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Publicado em: 23/03/2023 | Atualizado em: 23/03/2023

Startup cria primeira tinta 100% natural à base de pigmentos vegetais do mercado

Paula Guatimosim

O artista plástico Luís Paulo Straccion testou e aprovou as tintas orgânicas nessa pintura do bicho-preguiça 

Arte, terapia e diversão é a proposta da Mancha Orgânica, um dos poucos itens de origem sustentável para o entretenimento de crianças. Diferente das opções “naturais” comumente encontradas no mercado, como bonecas de pano e brinquedos de madeira, cuja origem nem sempre é conhecida, a Mancha busca aplicar a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva, acompanhando desde a produção da matéria-prima, passando pela produção da tinta, até a logística de distribuição. 

A economia circular está presente na cadeia de alguns insumos como, por exemplo, da erva-mate, utilizada para a obtenção da tinta verde. Neste caso, a fração da erva-mate cuja granulometria não é utilizada para produção de chá e, portanto, seria descartada, é empregada para produção da tinta. A emissão de CO2 durante o processo de transporte e distribuição das tintas também é compensada com investimento em projeto de reflorestamento na Amazônia, uma parceria da Mancha Orgânica com a Eccaplan Consultoria em Sustentabilidade. No processo de consumo e produção sustentáveis, alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o desafio da empresa foi misturar ciência, alquimia e diversão, cuidando para que cada detalhe impacte positivamente a sociedade e o meio ambiente.

Segundo Amon Costa, um dos idealizadores da startup, tudo começou em 2011, na faculdade de Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), quando ele e os amigos Pedro Ivo Costa e Rafael D’ Ávila resolveram buscar uma solução sustentável de tinta para atender a um projeto do Núcleo de Meio Ambiente da PUC. As primeiras experiências foram realizadas nas cozinhas de suas casas, mas a participação de sua irmã, Martina Pinto, a partir de 2017, foi fundamental para o desenvolvimento e estabilização do produto, que hoje contempla as sete cores do arco-íris. Martina ingressou na equipe para auxiliar no aprimoramento de formulações que já haviam sido desenvolvidas, desenvolver novos materiais para utilização em outros setores e auxiliar no escalonamento dos processos de produção das tintas. Segundo a engenheira química, os produtos da Mancha possuem uma base natural atóxica cuja composição é basicamente vegetal, livre de metais pesados e compostos sintéticos.

Corantes, pigmentos e tintas orgânicas à base de vegetais são uma alternativa sustentável aos produtos sintéticos convencionais que, muitas vezes, apresentam metais pesados e/ou resinas acrílicas em sua formulação. Além de cores e aromas diversos, cada vegetal que empresta sua cor para a produção das tintas resulta em um produto com consistência e textura diferentes. Para agregar à proposta a educação ambiental, cada tinta foi associada a um mascote, que representa um animal existente em um dos biomas brasileiros. A Urucum Carnaval, por exemplo, associada ao sentimento de liberdade, tem como mascote o Tucano-de-bico-preto, cujo estado de conservação é considerado “vulnerável”. Já o Amarelo do Cerrado, que estimula a curiosidade, tem como mascote o Lobo-Guará, também enquadrado na categoria “vulnerável”. Representando a Amazônia, a Beterrosa, tinta à base de beterraba, representa paciência e seu mascote é o Boto-Rosa, cuja população encontra-se “em perigo”.

São sete cores de tintas, que vêm embaladas em potes de 50ml e 150ml (Fotos: Divulgação)

O público-alvo da Mancha Orgânica é o infantil, não só pela carência de produtos sustentáveis para seu entretenimento, mas, também, por sua maior percepção e recepção a essa proposta lúdica. Junto a esse público, a Mancha espera contribuir para a formação de uma nova geração mais consciente, mais integrada e conectada com a natureza, arte, conceitos de sustentabilidade e economia circular. A marca atualmente direciona seus esforços para a construção de um relacionamento com crianças, pais e educadores. Para tal, oferece conteúdo instrutivo para pais e educadores; divulga conceitos relacionados à educação, à arte e à sustentabilidade; estrutura novas metodologias didáticas e, por fim, cria produtos artísticos, sensoriais e terapêuticos. Artistas plásticos como Gustavo Barbosa e Luís Paulo Straccion, que ilustram a capa e a imagem de abertura desta matéria, também aprovaram essa alternativa ecológica.

