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Publicado em: 05/04/2023 | Atualizado em: 05/04/2023

Proteína Spike pode ser a chave da perda de memória em síndrome Pós-Covid

Claudia Jurberg

A proteína Spike (vermelho) do SARS-CoV2 (cinza) estimula as células imunes cerebrais (amarelo) a fagocitar vesículas sinápticas neuronais (verde)

O prejuízo de memória tardio e persistente é um dos sintomas muito comuns após a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 da Covid-19. Entretanto, o mecanismo desse fenômeno ainda não é compreendido.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) conseguiram inserir mais uma peça nesse quebra-cabeça. Eles fizeram experimentos com camundongos e demonstraram que a infusão de proteína Spike do SARS-CoV-2 no cérebro desses animais induz prejuízo de memória que se desenvolve tardiamente, de forma semelhante à síndrome pós-Covid em seres humanos. O artigo foi publicado no prestigioso periódico Cell Report, do grupo Cell, e cujo fator de impacto é 9,99.

Os 25 pesquisadores brasileiros que assinam o artigo observaram que o cérebro dos animais desenvolve um intenso processo inflamatório com aumento da quantidade e do estado de ativação da micróglia - uma das principais células cerebrais, envolvida com a resposta imune inata, e cujo papel é essencial quando se trata de doenças neuroinflamatórias.

A causa do prejuízo de memória induzido pela proteína Spike está associada com a eliminação de sinapses neuronais por essas células microgliais ativadas no hipocampo. O hipocampo é uma estrutura relacionada com a função cognitiva, explica uma das líderes da pesquisa, Claudia Figueiredo, da Faculdade de Farmácia, da UFRJ.

Nos experimentos, os pesquisadores fizeram apenas uma infusão de proteína recombinante, parecida com a Spike do SARS-CoV-2, diretamente no cérebro de camundongos e acompanharam as mudanças comportamentais em dois tempos distintos: as fases “aguda” e “tardia”, correspondendo a avaliações realizadas na primeira semana e entre 30 e 60 dias. Para a avaliação da função de memória dos camundongos, os pesquisadores usaram diferentes estratégias comportamentais, incluindo os testes de reconhecimento de padrões e do labirinto aquático.

Eles identificaram um papel essencial do receptor do tipo TRL 4 (de Toll-like receptor), que faz parte de uma família de proteínas do sistema imunológico, e é considerada uma molécula central no desenvolvimento do prejuízo de memória induzido pela Spike.

"A ativação do TRL4, pela proteína viral, induz neuroinflamacão, que resultará na eliminação de proteínas sinápticas pela micróglia. É um processo de fagocitose, no qual a microglia 'come' as proteínas sinápticas, levando ao prejuízo de memória", explica Figueiredo.

A partir da esq., Fabricia Fontes-Dantas, primeira autora do artigo e bolsista de doutorado Nota 10 da FAPERJ; e as pesquisadoras Giselle Fazzioni Passos, Claudia Figueiredo e Andrea Da Poian, que participaram do estudo (Foto: Divulgação)

Os animais modificados, geneticamente, que não possuem o TRL4 ou animais tratados com um fármaco inibidor deste receptor, não desenvolveram a perda sináptica, tampouco perda de memória após infusão cerebral de proteína Spike, esclarece Giselle Passos, também da Faculdade de Farmácia, da UFRJ, e outra líder deste estudo.

Os pesquisadores também identificaram que pacientes com polimorfismos no gene do TLR4, que resulta em maior expressão deste receptor, apresentam maior risco para desenvolvimento de prejuízos de memória tardios após infecção pelo SARS-CoV-2.

Figueiredo e Passos afirmam que esses resultados demonstram que a proteína Spike tem um papel central no desenvolvimento das alterações cognitivas do pós-Covid e que o TLR4 é um alvo promissor para o desenvolvimento de estratégias preventivas e terapêuticas para evitar ou tratar a perda de memória provocada pelo SARS-CoV-2.  

A integração de grupos de pesquisa, incluindo pesquisa básica e clínica, foi fundamental para desenvolvimento da pesquisa. Figueiredo ressalta ainda a liderança compartilhada com a cientista Andrea da Poian, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, e com a médica neurologista Soniza Alves-Leon, que coordenada a unidade de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ e o Laboratório de Neurociência Translacional da UniRio. E as colaborações das pós-doutorandas Fabrícia Fontes-Dantas e Gabriel Fernandes, ambos bolsistas nota 10 da FAPERJ.

Este estudo foi financiado pela FAPERJ e pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), e contou com bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

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