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Publicado em: 22/03/2007
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UFRJ investiga uso e preservação de rios, lagoas e cachoeiras do Rio

Mônica Maia

 Divulgação Prourb - FAU/UFRJ

 

Projeto da UFRJ verifica os acessos públicos
à lagoa do Camorim, no bairro de Jacarepaguá  

Apesar de identificado com o mar, praias e baía, o Rio de Janeiro tem mostrado em sua evolução urbana uma constante desconsideração com rios e lagoas. Ocultados, canalizados, aterrados ou drenados, transformados em fundo de lote, eles têm se transformado em depósitos de resíduos e aos poucos vão morrendo. Essa relação da cidade do Rio de Janeiro com as águas de seus rios, lagoas e cachoeiras é tema da investigação de Lúcia Maria Sá Antunes Costa, do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo - Prourb, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no programa Cientistas do Nosso Estado.

Em vez de patrimônio natural e estruturas paisagísticas para uso da população, as águas urbanas transformam-se em saídas de esgoto e foco de poluição. Este foi, por exemplo, o caso das cianobactérias geradas na lagoa de Jacarepaguá, que poluíram a praia da Barra neste verão. Embora nossas águas urbanas sejam parte da paisagem, de um modo geral não aparecem no discurso da cidade. Nesta semana comemorativa do Dia Mundial da Água, em 22 de março, esse projeto é testemunha da inviabilização de acessos públicos, poluição e ausência de projetos urbanísticos, legislação e políticas eficazes de preservação das lagoas da Zona Oeste do Rio e rios da Sul.   

"Toda a força de imagem da cidade está principalmente ligada ao mar e às montanhas. Comecei a estudar o tema para buscar entender porque os rios cariocas geralmente não aparecem na paisagem urbana. O Rio de Janeiro possui uma rede hidrográfica composta por quase trezentos rios, que cruzam a cidade através de suas florestas, áreas livres públicas, áreas de uso industrial, comercial, institucional, residencial, entre muitas outras. No entanto, devido ao processo de urbanização, estes rios estão em grande parte ocultos da paisagem urbana. Canalizados, cobertos ou não com lajes de concreto, recebendo as águas pluviais e o esgotamento da cidade, não são mais legíveis enquanto rios", explica.

Isso ocorre porque muitos deles são mesmo desconhecidos pela maioria da população. Entre as lagoas, a que realmente tem uso público e visibilidade é a Rodrigo de Freitas, a maior da Zona Sul da cidade: "O complexo lagunar da Baixada de Jacarepaguá está cada vez mais escondido. A ocupação urbana que se dá na região, em grande escala e de forma acelerada, oculta as lagoas da paisagem pública daquela área da cidade, tornando-as um espaço residual - bem diferente do uso que se faz com a Rodrigo de Freitas", alerta a pesquisadora e professora Lúcia Maria Sá Antunes Costa.

Segundo a urbanista, um dos maiores fatores de preservação é a visibilidade: "Quanto mais se esconde a água, mais fácil aterrar e poluir. Ao constatar este fato, não apenas no decorrer desta pesquisa como também na nossa própria vivência da cidade, compreendemos que uma das atitudes mais prementes para a revalorização destes rios seria a de torná-los visíveis para a população, para os projetistas e, curiosamente, também para quem administra a cidade. Estudamos esses casos procurando investigar a relação entre discursos e práticas no que diz respeito à inserção paisagística dos rios e lagoas do Rio", analisa. Muitos dos rios cariocas estão canalizados ou mortos, resultado de políticas públicas desenvolvidas ao longo da nossa história urbana.

Nesse processo, testemunhamos a luta com a própria expansão da cidade, aterrando suas águas para ocupação do espaço urbano. Os rios foram sacrificados em prol do saneamento: "O rio é uma estrutura ambiental viva. Diria que nosso problema maior nos rios e lagos localiza-se hoje na Barra da Tijuca. Os rios e lagoas, que ocupam grande parte daquela região, só podem ser vistos e percebidos em fotos aéreas porque estão escondidos por condomínios, shoppings, complexos de escritórios e pela intensa favelização de suas margens", diz a pesquisadora.

