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Publicado em: 07/03/2024 | Atualizado em: 07/03/2024

Cinebiografia resgata a trajetória de Almerinda Gama, uma das precursoras do voto feminino no Brasil

Débora Motta

Almerinda Gama foi uma das vozes que marcaram o movimento sufragista. No Brasil, o voto feminino foi instituído em 24 de fevereiro de 1932, durante o governo Vargas (Foto: Acervo CPDOC/FGV)

O Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira, 8 de março, e estabelecido pelas Nações Unidas em 1975, simboliza a luta histórica feminina por condições igualitárias de direitos, na vida e no trabalho. Um documentário produzido no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), revisita a trajetória de Almerinda Farias Gama (1899-1999), advogada, jornalista e sindicalista, sufragista, negra e nordestina, que protagonizou a luta pelo voto feminino no Brasil no início do século XX e foi uma das primeiras a participar do processo de formação de uma Assembleia Constituinte (1933-1934).

Intitulado Almerinda, a luta continua!, o curta-metragem foi produzido como desdobramento do projeto “Novos olhares sobre o arquivo: visualidade, difusão e educação nos arquivos de mulheres do CPDOC FGV” – 2022, contemplado pela FAPERJ no programa Jovem Cientista do Nosso Estado, sob a coordenação da comunicóloga Thais Blank, professora na pós-graduação de História, Política e Bens Culturais da FGV. O roteiro e direção foi da jornalista e pesquisadora Cibele Tenório, que atualmente cursa doutorado em História na Universidade de Brasília (UnB) e é apresentadora na Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

“O olhar sensível da diretora estabeleceu um paralelo a partir do presente, buscando os ecos da luta da Almerinda, como mulher negra tentando ocupar seu espaço na política, nos movimentos sociais feministas de hoje”, pontuou Thais. Ela contou que a própria Almerinda concedeu entrevista ao CPDOC/FGV, em 1984, para o projeto Velhos Militantes, publicado em livro em 1988, pela Editora Zahar, com o mesmo título. Ela mesma entregou em vida ao CPDOC o conjunto de imagens que compõem seu acervo e registram sua atuação política. “O acervo de Almerinda é pequeno, com cerca de 20 fotografias, uma entrevista em áudio e manuscritos, mas fundamental para lançar luz à história da participação política feminina no País”, disse.

Advogada, jornalista e sindicalista, a alagoana estabelecida no Rio participou da Assembleia Constituinte, em 1933-1934 (Foto: CPDOC/FGV)

Reunindo diversas habilidades, Almerinda nasceu em Maceió e se estabeleceu no Rio de Janeiro, onde se formou como advogada e foi escrevente juramentada e tradutora. Presidiu o Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos, integrou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e tornou-se apoiadora da zoóloga e ativista Bertha Lutz, presidente da Federação e figura engajada na conquista do direito ao voto pelas mulheres. Como representante classista, acabou sendo indicada, em 1933, como delegada na votação que escolheu os integrantes da Assembleia Nacional que elaboraria uma nova Constituição para o Brasil. 

Cibele, que é alagoana, como Almerinda, teve a ideia de escrever o roteiro para o documentário quando participou da 2ª Oficina de Produção Audiovisual do CPDOC/FGV, em 2015, coordenada por Thais Blank, ao lado de Arbel Griner e Adelina Novaes e Cruz. “Examinando os arquivos do CPDOC, fui atrás das mulheres que têm ali suas memórias resguardadas. Me deparei com o acervo de Almerinda, que era completamente desconhecida do grande público, apesar de sua importância. Decidi pesquisar e gravei imagens da Marcha das Mulheres Negras, em Brasília, contrapondo no filme as falas das personagens de hoje com os depoimentos em áudio e fotos de Almerinda”, detalhou.

A diretora destaca que a vida de Almerinda foi regida por pautas que continuam muito atuais. “Ela lutou por igualdade salarial entre homens e mulheres, pela inserção das mulheres na política, pela educação como um direito de todos, pela igualdade de gênero e etnias. Essas questões ainda continuam em pauta depois de décadas da atuação pública dela. Entender a história dessa mulher é ter ferramentas para continuar lutando. Por isso o nome do filme é Almerinda: A luta continua!”, contou.

Thais Blank (à esq.) e Cibele Tenório: projeto resultou na produção do curta Almerinda: a luta continua! (Fotos: Divulgação)

Em 2016, a Prefeitura de São Paulo instituiu o Prêmio Almerinda Farias Gama, voltado a iniciativas em Comunicação Social ligadas à defesa da população negra. “Mesmo assim, a história de Almerinda merecia ganhar mais visibilidade. Então, decidi explorar esse tema na minha dissertação de mestrado e atualmente no doutorado em História na UnB, sob orientação de Teresa Marques, que é uma pesquisadora especialista em sufrágio feminino no Brasil”, recordou. O estudo – A trajetória de vida de Almerinda Farias Gama (1899-1999): feminismo, sindicalismo e identidade política – rendeu frutos e será também tema de livro, depois que Cibele venceu o prêmio literário promovido pela editora Todavia, na categoria Perfis Biográficos. A obra deve ser lançada ao longo de 2024.

Sobre o Acervo CPDOC/FGV

O acervo do CPDOC reúne duas centenas de arquivos de pessoas públicas, com atuação destacada no cenário nacional, além de alguns poucos arquivos de partidos políticos. Esse conjunto documental se constitui em preciosa fonte de consulta para pesquisadores nacionais e estrangeiros, interessados na história contemporânea do Brasil e áreas afins. Além dos arquivos pessoais também estão abertas à consulta cerca de mil entrevistas, realizadas pelo Programa de História Oral, sob diferentes temáticas.

Para assistir ao filme Almerinda, a luta continua!acesse o link.

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