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Publicado em: 22/02/2024 | Atualizado em: 22/02/2024

Evento na ABC discute avanços e perspectivas da participação feminina na Ciência

Débora Motta

Auditório da Academia Brasileira de Ciências lotado durante o debate que discutiu os desafios da equidade de gênero nas carreiras científicas e tecnológicas (Fotos: Guilherme Espindolla/SMCT)

No dia 11 de fevereiro celebra-se o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015. Para comemorar essa data e estimular a reflexão sobre o espaço atualmente ocupado pelas mulheres na pesquisa e a importância da igualdade de gênero, a FAPERJ promoveu na tarde de segunda-feira, 19 de fevereiro, o debate Meninas e Mulheres na Ciência: avanços e perspectivas”, que lotou o Auditório da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Centro do Rio. Durante o evento, houve a entrega dos termos de outorga às 70 contempladas pelo Programa de Apoio à Jovem Cientista Mulher com vínculo em Instituições de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, edital inédito lançado pela Fundação em 2023. A FAPERJ anunciou ainda o relançamento, para este ano, do edital Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação, lançado pela primeira vez em 2021. Ao fim do evento, houve o anúncio do lançamento da segunda edição do Prêmio Elisa Frota Pessoa, iniciativa da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia (SMCT).

“Será que existe desigualdade de gênero na Ciência?”. A presidente da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão da FAPERJ, Letícia Oliveira, deu início aos debates respondendo a essa questão. “Com base nos dados, temos avaliado dois problemas principais: a segregação horizontal, que é o baixo percentual de mulheres nas áreas Exatas e Tecnológicas; e o baixo percentual de mulheres no topo, em todas as áreas do conhecimento, especialmente quando falamos de cargos mais políticos. Este é o efeito conhecido como ‘teto de vidro’”, justificou Letícia, que é neurocientista. “A questão dos estereótipos ajuda a explicar isso. Muitas vezes não é preciso dizer a uma menina que ela não vai ser astrofísica, porque isso já está dito na medida em que ela não se vê representada nesses espaços. Isso faz com que muitas meninas nem cogitem a escolher as Exatas, por exemplo. Também há a questão do assédio e a maternidade, que trazem impacto nas carreiras femininas”, completou.

A presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, primeira representante do sexo feminino a ocupar este cargo em 105 anos de existência da ABC, destacou o recente artigo de sua autoria, publicado em 18 de fevereiro na Folha de São Paulo, intitulado Um exemplo para as mulheres na ciência. “Neste artigo, expresso o desejo de que o centenário de nascimento da Johanna Döbereiner, engenheira agrônoma pioneira em Biologia do Solo e primeira vice-presidente da ABC, inspire a busca por equidade de gênero. Alcançamos hoje no Brasil paridade de gêneros na pós-graduação e em relação ao número de publicações, mas não temos a paridade na distribuição feminina nas diferentes áreas do conhecimento e em cargos políticos e de liderança. E temos para isso que começar uma mudança cultural desde o jardim da infância, envolvendo pais e mães no modo como criam seus filhos. Meus pais não tinham formação universitária, mas disseram a mim e a minha irmã que não tinha limites para sermos o que quiséssemos ser. Precisamos das mulheres na Ciência”, ponderou Helena, lembrando que, no último relatório de equidade de gêneros produzido pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil saiu da 94º posição, em 2022, para a 57º, em 2023.

Primeira mulher eleita para a Presidência da Academia Nacional de Medicina (ANM) em 194 anos de atividades institucionais, e primeira a ocupar o cargo de diretora Científica na FAPERJ, a médica Eliete Bouskela refletiu sobre os desafios profissionais das mulheres. “Sabemos que mais da metade dos alunos de graduação em Medicina são mulheres, mas na ANM, com quase 200 anos de história, elegemos até hoje apenas dez mulheres como membros institucionais, entre quase 700 membros”, ressaltou. Ela lembrou sua experiência de vida na Suécia, quando cursou seu pós-doutorado na Lund University. “Nem na Suécia a questão da paridade feminina é perfeita. Vi que 92% das mulheres trabalhavam, a maioria em tempo parcial, porque um salário apenas não sustentava a casa. No primeiro ano de vida da criança, é dito que a mãe deve desenvolver laços com o filho, e não são oferecidas creches. Então, é difícil ter destaque em carreiras competitivas ficando um ano afastadas do mercado de trabalho. Existiam poucas mulheres chefes de indústria e professoras titulares. Quando voltei ao Brasil, saiu uma série de artigos na Science, entre 2003 e 2004, constatando que mulheres só fazem carreira em países onde existe a figura da empregada doméstica. Estamos muito longe de ter igualdade, em vários sentidos. Mas cada vez que uma mulher alcança uma posição melhor, ela levanta um pouco mais esse teto de vidro”, contou.

