Excesso de exercícios e dieta sem orientação podem causar danos irreversíveis
Marina Lemle
A idéia de que atletas têm saúde perfeita nem sempre condiz com a rea-lidade, sobretudo no caso das mulheres. A tríade da mulher atleta é um exemplo de patologia que pode afetar aquelas que exageram na prática de exercícios e fazem dietas sem orientação médica.
O problema, que reúne três sintomas - amenorréia (disfunção menstrual), osteoporose e transtornos alimentares é estudado no mundo há cerca de dez anos e é o foco das pesquisas da professora Fátima Palha de Oliveira, do Departamento de Biociências da Atividade Física da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ e pesquisadora do Instituto Virtual dos Esportes da FAPERJ.
As exigências do esporte, somadas à imposição de padrões de beleza, levam atletas a restringir a alimentação e a se exercitar à exaustão. A baixa ingestão calórica e o gasto excessivo em treinos causam disfunções como a amenorréia primária (primeira menstruação após os 16 anos) e a secundária (mais de três meses sem o ciclo). Já o aumento do hormônio endorfina provocado pelo esforço reduz a produção de hormônios femininos que desencadeia a osteoporose, irreversível.
Pesquisas mostram que corredoras, ginastas, bailarinas e nadadoras são mais suscetíveis à tríade da mulher atleta. Adolescentes são a maior preocupação. Quando querem perder peso rápido, recorrem a práticas desaconselháveis, como exercícios com roupas para suar, uso de diuréticos e laxantes, jejuns e até o vômito forçado. Estas adolescentes, sem orientação médica, nutricional e psicológica, estão fadadas a desenvolver osteoporose precoce, já que 95% da massa óssea é formada até os 18 anos, atesta Fátima.
Aplicando questionários a atletas de diversas modalidades da EEFD, Fátima investiga a presença de sintomas que podem evoluir para doenças. Já foram pesquisados transtornos alimentares, alterações na imagem corporal e disfunções menstruais em atletas de ginástica rítmica, futebol de salão, corrida de longa distância e nado sincronizado. Foram avaliadas 12 atletas na faixa dos 20 anos e 4,6 anos de treinamento e que se exercitam 13,8 horas por semana. Os resultados foram comparados com os de 32 não-atletas pouco mais jovens, com cerca de 15 anos.
O Body Shape Questionnaire, que avalia o grau de satisfação com a imagem corporal, apontou que 33% das atletas têm leve distorção da auto-imagem, mesmo estando nos padrões esperados. O Bulimic Investigatory Test Edimburgh, que identifica bulimia nervosa, apontou 16,6% das atletas com padrão alimentar não-usual, mas sem gravidade. Estas também apresentaram distorção de auto-imagem. O estudo foi publicado em dezembro de 2003 na Revista Brasileira de Medicina do Esporte.
Segundo Fátima, os resultados não caracterizam bulimia ou anorexia, mas indicam a necessidade de prevenção. Queremos fazer um trabalho preventivo, mas ainda há resistência dos treinadores, afirma. Ela conta que a intervenção de nutricionistas da UFRJ na equipe carioca de nado sincronizado vem dando excelentes resultados.
Mais informações:
Artigos científicos brasileiros e estrangeiros sobre a Tríade da Mulher Atleta
Comportamento alimentar e imagem corporal em atletas
Fátima Palha de Oliveira, Maria Lúcia Magalhães Bosi, Patrícia dos Santos Vigário e Renata da Silva Vieira, Revista Brasileira de Medicina do Esporte, dezembro de 2003
Comportamentos bulímicos em atletas adolescentes corredoras de fundo
Maria Lúcia Magalhães Bosi e Fátima Palha de Oliveira
Revista Brasileira de Psiquiatria, março, 2004
Escalas de avaliação de transtornos alimentares
Táki Athanássios Cordas, Revista de Psiquiatria Clínica, Universidade de São Paulo, janeiro/fevereiro 1999.
Instrumentos para a avaliação dos transtornos alimentares
Sílvia Freitas, Clarice Gorenstein e Jose C. Appolinario, Revista Brasileira de Psiquiatria, dezembro de 2002.
Distúrbios nutricionais em atletas femininas e suas inter-relações
Teresa Cristina Ciavaglia Vilardi, Beatriz Gonçalves Ribeiro e Eliane de Abreu Soares, Revista de Nutrição, Janeiro/abril de 2001
Eating disorders among male and female elite athletes
J. Sundgot-Borgen, British Journal of Sports Medicine 1999
Perda de Tecido Ósseo em Atletas Femininas
Am Family Physician, eHealth Latin America, junho de 2000
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