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Publicado em: 01/02/2007
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Obesidade e sobrepeso: duas epidemias de proporções mundiais

Vinicius Zepeda

Lanchonete do metrô Estácio: 500 salgados são consumidos diariamente em média
A proliferação de fast foods transformou o sobrepeso e a obesidade em casos de saúde pública mundial. No Brasil, o sobrepeso gira em torno de 25% a 30% da população e a obesidade, 15%. Nos Estados Unidos, país com as maiores taxas do mundo, os dois índices somados chegam a 65%. No mundo todo os números crescem. Para a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a médica Eliete Bouskela, coordenadora do LPM (Laboratório de Pesquisas em Microcirculação), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trata-se de uma epidemia com proporções globais. O LPM está estudando distúrbios vasculares em mulheres com idade entre 13 e 30 anos, com sobrepeso ou obesidade, mas com glicemia e pressão arterial normais. A pesquisa é apoiada pela FAPERJ através do edital Cientistas do Nosso Estado.

O estudo apresenta um resultado inédito: mesmo que ainda não estejam obesas, mulheres com sobrepeso apresentam problemas de microcirculação sanguínea nas veias. "Antes de observarmos nos vasos maiores, como até então a medicina vem fazendo, os vasos menores já estão comprometidos", afirma. "A descoberta mostra que é necessário tratarmos isso o mais rápido possível e que problemas como hipertensão, diabetes e arteriosclerose não afetam apenas os obesos ou aqueles com histórico familiar", acrescenta a médica, que conta com uma equipe de 16 pesquisadores do LPM, LIB (Laboratório de Instrumentação Biomédica) e Nesa (Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente), todos na Uerj.

Sobrepeso é quando o Índice de Massa Corporal (IMC) está entre 25 e 30. Para que a pessoa seja considerada obesa, o IMC deve estar acima dos 30. O resultado é obtido pela divisão do peso pela altura multiplicado por dois. O IMC normal é o que aponta resultados entre18 e 25. A pesquisa "Avaliação da função endotelial, da reatividade microvascular e do estresse oxidadativo em pacientes com sobrepeso ou obesidade" estudou três grupos de 25 mulheres com sobrepeso e obesas, entre 18 e 30 anos, não fumantes, sem problemas de hipertensão arterial ou acometimento cardiovascular ou respiratório.

Segundo Eliete, ainda assim, os números encontrados em pessoas teoricamente saudáveis são preocupantes. "No estado do Rio de Janeiro, registramos que 32% apresentam sobrepeso e 15% obesidade", explica a médica. "Outra questão delicada é que mesmo mulheres com sobrepeso ou obesidade com pressão arterial, taxas de colesterol e glicose normais apresentam lesão cardiovascular ou respiratória", adverte.

Reversão dos resultados encontrados foi frustrante

La Familia Pinzóndono; quadro feito pelo pintor italiano Fernando BoteroUma vez apurados os resultados, a equipe coordenada por Eliete Bouskela submeteu as mulheres que apresentaram algum comprometimento fisiológico durante a pesquisa a uma nova dieta alimentar acompanhada por nutricionistas. "Apenas 10% das mulheres submetidas a um acompanhamento alimentar conseguiram perder peso, 60% não engordaram e 30% continuaram engordando. Por nossa pesquisa, não sabemos se apenas com a reeducação alimentar é possível reduzir os índices de massa corporal", lamenta. "O caso se agrava mais ainda, quando verificamos que os remédios para emagrecer disponíveis no mercado reduzem o peso das pessoas em apenas nove quilos em média. Parece muito, mas para uma pessoa obesa é pouco", alerta a médica.

Os testes utilizam uma metodologia nova e extremamente simples. Há um procedimento padrão de preenchimento de ficha e um exame de videolaparoscopia através de leitura em microscópio dos vasos sanguíneos do dedo do paciente."Este exame já existe para outras aplicações, mas ainda está em fase de testes para sabermos se ele poderá substituir os que existem. É um processo não invasivo (não há utilização de agulhas ou de qualquer corpo estranho no organismo) e indolor. Basta o paciente estender a mão e prender por uns instantes seu dedo num suporte de metal fixado abaixo da lente do microscópio. O médico passa um produto em sua unha e filma seu vaso sanguíneo através de uma câmera acoplada ao aparato. As filmagens serão posteriormente analisadas e daí se dará o resultado", explica Eliete.