De 2015 a 2019 a equipe da Mancha realizou oficinas para mais de quatro mil crianças. Devido às propriedades aromáticas e táteis das tintas, que podem ter, por exemplo, textura arenosa, gelatinosa e pastosa, a equipe também realizou oficinas para 140 crianças do espectro autista, com excelentes resultados de interação. Os produtos, em embalagens de 50ml a 150ml, podem ser adquiridos no site https://www.manchaorganica.com.br

A Linha Criança e Natureza, por exemplo, foi criada para estimular o desenvolvimento cognitivo e sensório-motor dos pequenos. “Pintar com os pigmentos vegetais é também aprender sobre a biodiversidade brasileira e preservar a natureza”. Em breve serão lançados também no mercado o giz de cera e o giz pastel oleoso. Os sócios também pretendem apostar no mercado de cosméticos de origem vegetal. “Oferecemos uma alternativa sustentável para diferentes setores. Além de promovermos a purificação de processos, oferecemos às indústrias a possibilidade de oferta de novos produtos ao consumidor final, como embalagens recicláveis, cosméticos mais naturais e tecidos com colorações mais vibrantes, abrindo um novo leque de produtos renováveis”, acrescenta Martina.

A Mancha Orgânica é uma spin-off da Zebu Mídias Sustentáveis, estabelecida na Incubadora de Empresas do Instituto Alberto Luiz de Coimbra de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) em 2016, ano em que venceu o Desafio Nacional de Negócios e Biodiversidade. Em 2019, foi a 10ª colocada na categoria Biotecnologia no disputado 100 Open Startups Ranking, que destaca as startups mais atraentes para o mercado corporativo e as corporações líderes em open innovation. Neste mesmo ranking, ocupou o 3º lugar na categoria Materiais no ano anterior. Em 2019 a Mancha Orgânica foi contemplada em dois editais da FAPERJ: "Apoio à Inserção de Pesquisadores em Empresas” e "Apoio à Inovação em Micro, Pequenas e Médias Empresas no Estado do Rio de Janeiro InovAção Rio".

Amon Costa e Martina Pinto: irmãos com habilidades distintas tornam a startup bem colocada em diversos rankings e desafios 

“O incentivo da FAPERJ vem sendo fundamental, em especial no processo de certificação pelo Inmetro e para a expansão da aplicação das tintas em outros setores”, garante Amon Costa. Segundo ele, após testes com mais de 50 pigmentos diferentes, a Mancha selecionou uma paleta de sete cores. “I’m not heavy metal” é um dos slogans da Mancha para afirmar que o produto é livre de metais pesados. Outras mensagens são “100% vegetal, não testado em animais, 0% plástico e 0% petróleo". Um dos principais desafios tecnológicos enfrentados pela engenheira química foi o processo mais intenso de degradação das tintas naturais (fotodegradação, termodegradação e decomposição biológica), quando comparadas aos produtos sintéticos. “Assim, processos mais criteriosos de desinfecção e esterilização são empregados de forma a garantir maior estabilidade biológica das tintas”, esclarece Martina.

A pesquisadora conta que a rica biodiversidade brasileira possibilita a exploração de inúmeras matérias-primas. Ela explica que além da cor, a Mancha busca materiais que possuam aromas e texturas distintos, estimulando o desenvolvimento sensório-motor, principalmente das crianças. A Mancha se preocupa também em obter, quando possível, compostos a partir de resíduos agrícolas, favorecendo o beneficiamento da cadeia produtiva e estimulando a bioeconomia. Em 2018, por exemplo, a empresa oficializou a primeira colaboração para o reaproveitamento de um subproduto da cadeia de alimentos, com a Iniciativa Araucária+, apoio da Fundação Certi e da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. E, em 2019, lançou a tinta de erva-mate orgânica matéria-prima produzida em Santa Catarina com padrões de sustentabilidade e que contribui com a conservação de 180 hectares de Floresta com Araucárias.

Em relação à “falsa percepção” de que os produtos naturais e sustentáveis costumam ser mais caros que os sintéticos, Amon crê num futuro em que todos os produtos não sustentáveis serão sobretaxados e perderão competitividade e aceitação. “Vai chegar o tempo em que a sustentabilidade será uma regra de mercado”, afirma Amon Costa. 

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