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Publicado em: 29/02/2024 | Atualizado em: 01/03/2024

Importância da paternidade ativa é tema de pesquisa na Unifase

Paula Guatimosim

Fábio Pamplona Marcolino e Natália Duarte: colaboração entre aluno e professora permitiu realização de pesquisa para investigar os saberes sociais sobre o papel paterno (Foto: Divulgação) 

Em 2023, 172,2 mil crianças nascidas no Brasil foram registradas apenas com o nome da mãe – o equivalente a 6,9% dos 2,5 milhões de bebês nascidos no Brasil. Os dados são da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) obtidos por meio do Portal da Transparência do Registro Civil. O número diz respeito aos registros de nascimento feitos somente em nome da mãe, que pode indicar o nome do suposto pai ao Cartório para dar início ao processo de reconhecimento judicial de paternidade. O reconhecimento também pode ser feito posteriormente pelo pai, diretamente no Cartório.

De acordo com a professora de Enfermagem do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase/FMP), Natália Duarte, a ausência da figura paterna durante o pré-natal, parto, nascimento e cuidados na infância pode ter impacto negativo na saúde física e mental dos filhos, trazendo questões sociais importantes. Natália reconhece que os aspectos culturais, a legislação desfavorável ao pai – que tem apenas cinco dias de licença paternidade –, a falta de tempo e de apoio dos empregadores e, acima de tudo, a carência de conhecimento como fatores limitantes à maior participação do homem nos cuidados com os filhos. A pesquisa vem mostrando que “essa realidade está mudando, muitos pais já demonstram vontade de participar ativamente, mas não sabem como”, explica a pesquisadora.

Foi ministrando as aulas sobre Saúde da Mulher que Natália ouviu as queixas de um aluno sobre a precariedade da participação paterna, seja durante o pré-natal, o parto, o puerpério e ao longo da vida dos filhos. Ele manifestou o desejo de trabalhar esse tema no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Aluno do 8º período, Fábio Pamplona Marcolino, pai de uma moça de 21 anos e de um enteado de 25, sempre participou ativamente da educação dos jovens. “Devo isso à minha educação, pois apesar de ter sido criado apenas pela minha mãe, ela me transmitiu valores e me ensinou tarefas que considerava comuns a ambos os gêneros”, diz o graduando.

Com uma jornada de 12 horas de trabalho por 36 de folga como Técnico de Enfermagem, Fábio pensou em abandonar a faculdade após a tragédia decorrentes das fortes chuvas na região Serrana do Rio de Janeiro em 2022. Sua casa foi totalmente submersa e ele perdeu tudo o que construíra ao longo da vida. E, enquanto estava reconstruindo o lar, outra tempestade, um mês depois, botou tudo no chão novamente. Foi justamente o Programa Apoio Emergencial aos Estudantes de Graduação e Pós-Graduação em Instituições de Ensino Superior do Município de Petrópolis que Sofreram as Consequências das Enchentes, edital lançado pela FAPERJ naquele ano, que o permitiu continuar os estudos, assim como outros universitários da Unifase.

Foi a inquietação de Fábio em relação ao tema que levou a professora Natália a investigar os saberes sociais sobre o papel paterno. O projeto de pesquisa, aprovado pela FAPERJ, vem sendo desenvolvido há mais de um ano e busca, sem qualquer julgamento, investigar como os homens vivenciam a paternidade. Assim, a pesquisa visa colher elementos que possam nortear orientações e estratégias para que os homens possam exercer plenamente a paternidade. Participam do estudo ainda as universitárias Anna Villela de Paula e Laura Schmitt Oliveira.

“Nós, enfermeiros, precisamos ensinar esses pais a exercerem a paternidade ativa. Precisamos desmistificar essa cultura antiga que tanto pesa sobre os pais. Creio que nosso projeto de pesquisa está bem focado na educação”, afirma Fábio. Para ele, com conhecimento e treino, o homem vai tirar a sobrecarga que incide sobre a mulher, e ainda vai fortalecer e equilibrar a família, melhorar o rendimento escolar dos filhos, ajudar a reduzir a violência e se sentir mais integrante do processo de cuidar dos filhos.

Segundo Natália, a política vigente no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2011 inclui duas consultas com profissional de Saúde para o parceiro da gestante. Ela lembra que algumas categorias já concedem licença paternidade maior que os cinco dias usuais. A pesquisadora chama atenção especial para o puerpério, momento delicado quando todas as atenções estão voltadas para o recém-nascido e a mãe fica relegada a segundo plano. “A participação paterna no apoio à mãe do bebê é fundamental, inclusive para que essa mãe não abandone a amamentação”, assinala Natália.

Casada com militar e mãe de uma menina de 10 anos e um menino de 5 anos, Natália tem em casa o que sonha para todas as mães: um pai presente. Por ter um horário de trabalho mais flexível, é seu marido que geralmente leva as crianças à escola, às atividades extracurriculares, participa de reuniões escolares e, muitas vezes, os acompanha no pediatra. “Mas eventualmente ele se sente constrangido, pois as próprias mães estranham ele estar ocupando esse lugar”, explica a docente. De acordo com ela, a ideia de que um homem não pode exercer funções de cuidado dificulta o estabelecimento de vínculo e corresponsabilização na criação dos filhos, sobrecarregando as mulheres e impedindo uma vivência plena pelos homens.

Uma das estratégias que Natália vislumbra para modificar essa realidade é promover um projeto de extensão de Enfermagem junto a empresas. O estabelecimento de parcerias poderia viabilizar a realização de palestras elucidativas e rodas de conversa para os pais em seu próprio ambiente de trabalho. Outra solução seria usar os horários estendidos de atendimento nas Unidades de Saúde para que os pais possam frequentar após o expediente.

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