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Publicado em: 15/08/2024 | Atualizado em: 23/08/2024

Inovação na indústria é tema do 1º dia de palestras no estande da FAPERJ

Marcos Patricio e Paula Guatimosim

Jerson Lima: o presidente da FAPERJ esteve na estande da Fundação, onde incentivou os jovens a se interessarem pela ciência (Foto: Marcos Patricio)

A professora Isalira Peroba abriu as palestras programadas para o estande da FAPERJ no primeiro dia da 4ª edição da Rio Innovation Week, apresentando os resultados do projeto “Encontro Científico: Colégio Estadual José Martins da Costa - São Pedro da Serra e UFRJ - parceria eterna”. O colégio obteve o melhor resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para a segunda etapa (anos finais) do Ensino Fundamental entre as escolas estaduais de Nova Friburgo. Contemplado no edital de “Apoio à Melhoria das Escolas da Rede Pública Sediadas no Estado do Rio de Janeiro”, o projeto de extensão levou cerca de 20 alunos para a apresentação na Rio Innovation Week. Isalira, que coordena os projetos do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio/UFRJ), contou que a primeira atividade realizada na escola com recursos do edital foi a construção de um laboratório para as aulas práticas de ciências e também para sediar os cursos de férias do Cenabio. Em 2015, o projeto viabilizou a construção da biblioteca e desde 2018 promove feiras de ciências, que inicialmente eram restritas à escola, mas, depois, com a ajuda de parceiros, passou a ser realizada em praça pública, agregando outras escolas e o público em geral. Em 2023, a escola conquistou autonomia e ela própria realizou a feira de ciências. Outra atividade anual do projeto é levar os alunos para uma visita ao Cenabio. O projeto ainda criou oficina de cinema, laboratório de arte e computação e participa dos projetos “Água para o Futuro”, que monitora a bacia do Rio Macaé; e “Colégio Lixo Zero”, que estimula a reciclagem e distribui coletores por toda a cidade. “O projeto minimiza as dificuldades comuns de uma escola pública, nos inspirando e ampliando nossos horizontes. Com ele, temos certeza de que o mundo não está restrito ao conteúdo do quadro negro”, disse a estudante Maria Joana Velasco Azevedo, de 18 anos. O presidente da FAPERJ, Jerson Lima, se dirigiu aos estudantes presentes para lembrar que a escola estadual José Martins da Costa é uma das 160 escolas públicas que se beneficiam do edital da Fundação. "Queremos que a ciência chegue aos nossos alunos, os cientistas de amanhã”, disse Lima. “Aproveitem a feira e conversem com os cientistas e palestrantes presentes. A ciência é um jogo, não sabemos como será o final, mas vale a pena descobrir. Esse esforço é importante e altamente compensador para vocês, que poderão mudar o futuro”, disse Lima para estimular os jovens.

Maria Joana Azevedo: a jovem de 18 anos disse que o projeto na escola é inspirador e abre horizontes (Foto: Paula Guatimosim)

O sócio e diretor executivo da OptimaTech, Thiago Feital, falou sobre as aplicações da Inteligência Artificial (IA) na indústria. Incubada na Coppe/UFRJ e formada por três sócios, engenheiros mestres e doutores, a empresa oferece novas ferramentas tecnológicas da engenharia para serem aplicadas a processos industriais. Contemplada no edital “Pesquisador na Empresa” da FAPERJ, a empresa emprega tecnologias habilitadoras para os mais diversos segmentos, visando favorecer tomadas de decisão baseadas em medições, cálculos e procedimentos, a fim de otimizar os processos produtivos. Feital explica que na área de Operação e Processos, por exemplo, a IA analisa cada fase do processo industrial, a qualidade, a eficiência etc. Vencedora de mais de 10 editais de inovação e com 20 projetos realizados em indústrias, a Optima Tech apresenta um extenso portfólio de cases de sucesso. No setor de óleo e gás, por exemplo, a IA consegue reproduzir em tempo real o que ocorre numa coluna de destilação, a fim de monitorar o produto final. Na indústria sucroenergética a tecnologia é capaz de gerar 10 vezes mais dados para auxiliar as tomadas de decisão. No setor siderúrgico, o alto forno, que recebe o minério de ferro para produzir ferro gusa, é uma grande coluna de incógnitas (só se tem certeza da matéria prima que entra e do produto final), a IA é capaz de gerar 100 vezes mais dados.

