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Publicado em: 14/03/2024 | Atualizado em: 14/03/2024

Manual alerta para as complicações da dengue em grávidas e puérperas

Paula Guatimosim

O odor e o gás carbônico exalado pela pele das gestantes, aliados ao aumento da sua temperatura corporal, são fatores importantes para a atração do mosquito Aedes aegypti (Foto: Freepik)

A Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia lançou, no dia 1º de março, na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Manual de prevenção, diagnóstico e tratamento da dengue na gestação e no puerpério”, disponível gratuitamente para download. Segundo o ginecologista e obstetra Antônio Rodrigues Braga Neto, coordenador estadual de Saúde das Mulheres da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, um dos organizadores do manual, o risco de mortalidade em caso de dengue grave nas mulheres grávidas é 40 vezes superior às não grávidas.

Na introdução, o manual, com 51 páginas, ressalta que ao longo das últimas décadas o Brasil tem enfrentado desafios significativos relacionados à infecção pelo vírus da dengue, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Dados do boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde demonstram que, em 2023, no período da primeira semana epidemiológica até a 35ª semana foram registrados 1.530.940 casos prováveis de dengue no País, o equivalente a uma média de 753,9 casos por 100 mil habitantes. Esses números representam um aumento de 16,5% nos casos, quando comparado com o mesmo período do ano anterior.

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação da Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses indicam que o número de casos de dengue em gestantes aumentou 345% nos primeiros dois meses de 2024, em comparação ao mesmo período de 2023. Uma das hipóteses prováveis para o aumento expressivo de casos em 2024, segundo Antônio Braga, são as consequências das mudanças climáticas. “O mosquito vem se adaptando à luz artificial e à água contaminada, ampliando seu período de atividade ao longo do dia”, explica o pesquisador. No estado do Rio de Janeiro, em 2023 foram registrados 332 casos de dengue em gestantes, contra 447 apenas nos dois primeiros meses de 2024. “Mas podemos comemorar o fato de não ter havido nenhum óbito”, sublinha Braga.

Antônio Braga Neto: para o pesquisador, o mosquito vem se adaptando à luz artificial e à água contaminada, ampliando seu período de atividade ao longo do dia

Professor de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor Titular da Universidade de Vassouras, o pesquisador contou com a colaboração de 16 especialistas para descrever em 21 capítulos os hábitos do vetor da doença, os aspectos do vírus, o diagnósticos, fases da doença e tratamentos, formas de evitar o contágio e prevenir complicações relacionadas à dengue. Para ele, o manual, que será traduzido para o inglês e espanhol, será um grande aliado para evitar óbitos entre gestantes e puérperas. “Além de disponibilizar o manual, estamos realizando seminários e treinamentos”, afirma o médico.

Segundo Antônio Braga, Cientista do Nosso Estado da FAPERJ e bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico  (CNPq), entre os grupos populacionais mais susceptíveis a complicações e à evolução para as formas mais graves da dengue estão as gestantes e puérperas, especialmente até 14 dias pós-parto, em decorrência do retorno lento das alterações fisiológicas aos padrões pré-gestacionais. O odor e o aumento do gás carbônico exalado pela pele das gestantes, aliados ao aumento da sua temperatura corporal, são fatores importantes para a atração do mosquito Aedes aegypti.

Os pesquisadores alertam para o maior risco de formas graves da doença nessas mulheres e um consequente quadro de saúde pública que inspira cuidados diferenciados, visto que tanto o prognóstico materno quanto o prognóstico perinatal podem ser comprometidos. Para as mães acometidas pelas formas mais graves da doença, há maior risco de choque, hemorragias e óbito. Quanto ao prognóstico perinatal, as complicações mais frequentemente observadas são a prematuridade, restrição de crescimento intrauterino e morte fetal.

Os autores chamam atenção para o fato de ainda não haver progresso no que se refere ao tratamento específico da dengue, muito menos sobre vacinas que possam ser utilizadas com segurança durante a gravidez. E ressaltam que, objetivamente, a profilaxia acessível para evitar os efeitos deletérios da dengue durante o ciclo gravídico-puerperal baseia-se em atitudes comportamentais, pessoais e comunitárias. Entretanto, consideram que a difusão dessas orientações em geral e especificamente para gestantes e puérperas é falha, incluindo as que visam ao controle de criadouros do mosquito até ao uso de vestes apropriadas e de repelentes.

Diante das falhas nas medidas profiláticas, a cartilha recomenda a organização das unidades de atendimento para gestantes e puérperas até o 14º dia pós-parto, ainda na fase inicial da doença, evitando-se os casos de dengue grave, e a triagem com classificação de risco a fim de estabelecer tratamento prioritário e oportuno para os casos com sinais de alarme e para os casos graves. Para os pesquisadores, a assertividade e a rapidez no atendimento possibilitarão a redução dos potenciais agravos à saúde materna e perinatal.

O manual inicia detalhando os aspectos do vírus da dengue, sua influência sobre o prognóstico materno e perinatal, sua fisiopatologia, o diagnóstico e as variáveis epidemiológicas. Em seguida, a cartilha aborda a importância da anamnese e do exame clínico, os aspectos técnicos para a realização da prova do laço, os diagnósticos diferencial, laboratorial, laboratorial etiológico e laboratorial para avaliar a gravidade da dengue. Os autores também descrevem as fases clínicas da dengue e caracterização da gravidade da doença (fase febril, crítica, dengue com sinais de alarme, dengue grave, fase de recuperação), abordam a conduta clínica e a formação de grupos, segundo a gravidade da doença.

O documento ainda inclui subsídios para a classificação do risco para o atendimento de gestantes e puérperas com dengue, a conduta clínica segundo a classificação de gravidade, os cuidados nas fases do pré-natal, obstétrico e puerperal, o controle pré-natal após a dengue e as ações de prevenção.

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