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Publicado em: 05/08/2021
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Entrevista: Margareth Dalcolmo, médica pneumologista da Fiocruz

Débora Motta

Margareth Dalcolmo: a médica pneumologista destaca que a
necessidade de cuidados de proteção individual e coletivos deve
permanecer pelos próximos dois anos (Foto: Virginia Fuchs/Fiocruz)

A médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo foi eleita neste sábado, 31 de julho, "Personalidade 2020" pelo Prêmio Faz Diferença, organizado pelo jornal O Globo. Aos 66 anos, a cientista se notabilizou por sua destacada atuação desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), tornando-se uma das porta-vozes da Ciência, com orientações e informações confiáveis para a população. Ligada à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), ela já havia sido agraciada em maio com o Prêmio Nise da Silveira. Margareth possui graduação em Medicina pela Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Residência Médica em Pneumologia, especialização em Pneumologia Sanitária pela Fiocruz; e doutorado em Medicina (Pneumologia) pela Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A médica integrou a Comissão Ciência RJ no Combate à Covid-19” (ComCiênciaRJCOVID), criada em maio de 2020 por iniciativa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) para colaborar com estratégias e táticas para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 e que foi liderada pelo presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva. A cientista tem experiência na área de doenças respiratórias, tendo conduzido e participado de protocolos de pesquisa clínica e tratamento da tuberculose e outras micobacterioses. Foi ainda criadora e coordenadora do ambulatório do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Fiocruz, instituição nacional de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) para tuberculose e outras pneumopatias, que dirigiu de 2009 a 2012. Em entrevista concedida por telefone ao Boletim FAPERJ, ela avalia os desafios impostos pela pandemia à comunidade científica e à sociedade, a chegada da variante Delta, reafirma sua vocação como pesquisadora e fala do reconhecimento pelo Prêmio Faz Diferença.

BOLETIM FAPERJ – Como você recebeu a notícia da indicação ao Prêmio Faz Diferença do Globo?

Margareth Dalcolmo – Recebi com surpresa e emoção essa notícia, e com genuíno senso de dever porque é o reconhecimento de grandes jornalistas, da opinião pública. Tenho sempre tentado informar com a verdade, traduzindo informações científicas complexas em uma linguagem que todos possam compreender. Fiquei muito sensibilizada. Há colegas de muito mais valor do que eu. O Prêmio será entregue no dia 25 de agosto, em cerimônia presencial.

Quais são as perspectivas diante da chegada da nova variante Delta, do coronavírus, no Brasil?

Ela tem uma grande chance de se tornar uma variante dominante pela sua alta capacidade de transmissão, bastante superior às cepas originais, sobretudo a de Wuhan, na China. No Brasil, a exemplo do que vem ocorrendo em outros locais, ela deve se tornar dominante. No entanto, todas as vacinas até o momento mostram efetividade para as novas variantes. É esperado que uma vacina, diante de nova variante, pode perder biologicamente um pouco da sua capacidade protetora, mas os estudos feitos até agora mostram que são efetivas. A questão é que precisamos ter uma adesão às vacinas bastante maior e acelerar nosso ritmo de vacinação. Hoje temos menos de 20% da população brasileira, apenas, completamente imunizada. Isso nos preocupa, pois para termos ação efetiva e diminuir a hospitalização precisaríamos ter uma cobertura de vacinação bastante superior, com pelo menos 70, 80% dos brasileiros imunizados.

Na sua avaliação, como a comunidade científica brasileira tem lidado com os desafios impostos pela pandemia causada pelo novo coronavírus?

A comunidade científica brasileira mostrou uma capacidade de resposta extraordinária diante da pandemia do novo coronavírus, mesmo com a perda de cérebros preciosos, dos cientistas que deixaram o Brasil nesse período. Aqueles que ficaram demonstraram grande capacidade de trabalho, com publicações e colaborações científicas internacionais. Nessa pandemia ficou evidente a grande capacidade do ser humano de produzir, na Ciência, com descobertas, redescobertas e decepções. Entre as descobertas, estão as vacinas. A concepção de uma plataforma vacinal pode levar até 14, 15 anos, e hoje já temos em pouco tempo mais de dez vacinas aprovadas no mundo. Entre as redescobertas, eu elencaria a utilização da corticoterapia para tratar a Covid, com fármacos de efeito anti-inflamatório, que já eram utilizados nas síndromes respiratórias agudas graves. O uso de corticóides, sobretudo a dexametasona, se mostrou de grande valia na Covid-19. Outra redescoberta, positiva, foi a utilização de anticoagulantes. E entre as decepções estão o reposicionamento de fármacos como a cloroquina, a ivermectina e nitazoxanida, que não mostraram ação comprovada contra a Covid, nem para casos leves nem para impedir o agravamento da doença, e se revelaram como uma quimera.

Qual a importância de políticas de investimentos contínuos em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) nesse cenário?

Mais do que nunca, nesse momento de pandemia houve a participação robusta da sociedade científica e nos ressentimos bastante da falta de reconhecimento da importância da pesquisa brasileira e da presença de políticas de investimentos contínuos em C,T&I. Nesse sentido, o papel dos órgãos de fomento e das Fundações estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), como a FAPERJ, se torna cada vez mais evidente no Brasil. Isso precisa ser muito reconhecido e valorizado.

Daqui a alguns anos, quando você recordar a sua experiência profissional na linha de frente durante a pandemia, como será essa lembrança?

Foi uma vivência muito intensa porque comecei a tratar os pacientes desde o início da pandemia e vivi a experiência de ficar doente, o medo e a angústia. Essa experiência me aproximou do luto, indelével, com as perdas todas que tivemos. Todo mundo perdeu alguém conhecido nessa pandemia. Acredito que a Covid-19 ainda vai viver entre nós durante um bom tempo, e temos que estar preparados. Em primeiro lugar, temos que estar preparados para as próximas epidemias. Esta não será a última epidemia das nossas vidas. Comportamentos de proteção individual e coletiva, como o uso de máscaras, serão necessários pelo menos pelos próximos dois anos.

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