Vinhos do Rio
Professora da Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro (Faeterj) Petrópolis e responsável pela submissão do projeto “Desenvolvimento e novas territorialidades: a construção da Indicação Geográfica dos vinhos de inverno da Serra Fluminense”, Lucimar Cunha abriu as palestras da tarde. Indicação Geográfica (IG) é um selo concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que identifica a origem de um produto ou serviço que possui qualidades únicas graças à sua origem geográfica ou tem origem em um local conhecido por aquele produto ou serviço. A proteção concedida por uma IG, além de preservar as tradições locais, diferencia produtos e serviços, melhora o acesso ao mercado, agrega valor e promove o desenvolvimento regional. Para quem ainda duvida da vocação fluminense para a produção de vinhos, o estado já possui 130 hectares de vinhedos localizados em 10 municípios, e 32 vinícolas produzindo 15 variedades de uva. Batizado de “Vinhos do Rio”, o projeto apoiado pela FAPERJ abarca sete municípios da região serrana e sete vinícolas que compõem a Viniserra, associação que reúne produtores dedicados à colheita dos vinhos de inverno. Lucimar explicou que o grande desafio da estruturação do projeto é a construção do coletivo – com todos os atores envolvidos –, além da formação e fixação de mão de obra, da conectividade entre os atores e da estruturação do arranjo produtivo local, que envolve, entre outras atividades, o turismo gastronômico e a visitação das propriedades. Uma conquista recente foi a parceria da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) para suporte na tecnologia de produção. “A FAPERJ conseguiu enxergar o potencial do Rio de Janeiro para as Indicações Geográficas e a Rio Innovation Week está apresentando os primeiros resultados dessa iniciativa”, disse Lucimar. A produção de rótulos com realidade aumentada é outra ação que visa divulgar a história da marca e do produto. “Basta que o cliente aponte a câmera do celular para o rótulo para a figura interagir virtualmente”, explica Lucimar. Ela dá o exemplo do rótulo desenvolvido para a pioneira Vinícola Inconfidência, localizada no município de Secretário. Com lançamento previsto ainda em 2024, o rótulo homenageia Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, uma rica proprietária de terras em Minas Gerais que destacou-se por seu envolvimento na Inconfidência Mineira, em 1789. O vinho  será o primeiro no Rio de Janeiro produzido com rastreabilidade

Rafael Aquino, CEO da Heptech, empresa apoiada desde 2016 pela FAPERJ, inicialmente pelo programa Startup Rio e mais recentemente pelo edital Doutor Empreendedor, apostou no mercado de anticoagulantes, que movimenta um mercado estimado em US$10 bilhões. Para ele, o Brasil pode ser uma potência na produção de heparina bovina, visando reduzir a dependência das importações da China, que domina mais de 60% do mercado mundial, e de heparina suína, que domina 99% do mercado. Para atingir o objetivo de desenvolver os melhores anticoagulantes do mercado, a empresa conseguiu através de uma inovação tecnológica vencer a limitação da fonte de matéria prima para produzir um produto de alta qualidade. Aquino esclarece que a Heptech atua não só na pesquisa, mas no desenvolvimento de produtos. A tecnologia para desenvolver heparina e enoxaparina bovina criada pela empresa (enoxaparina) gera um produto semelhante à heparina suína. A Heptech pretende conquistar uma boa fatia do mercado com a produção de uma heparina  bovina inovadora, especialmente para os países mulçumanos, que não consomem nenhum produto derivado de suínos. Após desenvolvimento da tecnologia e o registro da patente, os sócios procuram uma empresa parceira para desenvolver o projeto piloto no Brasil visando suprir o mercado nacional e conquistar também os mercados dos Estados Unidos e Europa. 

'Doutor Empreendedor' em debate

Thiago Feital: sócio e diretor executivo da OptimaTech, ele falou sobre as aplicações da Inteligência Artificial (IA) na indústria. Incubada na Coppe/UFRJ e formada por três sócios, engenheiros mestres e doutores, a empresa oferece novas ferramentas tecnológicas da engenharia para serem aplicadas a processos industriais (Foto: Lécio Ramos)

No final do dia, uma mesa redonda reuniu quatro representantes do programa Doutor Empreendedor, da FAPERJ. Fabiane Proba, da Affect Games, que desenvolve games educacionais, conta que foi logo após terminar seu doutorado que soube desse incentivo da Fundação. “Sempre tive espírito empreendedor e achei excelente a oportunidade de tirar minha ideia da gaveta e colocar em prática. Com o apoio do edital pude transmutar a energia empregada em papers e investir em todas as etapas que formam um empreendedor”, afirmou Fabiane, que formada em Jornalismo tem facilidade de comunicação. A empresa, que desenvolve jogos digitais personalizados  sob encomenda para instituições de ensino e corporações, lançou o MPV (produto viável mínimo ou Minimum Viable Product em inglês) em julho de 2024 e agora vai iniciar a fase de comercialização, além de desenvolver um novo projeto em parceria com uma empresa espanhola. 

