Débora Motta e Paula Guatimosim
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Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Mauro Azevedo (3º a partir da direita), e os dirigentes dos órgãos vinculados à Secretaria de C,T&I participaram da mesa-redonda 'Estado, Tecnologia e Sociedade: Construindo um Futuro Inovador' (Foto: Paula Guatimosim) |
A cidade maravilhosa reafirma sua vocação como capital da Tecnologia e da Inovação ao sediar a 3ª edição do Rio Innovation Week, a maior feira da América Latina nesse segmento, que acontece desde terça, dia 3, e segue até esta sexta-feira, 6 de outubro, no Píer Mauá. O evento ocupa todos os armazéns do local, em um espaço de cerca de 70 mil metros quadrados, na Zona Portuária, reunindo aproximadamente 1.200 palestrantes, 30 conferências, duas mil startups — empresas tecnológicas de base nascente — e 200 expositores. A FAPERJ marcou presença com um estande próprio, localizado no Armazém 4, que está sendo palco de uma programação intensa ao longo da semana, com 38 palestras sobre empreendedorismo (leia a reportagem aqui) e um demoday com apresentações dos projetos dos diversos contemplados pela Fundação no edital Doutor Empreendedor 2023 (leia a reportagem aqui).
O governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, destacou na terça-feira, durante a cerimônia de abertura oficial da feira, na Plenária do Galpão Kobra, a relevância da realização do evento para a revitalização econômica da cidade no pós-pandemia. “Essa feira é a concretização do sonho de apostar nas potencialidades de empreendedorismo do estado. Esse evento marca o Rio da recuperação. Quando assumi o governo, éramos o 27º estado mais digital do Brasil e hoje já estamos na terceira posição deste ranking. Cada vez que a gente digitaliza e investe em Ciência, Tecnologia e Inovação geramos impactos muito positivos e mudamos as vidas das pessoas para melhor”, disse.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, falou sobre a importância do tema Inovação na agenda internacional para construir um futuro sustentável. “Recentemente o governo federal recompôs o orçamento do FNDCT — o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico —, para cerca de 10 bilhões. Precisamos colocar o Brasil no patamar que o País merece, diante dos desafios das transformações energética e digital”, disse, reconhecendo a importância da feira como fórum para impulsionar a criatividade e a inovação.
Participaram ainda da mesa de abertura diversos secretários de Estado do Rio de Janeiro – Mauro Azevedo Neto, da Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I); Flávio Campos Ferreira, da Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento; Gustavo Tutuca, de Turismo; Mauro Farias, de Transformação Digital; dos secretários municipais Eduardo Cavaliere, da Casa Civil, que esteve representando o prefeito do Rio, Eduardo Paes; Tatiana Roque, da Ciência e Tecnologia; e Chicão Bulhões, de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação; além do diretor financeiro da Cedae, Antonio Carlos dos Santos; do vice-presidente de Inovação, P&D, Digital e TI da Eletrobras, Juliano de Carvalho Dantas; do presidente do Sistema Fecomércio RJ, Antônio Queiroz; do presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera; do presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros; da deputada federal Soraia Santos; e o presidente do comitê organizador da Rio Innovation Week 2023, Fábio Queiroz, entre outros gestores, empreendedores, reitores e autoridades.
Na manhã desta quinta, 5 de outubro, foi realizada a mesa-redonda “Estado, Tecnologia e Sociedade: Construindo um futuro Inovador”, com a presença do secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação Mauro Azevedo Neto; do presidente da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), João Carrilho; da reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Claudia Gonçalves; da recém-eleita reitora da Universidade Federal do Norte Fluminense (Uenf), Rosana Rodrigues; do procurador do estado na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Rodrigo Botelho; da presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), Caroline Alves, do presidente e diretores das áreas Científica e Tecnológica da FAPERJ, Jerson Lima, Eliete Bouskela e Aquilino Senra, respectivamente.
