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Publicado em: 03/05/2012
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Livro destaca o papel político da literatura de cordel na Primeira República

Débora Motta

                                  Reprodução
     
    Capa do livro: obra resgata a atuação
    política de Leandro Gomes de Barros
A Primeira República ou República Velha (1889-1930), que vai da proclamação do modelo republicano ao início da era Vargas, costuma ser relatada, na historiografia oficial, como um período de inexpressiva mobilização política do povo, que teria sido conduzido passivamente pelas elites da época. Mas para a pesquisadora Ivone da Silva Ramos Maya, a produção literária do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918), considerado o fundador da literatura de cordel impressa, coloca-se como um contraponto a essa ideia. No livro O povo de papel – a sátira política na literatura de cordel, a autora defende que o povo era informado, pelos poemas, sobre como funcionava o sistema político da época. A obra foi publicada com apoio da FAPERJ, pelo Programa de Auxílio à Editoração (APQ 3).

Com uma abordagem original, que associa a obra de Leandro Gomes de Barros ao contexto político da Primeira República, o livro se situa na fronteira entre a poesia e a história. "O foco da pesquisa consistiu, essencialmente, em buscar os temas trabalhados pelo autor sobre o contexto político da época e inaugurar uma nova historiografia para o período conhecido como Primeira República", conta Ivone. Para isso, ela se debruçou por cerca de cinco anos sobre um vasto acervo de folhetos de cordel escritos por Leandro Gomes de Barros. "Baseei-me, sobretudo, na seleção de poemas políticos que já havia começado a estudar, quando coordenei o projeto de pesquisa intitulado ‘Folhetos de Papel: Memória do Cordel’, realizado sob o patrocínio da FAPERJ, para a Fundação Casa de Rui Barbosa, sobre a obra do poeta", acrescenta.

A passagem da monarquia à república é descrita pelo poeta paraibano como um momento de grandes reviravoltas sociais, políticas e econômicas. Ele era uma voz popular que se posicionava claramente contra o novo regime. "Leandro Gomes de Barros representou o panorama político e social da Primeira República ao denunciar os fatos do cotidiano daquela época, sobretudo os de caráter político, com uma linguagem facilmente inteligível por seu público, em que prevalece a ironia, a sátira e, algumas vezes, a paródia", avalia Ivone. "Nesse sentido, o poeta desnuda para o leitor os bastidores do poder fazendo poemas sobre eleições, carestia, impostos, seca, corrupção, etc. que constituem, na opinião dele, os ‘pilares’ da Primeira República", completa.

Leandro Gomes de Barros descreveu ainda a atuação de coronéis, chefes do cangaço e membros das oligarquias locais, além das relações entre os poderes municipal, estadual e federal. Com acidez e humor, ele despertava entre seus leitores o sentimento de cidadania, ainda que marcado pelo ceticismo. Um exemplo desse espírito crítico resgatado no livro é o trecho do poema "Ave Maria", que destaca o sistema corrupto eleitoral, tanto em nível distrital, estadual, quanto nacional: No dia da eleição/O povo todo corria/ Gritava a oposição/ Ave Maria/ Via-se grupos de gente/ Vendendo votos nas praças/ E a urna do governo/ Cheia de graça.

  Reprodução
     

 Com ironia, o poeta criticava
 o regime político da 1 República
 


Para a doutora em Literatura Geral e Comparada pela Universidade de Paris III, a importância de Leandro Gomes de Barros transcende a poesia e vai para o campo da militância política. "O poeta parece perpetuar uma tendência crítica aberta desde o século XVIII na literatura brasileira, que se baseia na denúncia dos males sociais através da ironia e do humor. Além de representar uma obra em que a originalidade dos temas constitui a chave para o sucesso de sua poética", diz a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

De acordo com a autora, O povo de papel é uma oportunidade de divulgar pérolas da obra de Leandro Gomes de Barros e de revisitar criticamente a história da Primeira República. "A principal contribuição do livro é iniciar um trabalho de resgate dessa obra poética de tamanha importância histórica, mas relegada praticamente ao campo da literatura popular. Minha intenção foi produzir um texto em que viesse à tona essa lacuna historiográfica, que seria preenchida com as observações aguçadas de um poeta popular à frente do seu tempo", conclui.

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