Luiz Lannes Loureiro, CEO da Shaped 3D, contou que a empresa surgiu enquanto cursava o doutorado. A ideia de oferecer avaliação corporal presencial ou a distância com a ajuda da Inteligência Artificial e da visão computacional para avaliar perímetros e composição corporal por meio de fotos, caiu como uma luva durante a pandemia de Covid-19, ganhando mais espaço devido ao distanciamento social. A tecnologia permite a realização da avaliação à distância ou presencialmente, com baixo custo, de forma rápida e precisa. “Nunca pensei ser empreendedor. Foi um aluno que me falou do programa Doutor Empreendedor. Mandei o projeto no último minuto, só por mandar, e fui contemplado. Não fosse a FAPERJ até hoje eu estaria na Academia, onde esse idioma ‘startapês’ não faz parte. Hoje tenho mais de mil clientes e consigo unir a pesquisa e os negócios”, revelou Loureiro.

O engenheiro Álvaro Viana, CEO da Alta Geotecnia Ambiental (https://altageotecnia.com/), apresentou as atividades realizadas pela spin-off nascida em 2010, na PUC-Rio, e que conta, atualmente, com 70 colaboradores. A empresa é apoiada pelo edital Inovação Rio da FAPERJ. Em sua participação, Viana falou sobre alguns projetos, com destaque para o Geodecision, apoiado pela Fundação. A Alta desenvolve projetos e presta consultoria geoambiental para clientes dos setores de energia, mineração, gestão de resíduos e infraestrutura, no Brasil, Bolívia e Panamá. Um trabalho que envolve inovação e desenvolvimento, melhorias em práticas e processos, e redução de riscos ambientais. No momento, a empresa faz a operação e o gerenciamento de 25 aterros sanitários, que recebem resíduos gerados por cerca de 35 milhões de pessoas. De acordo com Viana, o Brasil produz 81 milhões de toneladas de resíduos por ano. Destes, em torno de 30 milhões de toneladas são levadas para um dos 2.500 aterros oficiais existentes no País.

O diretor da Baktron Microbiologia (www.baktron.com.br), Fernando Cruz, abordou as atividades da empresa que atua nas áreas de controle de qualidade industrial, meio ambiente e saúde ocupacional (análise do ar no ambiente). Cruz destacou, também, os apoios recebidos da FAPERJ. Desde 2019, a Baktron foi selecionada em três editais do programa Apoio à Inserção de Pesquisadores na Empresa lançados em 2019, 2021 e 2022; Inovação Rio (2022); e Bolsa de Inovação Tecnológica (2022). “Ao ser contemplada nos editais, a empresa ganha impulso e mais motivação na busca por resultados”, afirmou Cruz. Nascida em 1989, no extinto polo BioRio, a Baktron passou por uma reformulação entre 2013 e 2014. Nos últimos 5 anos, a empresa, sediada no Polo de Meio Ambiente, Saúde e Biotecnologia do Rio de Janeiro (Masbio-RJ), em São Cristóvão, dobrou seu espaço físico para 700m2, aumentou o número de colaboradores em 253%, e viu seu faturamento crescer 82% (dados de 2023). Um dos principais clientes da Baktron é a Petrobras, onde a empresa opera dois laboratórios de controle de qualidade de produtos de refino, nas refinarias Alberto Paqualini (Refap), em Canoas (RS), e Capuava (Recap), em Mauá (SP).