Durante o evento, a FAPERJ confirmou o relançamento, para este ano, do edital Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação. Houve também a divulgação do Prêmio Elisa Frota Pessoa, da SMCT 

Pioneira, como mulher, a assumir o comando da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio, Tatiana Roque falou sobre a necessidade de fomento exclusivo para mulheres e mães. “Apenas 20% dos pesquisadores na área de Inteligência Artificial, por exemplo, que é uma área tão estratégica, são mulheres. É claro que precisamos de políticas específicas para combater essa injustiça em termos de igualdade de direitos. Mas necessitamos de mais mulheres para benefício e credibilidade da própria Ciência, porque precisamos da pluralidade de olhares na construção do saber científico, especialmente diante do recente fenômeno de crise de confiança na Ciência”, pontuou.

Coordenadora do Programa Meninas e Mulheres na Ciência, da Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio (SMCT), Thereza Paiva contou que foi convidada por Tatiana para reforçar essa pauta. “O Rio está muito à frente na questão de gênero nas Ciências. A FAPERJ lançou esses editais voltados a mulheres cientistas, que nenhuma outra FAP [Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa] concebeu, e o município quer acompanhar esse movimento. Dentro da Secretaria Municipal de C&T, estamos gestando um programa para meninas na Ciência, reconhecendo a importância desse tema”, disse.

A presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputada Elika Takimoto, relembrou sua trajetória. “Sou uma mulher da Ciência e hoje estou na política, que é um lugar bem masculinizado. Mas tenho experiência nesse sentido por ter formação em Física. Todas nós, aqui nesta mesa, sabemos o quanto foi difícil chegar aqui. Já tive que lidar com a questão do assédio moral e sexual na universidade. Sou professora concursada do Cefet-RJ [Centro Federal de Educação Tecnológica], agora licenciada para ocupar o cargo de deputada, e percebi recentemente a redução do número de mulheres na sala de aula nas ciências 'Exatas'. Outro ponto que temos de nos preocupar é como elaborar políticas públicas para ampliar a rede de apoio para as mulheres que engravidam durante suas trajetórias acadêmicas”, ponderou Elika, lembrando que hoje também temos uma mulher à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a ministra Luciana Santos.

O subsecretário estadual de Ensino Superior, Pesquisa e Inovação, Edgar Leite, reconheceu a importância da formulação de políticas de fomento específicas para elas. “A Secti, por meio da FAPERJ, vem apoiando políticas de inclusão, entre elas este edital para a Jovem Cientista Mulher, extremamente importante para abrir caminhos que propiciem a pluralidade e a inclusão no universo científico. É um compromisso da nossa Secretaria esse tipo de política, necessária ao desenvolvimento da Ciência, e que haja um fluxo contínuo de fomento à pesquisa na universidade”, destacou.

Ao lado do lançamento de editais voltados especificamente para mulheres cientistas, a FAPERJ tem se dedicado nos últimos anos a ações que visam ampliar o protagonismo feminino na Ciência, como a licença-maternidade, que vem sendo aplicada desde 2018; e a inclusão de um período maior para contagem de produtividade para as pesquisadoras que foram mães, no período de avaliação de tempo dos editais. Nesta sexta-feira, 23 de fevereiro, é o aniversário de um ano da criação da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão na FAPERJ, voltada ao desenvolvimento de ações para a construção de um plano de diversidade e equidade, incluindo de gênero, na instituição. Para maio de 2024, está previsto o lançamento de um edital específico para cientistas mães, uma ideia inovadora entre as agências de fomento no País, em parceria com o Instituto Serrapilheira e o movimento Parent in Science.

Por sua vez, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima, reforçou a importância da criação da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão na Fundação. A FAPERJ acredita que em nome da equidade, é necessário corrigir a desigualdade de gênero. Existe sim o machismo estrutural, enraizado, que deve ser trabalhado na sociedade, e também institucionalmente. O edital Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação, idealizado pela Eliete, junto com a Letícia, é importantíssimo, porque se há um problema geral de pouco estímulo para as carreiras de Exatas na educação básica, isso se intensifica mais ainda para as meninas”, assinalou.  

