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Publicado em: 19/01/2011
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Livro discute fatores que favorecem entrada de jovens na vida religiosa

Vinicius Zepeda

 Divulgação/Revista Paróquias

    
    Sílvia Fernandes procurou conhecer
     o universo dos jovens seminaristas

"Apesar de muitos seminaristas tecerem críticas aos padres cantores e midiáticos, é inegável a renovação dos fiéis da Igreja Católica, principalmente entre os jovens, promovida nos últimos trinta anos por ícones religiosos, como o ex-padre surfista Zeca e padre Jorjão, ou ainda com o sucesso dos shows católicos "Deus é Dez" e do padre Marcelo Rossi com seus milhões de CDs vendidos. e aparições em vários programas de televisão. Mais recentemente, temos também o padre galã e cantor Fábio de Mello." A declaração é da socióloga e professora adjunta da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Sílvia Regina Alves Fernandes. Com apoio do programa de Auxílio à Editoração (APQ3), da FAPERJ, ela acaba de lançar o livro Jovens Religiosos e o Catolicismo: escolhas, desafios e subjetividades. Nele, procura responder a seguinte questão: "O que atrai, o que afasta e o que faz um rapaz ou moça permanecer em instituições guardiãs do sagrado? E como as novas gerações, marcadas pelos traços de uma modernidade cada vez mais individualizante, assumem projetos coletivos e abrem mão da individualidade quando depositam sua trajetória e seu destino na sombra de uma instituição religiosa com a história e o peso sociocultural da Igreja Católica?"

A socióloga destaca que o tipo de religiosidade mais emocional, difundido pela Renovação Carismática Católica (RCC), é um fenômeno de época que atrai não somente os jovens, mas pessoas de várias idades. "O que temos é uma mudança nas formas de se relacionar com a religião. As pessoas buscam menos rito e mais emoção; menos doutrina e mais experiência. Entretanto, para as religiões, esse comportamento é um desafio porque elas vivem de dogmas, ritos, tradições, e padre midiáticos representam apenas uma pequena parcela dessas novas ofertas religiosas", afirma Sílvia. "Certamente há riscos de esvaziamento das tradições, de banalização do papel do indivíduo na construção de novos rumos para a sociedade. O desafio é oferecer novas respostas às pessoas que buscam um sentido para a vida e algum tipo de conforto numa época de muitas informações e permanente necessidade de escolha", complementa.

Duas principais correntes da Igreja Católica, a Renovação Carismática Católica (RCC) e a Teologia da Libertação (TL) são propostas nascidas nos anos 1960. Contudo, sempre foram vistas como antagônicas, gerando muitas tensões no episcopado brasileiro. As CEBs, grupos oriundos da Teologia da Libertação, foram mais populares nos anos de 1980, declinando na década de 1990. "Justamente nesse período, houve uma efervescência da Renovação Carismática, com suas propostas de religiosidade mais intimista e menos voltada à transformação social, ao contrário do que era apregoado pela Teologia da Libertação", analisa Sílvia.

Divulgação
    

  Livro é ampliação de
   tese de doutorado  

O livro de Sílvia Fernandes é uma ampliação de sua tese de doutorado, defendida em 2004 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Com raras exceções, ela entrevistou em sua maioria jovens nascidos nos anos de 1980, que, por isso, se mostraram mais favoráveis à Renovação Carismática do que à Teologia da Libertação. "Os rapazes e moças tiveram muito mais contato com as propostas religiosas ligadas à RCC do que com a TL, que é mais conhecida pelos seminaristas que cursam as disciplinas de Teologia e Filosofia, e estudam o tema. Apesar disso, as opiniões não foram consensuais. "Há muitas críticas à Teologia da Libertação, especialmente pelos rapazes do seminário do Rio, mas as moças religiosas que conheciam as propostas dessa corrente tenderam a simpatizar com seus ideais de assistência aos mais pobres e de transformação da sociedade", explica Sílvia. Ainda assim, a socióloga acrescenta que embora mais conhecida e experimentada pela juventude dos anos 1980 para cá, a Renovação Carismática também recebeu críticas. "Eles questionaram o papel dos padres cantores e midiáticos, entendendo que haveria ali um desvio da função sacerdotal. Para eles, a RCC favoreceria à alienação da juventude no que se refere aos problemas sociais e fomentaria uma espiritualidade do tipo ‘oba-oba’", acrescenta.

Tema ainda considerado tabu e bastante delicado de se abordar quando se discute religião, o celibato não passa despercebido no livro. A socióloga destaca uma pequena evolução por parte dos institutos religiosos mais avançados, isto é, aqueles que fazem análise institucional e tratam o tema de frente. "Muitas moças e rapazes são assistidos por psicólogos e têm abertura para falar do tema e ‘trabalhar’ o desejo sexual numa dimensão de sublimação, conforme tratada pela religião", destaca Sílvia. Em sua pesquisa, ela verificou um maior questionamento do assunto no universo masculino do que no feminino. A questão do celibato facultativo foi mencionada por vários jovens. "A história nos conta a experiência de muitos místicos celibatários não apenas no catolicismo. Quando este comportamento faz parte de uma escolha pessoal, produz menos tensões", opina.

Influência de irmãos levaram socióloga a estudar o assunto

 Divulgação/Toca de Assis

           
      Atualmente Sílvia está estudando a experiência radical de
    pobreza, castidade e obediência de jovens da Toca de Assis
A autora revela que sua motivação para pesquisar o tema sob a ótica da sociologia nasceu em ambiente familiar: "Meu irmão persistiu e atualmente é padre, já minha irmã, abandonou a vida religiosa em três anos, sem concluir as etapas formativas", lembra. Para Sílvia, as desistências e permanências que observou a levaram a querer realizar não apenas uma análise institucional da igreja católica como também daqueles que buscam a vida religiosa, um modelo milenar que pouco mudou ao longo dos séculos. "No caso da vida religiosa e do sacerdócio, atualmente muitos desistem em razão de um certo descompasso que existe entre as demandas de uma instituição como a igreja católica e as que são formuladas pela própria pessoa, em seu projeto de vida, de futuro", destaca. "Viver experiências de celibato, obediência e pobreza na sociedade atual não é uma opção muito fácil. Contudo, muitas desistências acontecem mais em razão das tensões relacionais e comunitárias do que necessariamente por causa dos votos religiosos", salienta.

Segundo a socióloga, seu livro contribui para uma reflexão sobre escolhas juvenis em tempos de muitas ofertas e estilos de vida. "Acredito que pode ajudar a entender a juventude atual, que não é redutível a uma única vertente, ideologia ou comportamento", afirma. "Os jovens são muito mais plurais do que imaginamos e o livro apresenta uma faceta desse pluralismo, que é também religioso; adentra as tensões das escolhas juvenis e da radicalidade de suas narrativas. Por outro lado, mostra jovens críticos e, quem sabe, capazes de promover mudanças importantes nas instituições", conclui.

Atualmente a socióloga conta com o apoio da FAPERJ para o desenvolvimento de duas novas pesquisas: a primeira investiga jovens da Toca de Assis, um instituto religioso onde rapazes e moças vivem uma experiência radical de pobreza, castidade e obediência e questionam a sociedade moderna em alguns de seus valores, como o acesso ao conhecimento e a prática do consumo; a segunda pesquisa analisa os rumos do catolicismo no estado do Rio de Janeiro, a partir de dados censitários em alguns municípios. Esta última conta ainda com o apoio do CNPq.

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