Felipe Vigoder, diretor-fundador da Biofy – Soluções em Testagens Biológicas: o empreendedor integra rede que conta com 91 membros e vem participando de palestras mensais, encontros quinzenais online e encontros híbridos realizados no Rio de Janeiro e Campos, cidades que reúnem um grande número de empresas apoiadas pelo programa Doutor Empreendedor da FAPERJ (Foto: Marcos patricio)

Compartilhar experiências, realizar cooperações comerciais, fortalecer a rede de contatos e oferecer apoio geral. Esses são os principais objetivos da Rede Doutor Empreendedor, uma iniciativa que reúne pesquisadores contemplados em um dos quatro editais do programa Doutor Empreendedor da FAPERJ. A proposta da rede foi apresentada por Felipe Vigoder, diretor-fundador da Biofy – Soluções em Testagens Biológicas, e Gabrielle Gautério, sócia-fundadora da Bean Possible (https://beanpossible.com.br/), dois empreendedores apoiados pelo edital. Em operação desde março de 2024, a rede já conta com 91 membros, que vêm participando de palestras mensais, encontros quinzenais online e encontros híbridos realizados no Rio de Janeiro e Campos, cidades que reúnem um grande número de empresas apoiadas pelo programa. “Nosso objetivo é ser um ponto de apoio para os pesquisadores que desejam fazer a transição da carreira acadêmica para o empreendedorismo”, explica Vigoder. Uma das propostas do grupo é promover um grande evento a cada ano. O primeiro já está marcado para os dias 5 e 6 de dezembro. A ideia é atrair todos os doutores empreendedores e o propósito é contribuir para consolidar o ecossistema de inovação do estado do Rio de Janeiro. A Rede Doutor Empreendedor é um trabalho voluntário e para participar é preciso se inscrever pelo e-mail rededoutorempreendedor@gmail.com .

Doutor em Ciência da Computação, Altobelli Mantuan apresentou as atividades da KAMiner (https://kaminer.com.br), empresa criada por ele em 2022 e que utiliza tecnologia digital para auxiliar as estratégias de marketing dos clientes. Segundo seu CEO, a KAMiner utiliza inteligência artificial como ferramenta para melhorar a interação com os clientes; automatiza a classificação de comentários e identifica sentimentos; além de acompanhar a aceitação de produtos. A empresa começou trabalhando com dados públicos relacionados à indústria de cosméticos. O Brasil é o quarto maior mercado consumidor de cosméticos e o segmento abriga mais de 3 mil empresas nacionais. A empresa oferece uma plataforma, que, entre outras funcionalidades, ajuda a selecionar potenciais clientes e a realizar perguntas sobre os produtos. “A KAMiner utiliza tecnologia digital na captura de opiniões relevantes via redes sociais, permitindo uma visão crítica dos produtos dos clientes, apoiando estratégias de marketing”, explicou Mantuan durante a apresentação.

Fabiane Proba encerrou o primeiro dia de apresentações falando sobre as atividades da Affect Games (https://affectnet.com.br/), empresa que desenvolve jogos educativos, e é apoiada pelo edital do Doutor Empreendedor (2021). “Os games educacionais são uma ferramenta interessante para dar mais motivação aos estudantes. Sobretudo aos alunos de EAD (ensino à distância)”, ressaltou Fabiane, doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Jogos elaborados pela Affect Games já foram utilizados por alunos do curso de graduação EAD em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), que integra o Consórcio Cecierj. Em breve um novo game será testado pelos alunos de ensino médio do Colégio Pedro II.  A Affect já criou um jogo destinado a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A empresa também desenvolve games sob encomenda (personalizados).

A programação do primeiro dia também contou com uma mesa-redonda sobre o edital Doutor Empreendedor, que reuniu Altobelli Mantuan (KAMiner), Luiz Lannes (Shaped) e Fabiane Proba (Affect Games). O debate foi mediado por Guilherme Santos, assessor da Diretoria de Tecnologia (DT) da FAPERJ. No encontro, os doutores empreendedores falaram sobre suas trajetórias, os desafios e os aprendizados adquiridos no processo de transição da carreira acadêmica para o empreendedorismo. “O edital Doutor Empreendedor é uma alternativa para quem deseja empreender. Até aqueles que estão entrando no doutorado já podem considerar essa possibilidade”, destacou Fabiane Proba.

Leia mais sobre as apresentações que aconteceram no estande da FAPERJ: Projetos do Agro e iniciativas de impacto social ganham vitrine na RIW

Projetos apoiados pelo edital Doutor Empreendedor já foram tema de vídeos do Canal da FAPERJ. Veja também (FAPERJ no YouTube):Pesquisadores da UFRJ desenvolvem heparina bovina similar à suína

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