Representando as pesquisadoras contempladas no Programa de Apoio à Jovem Cientista Mulher com vínculo em Instituições de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, a engenheira química Michelle Mothé recebeu seu termo de outorga 

Estiveram presentes diversos gestores, pesquisadores, professores e autoridades, entre eles a reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gulnar Azevedo; a reitora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Rosana Rodrigues, que também integra a Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão da FAPERJ; a vice-presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, deputada Dani Balbi; a diretora da ABC, Maria Vargas; a chefe de Gabinete da Presidência da FAPERJ, Consuelo Câmara; a assessora da Diretoria Científica da Fundação, Carmen Pazos de Moura; o assessor especial da Presidência da FAPERJ Vitor Ferreira; membros do Conselho Superior da FAPERJ e diversos membros da Comissão de Equidade: Egberto Gaspar de Moura, representando a assessoria da Presidência da FAPERJ; Patricia Lisboa, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag/Uerj); Karin Menendez, do Observatório do Valongo; Rosana Glat, da Faculdade de Educação da Uerj; Catia Antonia da Silva, do Departamento de Geografia da Uerj; Renata Angelli, representando a Diretoria de Tecnologia da FAPERJ; Cristiane Rose de Siqueira Duarte, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ); Yuri Katayama, assessora da Diretoria Científica da FAPERJ; e Bethania Mariani, do Departamento de Ciências da Linguagem da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Jovem Cientista Mulher, Meninas e Mulheres na Ciência e Prêmio Elisa Frota Pessoa

Representando todas as pesquisadoras contempladas no Programa de Apoio à Jovem Cientista Mulher com vínculo em Instituições de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, a engenheira química Michelle Gonçalves Mothé, da Escola de Química da UFRJ, recebeu das mãos do presidente da FAPERJ o seu termo de outorga. “É um privilégio fazer parte desse grupo de 70 importantes cientistas mulheres, em um edital que promove a valorização da mulher no âmbito da Ciência e Tecnologia, pois a Ciência tem sido predominantemente marcada por narrativas masculinas. Esse é um momento singular para todas nós”, comemorou a pesquisadora, que se dedica ao projeto “Nanofilmes e nanofibras a partir de resíduos da avicultura: desenvolvimento, caracterização e aplicação em embalagens ativas, sustentáveis e biodegradáveis”.

A física Maria Priscila Pessanha de Castro, professora e pesquisadora no Laboratório de Ciências Físicas da Uenf, foi homenageada e contou sua experiência como coordenadora do projeto “Arduínas: meninas no controle das práticas experimentais e exatas”, ao lado da professora Elis Miranda (UFF-Campos), que vem motivando meninas em idade escolar a seguirem carreiras científicas e tecnológicas. “Esse projeto foi aprovado no edital Meninas e Mulheres na Ciência, da FAPERJ, e foi o mais gratificante na minha vida como educadora. Atuamos em duas escolas estaduais localizadas em dois distritos periféricos de Campos dos Goytacazes, Travessão e Poço Gordo, marcadas por desafios como baixa renda, violência doméstica e alto índice de evasão escolar. Meninas que receberam bolsas de pré-iniciação científica como Jovens Talentos e que nem vislumbravam em suas vidas ter uma formação universitária puderam discutir temas como emancipação feminina e Física. Poço Gordo é uma região rural. Como resultado, elas se empoderaram, fizeram o Enem e temos algumas aprovadas em universidades, inclusive públicas”, detalhou Maria Priscila.

Por último, houve o anúncio da segunda edição do Prêmio Elisa Frota Pessoa, voltado para mulheres em cursos de graduação. “Decidimos divulgar a realização da primeira edição desse prêmio em 2023, pela Secretaria Municipal de C&T. No dia 8 de março, no Museu do Amanhã, teremos o lançamento da segunda edição do Prêmio, com palestra da professora Margareth Dalcolmo, da Fiocruz”, antecipou Tatiana Roque. “O Prêmio celebra a trajetória de Elisa Frota Pessoa, que foi uma das fundadoras do CBPF [Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas], ao lado de César Lattes. Mas, ao contrário dele, ela não teve a mesma visibilidade, talvez por ter sido uma cientista mulher. Sabemos que para ter mais mulheres na Ciência, precisamos dar mais visibilidade a elas, daí o nome do Prêmio”, concluiu Tatiana.

Confira a transmissão completa do evento aqui: https://www.youtube.com/live/1apBB7_XT3Q?si=v03HgWgGnION5JQQ 

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