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Troca de experiências e networking: estande da Fundação foi ponto de encontro na extensa programação da maior feira de inovação da América Latina (Foto: Paul Jürgens/FAPERJ) |
Mauro Azevedo Neto iniciou a apresentação lembrando que há algum tempo “vivemos numa sociedade tecnológica, digital e inovadora em todas as nossas relações usuais”. Ele chamou atenção para as tecnologias disruptivas que fazem parte do nosso dia a dia, como os aplicativos de entregas, além da robótica na área da saúde, indústria etc. Mauro Azevedo destacou o papel da Rio Innovation Week (RIW) para promover a aproximação dos setores público e privado, fomentando negócios, mas afirmou que um dos principais eixos do evento é a integração da CT&I com a sociedade.
O presidente da Fundação Cecierj, João Carrilho, apresentou um vídeo sobre a estrutura e atuação da instituição e garantiu que quando assumiu o cargo não tinha ideia da importância e da sua dimensão. Destacou a atuação da Fundação, amparando alunos em todas as fases de formação, do ensino médio, ao pré-vestibular social e ao vestibular 2024 do Consórcio Cederj (Cefet/RJ, Uenf, Uerj, UFF, UFRJ, UFRRJ ou UniRio) criado para democratizar o ensino superior, com inscrições abertas até 10 de outubro, que oferecerá 7 mil vagas para 18 cursos a distância ofertados pelas universidade públicas do estado em várias cidades do interior; até a extensão, que publica duas revistas. A Fundação mantém ainda 59 polos do Ceja (Centro de Educação de Jovens e Adultos), no modelo semipresencial, além da formação continuada de professores.
A reitora da Uerj, Claudia Gonçalves, destacou sua origem cearense e alegou que “como todo retirante, trago na bagagem a fé e a vontade de vencer”. Após elogiar a RIW e seu papel integrativo, Claudia se disse honrada em estar cumprindo sua missão como reitora “da universidade mais preta do País”, tendo 22 anos de cotas raciais e colocado no mercado de trabalho mais de 180 mil profissionais negros em várias áreas. “As cotas raciais fizeram aquela universidade mais brasileira”, sublinhou. A reitora da Uerj agradeceu a FAPERJ pelo apoio, especialmente à extensão universitária, que, para ela, é uma condição de diálogo direto com a sociedade.
A recém-eleita reitora da Uenf, Rosana Rodrigues, também fez uma breve apresentação da instituição idealizada por Darcy Ribeiro, que apesar de jovem (30 anos) já tem números expressivos: oferece 20 cursos de graduação, dos quais 16 na modalidade presencial além de 16 programas de pós-graduação e realiza pesquisas em diferentes áreas de conhecimento. Rosana destacou também o papel da Uenf no estímulo à tecnologia e inovação, tendo incubado 23 startups, muitas delas apoiadas pelos programas da FAPERJ, que atuam promovendo uma “verdadeira revolução” no interior do estado. Segundo ela, entre as soluções inovadoras surgidas no ecossistema de inovação da universidade estão as voltadas para o setor da agricultura, como sementes melhoradas, como as de mamão; e projetos de inovação em tecnologia social como educação ambiental para mais de 200 pescadores.
O procurador do estado Rodrigo Botelho destacou o papel do sistema jurídico para proporcionar eventos de grande porte no Rio de Janeiro. Lembrando que o sistema jurídico na área de Tecnologia e Inovação é muito complexo, Botelho destacou seu papel de estabelecer e disciplinar o sistema de C,T&I, principalmente relacionando o sistema público e privado. “Existe um leque de instrumentos a serem usados nessa área, e mais recentemente contamos com a nova lei estadual que regulamentará o setor de C,T&I para permitir o sucesso e segurança dessas realizações”, alegou.
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Empreendedores e pesquisadores contemplados em editais lançados pela FAPERJ participaram de palestras e pitches no estande da Fundação no Armazém 4 (Foto: Montagem/Divulgação) |
Caroline Alves, presidente da Faetec, também apresentou um vídeo sobre as obras e a inauguração - a partir de janeiro de 2024 - de oito novos Centros Tecnológicos de Inovação em parceria com os municípios. Dotados de laboratórios de energias renováveis, confeitaria, química, elétrica e biologia fomentando empregos e fazendo com que as cidades não sejam apenas dormitórios. O centro tecnológico terá hubs de inovação para reunir startups para a difusão de novos empreendimentos. Para Caroline, a missão dos centros é contribuir para fomentar o ensino profissionalizante e técnico com base nas necessidades dos municípios. Ela destacou o papel da Rio Innovation Week para que a sociedade possa conhecer a inovação.
