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Publicado em: 27/04/2023 | Atualizado em: 27/04/2023

Projeto coloca em pauta o samba, patrimônios negros e diáspora africana

Débora Motta

Capa da Samba em Revista, publicação do Museu do Samba, em parceria com o Labhoi e o PPGH, da UFF, e o Leafrica/UFRJ (Ilustração: Mulambö)

Elementos fundamentais da cultura afrobrasileira, o samba, o jongo, o congado e o candomblé são destaques na 13ª edição de Samba em Revista, publicação oficial do Museu do Samba, que reúne 15 artigos inéditos sobre a diáspora negra e os patrimônios imateriais de matriz africana. A publicação é fruto de uma parceria entre o Museu do Samba – instituição cultural localizada na Mangueira, berço de bambas na Zona Norte do Rio –, o Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi) e o Programa de Pós-Graduação em História, ambos da Universidade Federal Fluminense (UFF); e o Laboratório de Estudos Africanos, do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Leafrica/UFRJ).   

A revista online surgiu como desdobramento do 1º Encontro Internacional Samba, Patrimônios Negros e Diáspora, realizado de forma totalmente virtual durante a pandemia, de 20 a 22 de outubro de 2021, com apoio da FAPERJ, por meio do edital Apoio à Organização de Eventos Científicos, Tecnológicos e de Inovação no Estado do Rio de Janeiro. As palestras foram registradas em vídeos e estão disponíveis aqui. “Entendemos que aquele era um momento importante para discutir a história dos patrimônios negros na luta antirracista, e para isso convidamos expoentes da cultura negra, detentores de saberes populares, como líderes do jongo e do congado, e especialistas e profissionais que trabalham em museus”, contou a historiadora Martha Campos Abreu, professora titular do Departamento de História da UFF, que foi contemplada pela FAPERJ como Pesquisadora Visitante na Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP/Uerj).

Na publicação Samba em Revista, Martha assina o artigo intitulado “Por uma história da patrimonialização da cultura afrodiaspórica”. Ela propõe uma reflexão sobre a cultura africana que se dispersou pelo mundo, no processo de imigração forçada durante o tráfico transatlântico, levando em conta as várias Áfricas que se recriaram nas Américas. “Ao longo de quatro séculos, foram muitos lugares de origem e diferentes tempos de chegada, variáveis que permitiram constantes renovações das tradições, em meio a novas configurações e interações com os que tinham chegado antes”, discorreu a pesquisadora. O artigo fala sobre o processo de patrimonialização do jongo, que em 2005 se tornou patrimônio imaterial. “É uma história da luta e valorização dos jongueiros. Em todo o Sudeste do Brasil, há comunidades de jongo”, completou.

Paralelamente, Martha se dedica a pesquisas sobre a música negra no pós-abolição, com destaque para os músicos que atuavam na região central do Rio conhecida como Pequena África. “Eduardo das Neves, conhecido como “Crioulo Dudu”, por exemplo, foi um músico importante no início do século XX. Era o rei do lundu e foi o primeiro negro a gravar um disco na indústria fonográfica brasileira, pela Casa Edison, representante brasileira da Odeon”, contou. Ela também está investigando sobre o Quilombo do Bracuí, localizado em Angra dos Reis, região da Costa Verde fluminense. “Tenho me dedicado a estudos sobre um navio escravagista que naufragou nas proximidades do Quilombo do Bracuí, causando a morte de centenas de pessoas vítimas do tráfico negreiro. Alguns sobreviveram e se refugiaram no quilombo”, resumiu.

A partir da esq., Martha, Nilcemar e Desiree: seja no museu ou na academia, elas propõem reflexão sobre a cultura africana que se dispersou pelo mundo, a memória e a luta antirracista (Fotos: Divulgação)

A coordenadora do Museu do Samba, Nilcemar Nogueira, ressaltou a relevância da publicação, que tem a finalidade de difundir não só a história do samba, mas questões de identidade cultural. “Essa edição especial do Samba em Revista tem uma importância grande porque os temas são extremamente atuais em relação ao direito da memória, num momento em que há reivindicação por novas narrativas, mais inclusivas, já que o processo de construção da historiografia oficial por muito tempo foi uma via de mão única. Temos um ponto em comum que são as consequências da diáspora africana, pois a desigualdade racial e o preconceito assolam o mundo todo. Os museus, como o Museu do Samba, têm um novo papel social. Não se trata apenas de um lugar para o público visitar objetos, mas de um espaço para provocar reflexão e indignação, fazer o público pensar, sair do papel de mero expectador para se tornar agente da transformação social”, pontuou.

Já a museóloga Desirree dos Reis Santos, colaboradora do Museu do Samba, destacou a amplitude da participação de palestrantes, pesquisadores e agentes culturais, detentores de saberes populares, de toda a região conhecida como Atlântico Negro. “O projeto fala sobre essa história que remete a todos esses países envolvidos na escravidão e na diáspora africana, que molda o mundo moderno. A inclusão de detentores de saberes populares reforça o caráter democrático desse debate sobre o racismo e as políticas de reparação em relação à escravidão”, concluiu Desirree.

Assinam os artigos pesquisadores e representantes de diversos museus, universidades e associações dedicados à memória da escravidão e cultura afro no Brasil e no exterior. São eles: Anthony Bogues (Brown University, EUA); Kim D. Butler (Rutgers University, EUA); Vinícius Ferreira Natal (Labhoi/UFF); Hebe Mattos (Labhoi/UFF e Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF); Vanicléia Silva Santos (University of Pennsylvania e Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG); Ana Luzia da Silva Morais (Universidade Federal de São João del-Rei – MG); Desirree dos Reis Santos (Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UniRio e do Museu de Astronomia e Ciências Afins – Mast, e Museu do Samba); Marilda de Souza Francisco (Associação dos Remanescentes do Quilombo de Santa Rita do Bracuí – Arquisabra); Jessika Rezende Souza da Silva (Secretaria de Educação – SEEDUC-RJ); Iohana Brito de Freitas (University of Illinois at Urbana Champaign); Aline Montenegro Magalhães (Museu Paulista da Universidade de São Paulo); Marcia Sant’Anna (Universidade Federal da Bahia); Nilcemar Nogueira (Museu do Samba); Maria de Fátima da Silveira (Centro de Referência e de Estudo Afro do Sul Fluminense); e Martha Abreu (Instituto de História da UFF). O prefácio é de Gegê Leme Joseph, gerente sênior de programas da Coalizão Internacional de Sítios de Consciência.   

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