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Publicado em: 16/11/2023 | Atualizado em: 16/11/2023

Pesquisadores demonstram que antimatéria cai sob ação da gravidade

Débora Motta

Integrantes do consórcio ALPHA nas dependências do CERN, na Suíça: rede internacional realiza pesquisas sobre a ação da gravidade que colocam a Física na fronteira do conhecimento (Fotos: Divulgação)

Uma das grandes questões da Física contemporânea acaba de ser desvendada por uma rede internacional de pesquisadores, que conta com a participação de brasileiros: o comportamento da antimatéria diante da gravidade. Um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), junto à colaboração Antihydrogen Laser Physics Apparatus (ALPHA), demonstrou que a antimatéria cai sob ação da gravidade, em experimentos realizados no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), o maior laboratório de Física de partículas do mundo, localizado na Suíça. A descoberta resultou na publicação de artigo na renomada revista científica Nature, intitulado Observation of the effect of gravity on the motion of antimatter | Nature.   

De acordo com o professor do Instituto de Física da UFRJ Cláudio Lenz Cesar, contemplado pela FAPERJ por meio do programa Cientista do Nosso Estado, a descoberta pretende encerrar décadas de especulações sobre o comportamento da gravidade e coloca fim à ideia da existência da antigravidade. “Há muitos anos se discute se a gravidade para a antimatéria seria a mesma para a matéria, se a interação gravitacional seria a mesma tanto na relação matéria-matéria ou na relação antimatéria-matéria. Descobrimos que sim, a aceleração da gravidade sobre a antimatéria é compatível com a da matéria nesse nível de baixa precisão. Mas nada garante que o será em medidas futuras com alta precisão”, explicou o físico Cláudio Lenz Cesar, professor do Instituto de Física da UFRJ e um dos autores do artigo. “O estudo descarta completamente a hipótese de que existiria uma antigravidade, ou seja, uma força de repulsão gravitacional que levaria os antiátomos a caírem para cima”, completou.

Em poucas palavras, na natureza, cada partícula tem uma antipartícula correspondente. Elas compartilham as mesmas propriedades, apesar de terem cargas opostas. A matéria é formada por átomos, que por sua vez são compostos de elétrons (de carga negativa), prótons (positiva) e nêutrons (neutra). A partir de 1928, o físico britânico Paul Dirac, vencedor do Nobel de Física em 1933, propôs a existência da antimatéria. Em 1932, o físico americano Carl Anderson descobriu, ao estudar raios cósmicos, a primeira antipartícula: o antielétron (também chamado de pósitron, por ter carga positiva). Hoje, a Física Quântica trabalha com diversas partículas e suas correspondentes antipartículas, como antiprótons (prótons com carga negativa) e antinêutrons (com carga nula como os nêutrons, mas formados por antiquarks).

A antimatéria teria surgido ao mesmo tempo que a matéria, no momento em que se deu a grande explosão que deu origem ao universo, o Big Bang. Porém, não há resquícios dessa antimatéria primordial, o que tornou por décadas o estudo da mesma um desafio para a comunidade científica mundial. “O mistério do que ocorreu com a antimatéria primordial era respondido por um pequeno grupo de físicos com a hipótese radical da existência de uma suposta antigravidade, que seria uma repulsão gravitacional. Com nossos resultados, essa hipótese esta morta”, contextualizou Lenz.

Equipe de brasileiros no CERN: sentado, o aluno de doutorado Levi Azevedo; atrás, os pesquisadores Rodrigo Sacramento, Álvaro Nunes e Cláudio Lenz

Os experimentos de alto nível realizados pela equipe só poderiam ser realizados no CERN, único local do mundo que possui laboratórios capazes de reproduzir antiátomos de forma artificial, em grandes aceleradores e desaceleradores de partículas. Isso demonstra a importância do Brasil – num protocolo que agora tramita no Congresso para assinatura presidencial – se tornar membro desse grande acelerador onde experimentos únicos podem ser realizados no mundo.  “Durante os experimentos, criamos e aprisionamos átomos de anti-hidrogênio em uma armadilha magnética, dentro de um equipamento conhecido como desacelerador de antiprótons. Trata-se do único equipamento no mundo que pode obter antiprótons, a baixas energias. Os anti-átomos acabam aprisionados próximos de 0,5 kelvin, da ordem de -272.6 celsius”, detalhou Lenz.

Assim, os pesquisadores puderam testar o comportamento dos átomos de anti-hidrogênio em relação à gravidade, dentro desse equipamento. “Eles escaparam majoritariamente para baixo ao se abrir lentamente a armadilha vertical, exatamente como na queda da maçã de Newton”, contou Lenz. “Na Teoria da Relatividade, a interação gravitacional independe da composição dos corpos, se são antimatéria ou matéria. Com nosso experimento, vimos a compatibilidade com a teoria de Einstein”, destacou.

O experimento descrito no artigo foi realizado em meados de 2022 e o projeto, que conta com mais de 50 cientistas internacionais, vem sendo construído desde 2013. A concepção original do experimento foi descrita por Lenz num artigo de 1997, citada na publicação atual. A colaboração ALPHA é liderada por Jeffrey Hangst, da Universidade Aarhus, da Dinamarca, e envolve majoritariamente pesquisadores europeus e norte-americanos. Os outros brasileiros envolvidos são: Daniel Miranda Silveira e Rodrigo Lage Sacramento, também professores da UFRJ; e Álvaro Nunes, pesquisador do Inmetro e pós-doutor pelo grupo de pesquisa da Universidade Aarhus.

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