O presidente da FAPERJ, Jerson Lima, falou da sua gratidão à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado, pois tem sido recompensado com o apoio da Secti que vêm permitindo à FAPERJ promover, através dos recursos aplicados em CT&I, uma verdadeira revolução. Lima também atribui esse apoio à possibilidade de manutenção das instituições de excelência sediadas no estado, como a Uerj, por exemplo. Ressaltou que nos últimos meses a Fundação lançou cerca de 70 editais, ofertando bolsas desde a pré-iniciação científica até a pós-graduação, sendo o pós-doutorado contemplado com o maior número de bolsas, incluindo empreendedores. Jerson Lima lembrou que uma das ganhadoras do prêmio Nobel de Medicina deste ano, a bioquímica húngara Katalin Karikó, precisou sair de seu país natal e mudar-se para os Estados Unidos para viabilizar seus estudos de terapia gênica com o RNA. “Temos muitos talentos e temos feito um enorme esforço da Fundação, por meio dos apoios, para evitar evasão de pesquisadores para o exterior. Jerson também destacou os editais que vêm apoiando meninas e mulheres na ciência em busca da redução da desigualdade de gênero. “Tivemos 370 inscritas e concedemos 70 bolsas, mas se tivéssemos mais recursos poderíamos ter apoiado cerca de 300 projetos, tal o nível elevado das pesquisas”, disse o presidente da FAPERJ. Jerson Lima lembrou que a Fundação é uma agência regional com uma missão de estado e encerrou sua fala convidando a todos a visitarem o estande e assistirem as palestras apresentadas pela FAPERJ na RIW.
A diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, disse também ser muito grata por compor o corpo docente da Uerj e por trabalhar na FAPERJ, cujo apoio impediu o fechamento de diversos laboratórios nos últimos anos. Nascida em Uberlândia, cidade do Triângulo Mineiro, Eliete também se considera uma “retirante”. Descendente de imigrantes, seu pai nasceu na África (Egito), seu avô é argelino, a avó marroquina e a mãe brasileira. Eliete ressaltou a capacidade do Brasil em oferecer oportunidades para imigrantes e aceitar a diversidade: “O Brasil é um dos poucos países em que as pessoas têm a permeabilidade vertical”, explicou sobre as oportunidades de crescimento que o País oferece. Ela destacou o olhar diferenciado que a FAPERJ tem dedicado às pesquisadoras mães. Eliete ressaltou o papel da RIW em aproximar o setor público do privado e vice-versa, criando pequenas pontes (“que na minha terra chamamos de pinguela”) para ampliar possibilidades e participações. A diretora Científica da FAPERJ defendeu que o Brasil tenha na inovação a mesma excelência que possui na produção científica.
Aquilino Senra, diretor de Tecnologia da Fundação, fez coro com o presidente da FAPERJ, que segundo ele, “de forma delicada solicitou à Secti aumento dos recursos a serem aplicados em C,T&I em 2024. Ele destacou que o Brasil ocupa o 14º lugar no ranking da produção científica enquanto está no 49º lugar no ranking de inovação. “Caso não existisse a Faperj, a ciência brasileira não estaria nesse patamar”, afirmou Senra. Segundo ele, é preciso aproveitar esse capital humano no processo de desenvolvimento tecnológico, mas lembrou que a insegurança jurídica inibe algumas iniciativas. Ele destacou a contribuição de programas como o Doutor Empreendedor, majoritariamente composto por jovens. “Em 20 anos teremos um estado diferente, não só nas soluções tecnológicas, mas no empreendedorismo social para solucionar os problemas de desigualdade”, previu. Ele deu o exemplo do setor de óleo e gás, que há quatro décadas era desacreditado e hoje é caracterizado por agregar tecnologia de ponta em prospecção. “Estar com vocês aqui é parte dessa construção”, encerrou.