Débora Motta
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Parte da equipe envolvida no projeto, durante encontro no Lamet/Uenf: a partir da esq., Gildo Rafael, Maria Gertrudes Justi, Eliane Santos e Alfredo Silveira (Foto: Divulgação) |
Com um olho na previsão do tempo e outro no surgimento de doenças transmitidas por mosquitos (as arboviroses), como a dengue, zika e chikungunya. Essa é uma das atividades do trabalho da meteorologista Maria Gertrudes Justi, que coordena na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), no campus de Macaé, um projeto multidisciplinar com o objetivo de investigar a relação entre os microclimas em diferentes bairros da cidade e a proliferação dos mosquitos e, consequentemente, das arboviroses. A pesquisa foi contemplada pela FAPERJ por meio do edital Auxílio Básico à Pesquisa (APQ1) em Instituições Estaduais de Ciência e Tecnologia (Uerj, Uenf e Uezo) - 2021.
A meteorologista destaca que o estudo dos fenômenos climáticos, além de fundamental para a compreensão da natureza e previsão de catástrofes, como enchentes, ganha uma aplicabilidade muito útil também na área da Saúde. “A variação climática está intimamente relacionada ao surgimento de doenças. No caso das arboviroses, as condições de umidade e temperatura determinam o nível de proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como febre amarela, dengue, zika e chikungunya”, justificou.
Como chefe do Laboratório de Meteorologia da Uenf (Lamet), ela trabalha na implantação de estações meteorológicas em escolas e pontos estratégicos espalhados pelos diversos bairros de Macaé, para monitoramento do microclima em toda a região. Os sensores instalados nas estações captam dados como temperatura, umidade, vento, precipitação, radiação solar global e índice ultravioleta (UV), que são enviados em tempo real para um console na área administrativa da escola, e depois seguem para uma “nuvem” na internet.
Além de fornecer subsídios para as pesquisas do Lamet, os dados coletados nas estações meteorológicas podem ajudar a Defesa Civil a lidar com eventos climáticos de impacto, como as fortes chuvas que atingiram a cidade recentemente, em dezembro de 2022 e em fevereiro deste ano. “Temos uma visão multidisciplinar da Meteorologia, aplicada às áreas da Saúde e da Educação, pois os alunos das escolas públicas onde estão implementadas as estações meteorológicas também podem aprender Ciências participando de atividades sob coordenação dos professores, nas estações”, disse a meteorologista.
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Equipe do Lamet durante inauguração de estação meteorológica no Instituto Nossa Senhora da Glória/Castelo, que irá coletar dados sobre o clima em Macaé (Foto: Divulgação/Paolla Itagiba) |
O projeto conta com uma equipe multidisciplinar. “Nas proximidades das escolas onde instalamos estações meteorológicas, estamos trabalhando na instalação de armadilhas para capturar as fêmeas dos mosquitos e identificar exatamente quais espécies que se desenvolvem no determinado microclima daquele bairro”, explicou o biólogo William da Costa Marinho, que cursa doutorado no Instituto de Sustentabilidade e Biodiversidade (Nupem) da UFRJ em Macaé. “O clima é um fator determinante porque oferece o ambiente ideal para os mosquitos, principalmente a chuva, precipitação e acúmulo de água favorecem o desenvolvimento do inseto. A temperatura é outro fator predominante, a umidade acelera ou retarda o desenvolvimento das larvas”, detalhou.
No município de Macaé, já foram instaladas estações meteorológicas no Mirante da Lagoa e em Trapiche, e nas escolas Nossa Senhora da Glória (Miramar), Colégio Ativo (Glória), Colégio de Aplicação de Macaé (Granja dos Cavalheiros), Colégio Télio Barreto (Aroeira) e Colégio Irene Meirelles (Imbetiba), além da Escola Edilson Duarte, em Cabo Frio, e no Colégio Jacintho Xavier Barreto, em Rio das Ostras.
Participam ainda do projeto os meteorologistas Eliane Barbosa Santos, professora do Lamet/Uenf, e Alfredo Silveira da Silva, da UFRJ; a imunologista Lilian Bahia, da UFRJ, que se dedica ao estudo da toxoplasmose e vai avaliar como ocorre a evolução desta doença de acordo com cada microclima e a água contaminada; o biólogo Gildo Rafael Santana, aluno de doutorado do Instituto Federal Fluminense (IFF), e alunos de graduação do curso de Engenharia Meteorológica (bolsistas de extensão da Uenf e uma bolsista de Iniciação Científica Nota 10 da Universidade).
Justi soma 47 anos de dedicação à vida acadêmica. Depois de ser professora por anos no curso de graduação em Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Fundão, ela foi responsável pela implantação do curso de Engenharia Meteorológica na Uenf, em 2020, ajudando a difundir o conhecimento no interior fluminense. “Já temos proposta de criação de mestrado em Clima e Energia porque Macaé é a capital nacional do petróleo e, em breve, vai virar a capital nacional em energia. Essa é a missão da Uenf e Darcy Ribeiro tinha essa visão da importância de trazer o estudo para a nossa região”, concluiu.