão eventos cada vez mais extremos, como chuvas mais volumosas na estação das águas e períodos de secas mais intensos e persistentes está mobilizando pesquisadores a investigarem como a flora e a fauna da Mata Atlântica reagirá a essas alterações. A bióloga Angela Pierre Vitória, credenciada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) é uma das pesquisadoras que vem se dedicando a esse estudo. Seu projeto “Restauração da floresta Atlântica: estrutura florística, funcional e interações de polinização no único bioma do Rio de Janeiro”, contemplado no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional no RJ, da FAPERJ, pretende identificar algumas espécies vegetais da Floresta Atlântica que serão mais vulneráveis e outras mais tolerantes às mudanças climáticas.

A Mata Atlântica é um dos 36 hotspots mundiais de biodiversidade (área considerada reserva de biodiversidade, mas com graves ameaças de conservação) e um dos três mais vulneráveis às mudanças climáticas. É o único bioma do estado do Rio de Janeiro, assim como de Santa Catarina. Os demais estados brasileiros e o Distrito Federal possuem mais de um bioma. Angela explica que as ações para sua preservação e/ou restauração são urgentes para manter os serviços ecossistêmicos florestais. Entre esses serviços estão fornecimento de água, sequestro de carbono, regulação da temperatura, abrigo de polinizadores.

O estudo dos atributos da folha e da madeira de espécies da Mata Atlântica revelarão sua capacidade de ajuste às mudanças climáticas

O estudo será conduzido na Reserva Biológica União, uma Unidade de Conservação (UC) com mais de 7,7 mil hectares, criada para preservar um importante fragmento de Mata Atlântica de baixada, que abrange os municípios de Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Macaé. A Reserva é território do mico-leão-dourado, da família Callitrichidae e gênero Leontopithecus, um primata endêmico do Brasil que ocorre apenas no bioma Mata Atlântica, no estado do Rio de Janeiro. A reserva possui áreas onde ocorreu manejo florestal com remoção de eucaliptos, o que ‘mimetizaria’ condições mais adversas como as das mudanças climáticas, tais como períodos secos como maiores temperaturas, menor disponibilidade de água no solo e na atmosfera.

Angela vai se dedicar ao estudo dos atributos funcionais da folha e da madeira das espécies que compõem a Mata Atlântica, a fim de identificar suas características e sua capacidade de ajuste às mudanças climáticas. “Atributos foliares e da madeira podem se ajustar às variações abióticas através de processos como plasticidade e integração, permitindo a manutenção das plantas no ambiente”, esclarece a pesquisadora. Segundo ela, frequentemente espécies com atributos mais integrados são mais aptas a tolerar condições abióticas estressantes, como as que estão surgindo pelas mudanças climáticas. Por serem mais ‘resistentes’, essas espécies são importantes para serem usadas em áreas de restauração florestal.

A perda da biodiversidade vegetal da floresta pode comprometer a dinâmica da ciclagem de nutrientes no solo e torná-lo pobre. Angela dá o exemplo da fixação simbiótica de Nitrogênio no solo, que depende de algumas plantas como, por exemplo, as da família leguminosas, entre elas o feijão e árvores nativas como o Angico e o Pau-Brasil, que possuem bactérias simbióticas em suas raízes e são capazes de fixar nitrogênio no solo. Se grande número de espécies com esta função for vulnerável às mudanças climáticas, isso pode afetar a produtividade da floresta. Outra consequência da vulnerabilidade de algumas espécies, conforme a pesquisadora, pode se traduzir na indisponibilidade de flores e frutos ao longo do ano, o que afeta a oferta de alimento para a fauna. “Na floresta, as espécies florescem e frutificam em períodos diferentes do ano, garantindo, assim, alimento (flores e frutos) para os animais durante maior parte do ano”, esclarece a bióloga.

A perda da biodiversidade vegetal pode comprometer a dinâmica da ciclagem de nutrientes no solo, afirma Angela Vitória 

Além de Angela, que se dedica à Botânica Funcional (ou ecofisiologia vegetal), ou seja, o estudo da folha e da madeira das espécies vegetais da Mata Atlântica, a equipe do projeto é composta por mais três pesquisadores da UENF: a bióloga Maria Cristina Gaglianone, Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, que irá se dedicar ao estudo dos polinizadores, em especial as abelhas nativas e suas interações na Mata Atlântica, a bióloga Dora Villela que investigará os efeitos das mudanças climáticas sobre os ciclos biogeoquímicos (ciclagem de nutrientes) da Mata Atlântica e o biólogo Marcelo Trindade Nascimento, que também conta com bolsa do programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ e irá estudar a estrutura florística da floresta.

Segundo a pesquisadora, o projeto também tem entre seus objetivos melhorar a infraestrutura de pesquisa em ecologia na UENF; apoiar a equipe multidisciplinar para avaliar a eficiência da restauração florestal no restabelecimento da sua estrutura florística, funcional e de interações de polinização na Mata Atlântica; e gerar conhecimento e formar recursos humanos na área de ecologia, garantindo acesso aos serviços ecossistêmicos da floresta para as atuais e futuras gerações. A pesquisadora, que atualmente é assessora internacional e institucional da UENF, explica que os resultados gerados contribuirão para responder importantes questões ecológicas, ampliar o conhecimento sobre funcionalidade da Mata Atlântica, e servir como modelo para subsidiar práticas de restauração em todo o bioma, restaurando serviços ecossistêmicos e melhorando assim a qualidade de vida da população.

Topo da página