Com essa abordagem, ela argumenta que os rios ainda a céu aberto são vítimas do conflito entre a habitação irregular e a preservação ambiental: "São áreas muito invadidas por habitações informais e condomínios irregulares em suas Faixas Marginas de Proteção. Um exemplo é o rio Guerenguê / Arroio Pavuna, em Jacarepaguá, que sai de Curicica e deságua na lagoa do Camorim. O rio Acari é outro. Um bom número deles passa por situações de insalubridade e propicia as enchentes", explica. Ela ressalta ainda que o plano urbanístico de Lucio Costa para a Barra da Tijuca previu a ocupação das margens das lagoas por unidades de conservação, mas foi desinterpretado e desrespeitado na maioria das vezes pela ocupação desenfreada da área.

A ocultação e a preservação das águas urbanas

A pesquisa Águas urbanas: discursos e práticas, inserida no Núcleo de Pesquisas em Paisagismo do PROURB, investiga essas relações entre águas, cidade e população, buscando propor subsídios para projetos e políticas públicas que possam valorizar os recursos hídricos pelos seus valores sociais e ambientais. Isto inclui o estudo de como as ocupações urbanas da Barra impedem o acesso aos rios e lagoas, e mostra que a população tem muito pouco acesso às suas margens.

"Fizemos uma pesquisa sobre a Lagoa do Camorim, por exemplo, e verificamos que o local tem muito pouca visibilidade e acessibilidade pública. Apesar dos jardins públicos projetados por Fernando Chacel, para se chegar lá temos que vencer uma série de obstáculos. O desenho da cidade não privilegiou, e não está privilegiando, o acesso público a essas áreas. Durante esse levantamento, na convivência com moradores da Barra e pessoas que passam pelo bairro notamos que eles não percebem que ali há uma lagoa. Hoje praticamente só através de imagens aéreas consegue-se identificar e avaliar a extensão do sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá da Barra da Tijuca", ressalta Lucia Costa.

Diante disso, a coordenadora da pesquisa indica uma rota para a preservação: "A questão ambiental diz respeito a um projeto de país, pois envolve ainda questões políticas, econômicas e legislativas, entre tantas outras. Nossa parte é buscar soluções em paisagismo, urbanismo e arquitetura, propondo projetos e formando novos profissionais com outra visão nestas áreas, e que possam agir em equipes interdisciplinares. É o que estamos fazendo aqui no Prourb da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. O novo grupo de profissionais que formamos trabalhará com esse direcionamento. Seja em órgãos públicos ou como profissionais liberais, eles podem mudar esse panorama", diz.

Qual a cidade do mundo que dispõe de rios e cachoeiras tão próximas às áreas urbanas como encontramos na Floresta da Tijuca, Paineiras e Horto? "Entre as grandes metrópoles não há um só exemplo de tal opção na área urbana. Antes se tinha como a melhor maneira de preservar uma estrutura ambiental protegê-la do olhar e do acesso público. Hoje entendemos que o uso público controlado é a melhor forma de preservação porque esse bem natural torna-se um bem de uso público", defende a urbanista.

Ela sublinha o valor das cachoeiras como estruturas de lazer, como nas Paineiras e Macacos, as mais famosas da Zona Sul, e que também servem como atração turística e parte da cultura do cotidiano. "As cachoeiras estão passando a ter outra forma de apropriação. Os grupos que fazem trilhas pelas florestas do Rio têm um excelente trabalho de divulgação e um papel importante na preservação ambiental", informa.

Outro resultado do levantamento dessa pesquisa é a produção do site Águas Cariocas, em construção. "Os rios estão em perigo, não participam da nossa vivência da cidade. Seus valores sociais e ambientais não têm sido incorporados ao desenvolvimento urbano. Imagine se a praia de Ipanema fosse um fundo de lote das construções na Avenida Vieira Souto? É o que está acontecendo com nossos rios e lagoas", avisa a urbanista.

 

 

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