As refeições não são feitas de maneira adequada

"No Brasil não há locais em que se encontrem comidas boas e baratas. Não há bons pratos feitos com uma comida balanceada. Essa cultura alimentar nós copiamos dos Estados Unidos", afirma pesquisadora. "Verduras, legumes e frutas dão muito mais trabalho de achar e preparar do que comidas calóricas. E as pessoas não querem perder mais tempo", lamenta. "A indústria de comidas gordurosas atinge todas as classes sociais. Um exemplo é o cinema, onde famílias de classe média alta consomem baldes de pipoca e refrigerantes extremamente gordurosos e não saudáveis", lembra a coordenadora do LPM.

Pensando nisso, a esteticista Hérica Duarte afirma que para manter a forma, devido à pressão do cotidiano, é preferível e mais saudável tomar um açaí em vez de comer salgados ou um hambúrguer. "Aqui na Uerj já há grupos estudando as características desta fruta. Ela possui características vasodilatadoras, ou seja, desentope e dilata as veias do corpo, melhorando a circulação sanguínea", acrescenta Eliete Bouskela.

A médica lamenta que hoje em dia as pessoas não parem e sentem à mesa para as refeições. "Isto agrava mais ainda o quadro. Para uma refeição é necessário comer devagar, mastigar os alimentos ao menos 20 vezes e sentar com calma. Quem come rápido tem mais tendência da engordar. Normalmente pessoas gordas comem com muita pressa", afirma. "Comer rápido faz com que o estômago se dilate e a digestão não seja feita de maneira adequada. Além disso,  o cérebro não registra a informação de que o organismo está saciado com aquela quantidade de alimento. Assim, logo a fome volta e o entra-se num ciclo vicioso de engorda", explica.

No Rio de Janeiro, a má alimentação é recorrente. Um exemplo é a passarela que liga o metrô ao guichê de trem da estação São Cristóvão, bairro da Zona Norte da cidade. Segundo dados do agente líder Miguel Campos, por ali circulam diariamente entre nove e dez mil pessoas. No local, há três lanchonetes, todas com comidas gordurosas. "Eu vendo por dia, em média, 500 salgados e eu mesmo como por aqui. Não dá tempo de almoçar em outro lugar", diz o balconista Marcos Santos. A faxineira hospitalar Salete Viera também costuma comprar salgados ali. "Compro na hora que estou indo para o trabalho, guardo e só como na hora do meu lanche", afirma.

Indústria da moda dita comportamentos absurdos

"O Brasil é o campeão mundial de cirurgias de lipoaspiração. Aqui, algumas pessoas pobres chegam a comer muito para alcançar níveis de obesidade mórbida e serem autorizadas a entrar na fila de cirurgia de redução de estômago do SUS (Sistema Único de Saúde)", afirma a pesquisadora. "A indústria da moda do país não produz roupas para pessoas com manequim acima de 44. No caso dos Estados Unidos, o problema está sendo resolvido com a venda de roupas para pessoas obesas por catálogo, pois as mesmas têm vergonha de aceitar o seu corpo", acrescenta.

A médica Eliete Bouskela (terceira à esq.) e sua equipe já iniciaram uma nova pesquisa com apoio da FAPERJO IMC baixo, no entanto, também tem causado sérios problemas. Comum em modelos, que passam fome para manter a forma, a magreza excessiva tem ocupado as páginas dos jornais desde a morte de Ana Carolina Reston por anorexia, doença que leva uma pessoa a emagrecer constantemente até não conseguir mais comer. O agravamento da doença pode levar à morte. "As anoréxicas já têm a saúde comprometida, elas não menstruam", explica a coordenadora do LPM.

Para Eliete, a prática da alimentação balanceada tem que vir de casa. "Muitos produtos maléficos se consumidos em excesso, como refrigerantes que só ampliam seu mercado em países do Terceiro Mundo , biscoitos e sorvetes têm alto grau de gordura vegetal hidrogenada e de gordura trans, que podem acarretar problemas, como diabetes, arteriosclerose, hipertensão, entre outros", conclui. Recentemente a coordenadora do LPM foi contemplada com um novo apoio da FAPERJ. Desta vez, o foco será em mulheres na faixa etária entre 13 e 18 anos. A população do estado torce por resultados bem mais animadores.

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