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Publicado em: 22/09/2005
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Pesquisa aponta benefícios do consumo de óleos comestíveis

Paul Jürgens

Conduzida por uma equipe de pesquisadores no Centro Biomédico da Uerj, uma seqüência de experimentos realizados em ratos demonstrou que é possível obter uma significativa redução de lesões em órgãos como o coração, rim e artérias a partir da administração regular de óleos comestíveis. A pesquisa, feita no Laboratório de Morfometria e Morfologia Cardiovascular do Instituto de Biologia daquela universidade, mereceu destaque em artigos recentes publicados em algumas das mais conceituadas revistas científicas fora do país.

As descobertas do laboratório podem abrir caminho para a prevenção de doenças do coração decorrentes da hipertensão arterial e de alterações cardiovasculares provocadas, por exemplo, por diabetes. Entre os óleos testados, o de peixe foi o que apresentou os melhores resultados. O chefe do laboratório, situado numa unidade da Uerj atrás do Hospital Pedro Ernesto, próximo ao campus da universidade, é Carlos Alberto Mandarim-de-Lacerda, contemplado no programa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ.

Desde 1998 o laboratório vem pesquisando os efeitos em ratos da ingestão regular de óleos dietéticos de diferentes composições químicas. “Os resultados alcançados até aqui são mais do que animadores”, diz o cientista. “Estamos convencidos de que, no futuro, essas pesquisas poderão contribuir para influir de forma muito positiva nas políticas públicas de prevenção a doenças cardiovasculares”, afirma Mandarim-de-Lacerda.

A pesquisa com óleos comestíveis, vale lembrar, não é novidade. No exterior, há alguns anos cientistas se debruçam sobre o que chamam de ‘paradoxo francês’, a fim de tentar entender porque os conterrâneos de Louis Pasteur são menos atingidos por doenças do coração. “Muitos fatores, como o consumo de vinho, rico em flavonóides, e uma dieta farta em óleos com alto teor de ácidos graxos poliinsaturados – EPA e DHA – parecem concorrer para o fato de que alguns dos povos que vivem às margens do Mediterrâneo são mais imunes às enfermidades cardiovasculares”, explica Mandarim-de-Lacerda. “A diferença é que até aqui nenhum trabalho havia tratado da quantificação da regressão de lesões nos órgãos mais afetados pela hipertensão arterial e pelo diabetes,  que são o coração, o rim e as artérias”, completa.

Ele lembra que até o momento as pesquisas realizadas fora do país foram de outra natureza, focalizando aspectos, por exemplo, bioquímicos, farmacológicos, imunológicos e fisiológicos. Em um dos experimentos conduzidos pela equipe do cientista, foram administradas, ao longo de três meses, doses diárias de óleos de palma (de origem asiática e semelhante ao óleo de dendê), peixe, canola, oliva e soja a animais do laboratório. Paralelamente, como é de praxe, outro grupo recebeu placebo. Os animais foram selecionados de uma cepa de ratos hipertensos, criados em laboratório no Japão há alguns anos.

Ao final de 12 semanas, exames mostraram que os exemplares do primeiro grupo haviam apresentado sinais inequívocos de melhora em sua saúde. Foram constatados, por exemplo, o aumento da microcirculação no miocárdio, a desaceleração da morte de células cardíacas e a redução significativa da densidade de fibrose nos órgãos afetados pela hipertensão e pelo diabetes.

O resultado dos exames indicou que a melhora mais visível ocorreu com o grupo que recebeu o óleo de peixe, seguido, pela ordem, por aqueles aos quais foram administradas doses de canola, palma, oliva e soja. “Os ratos vivem, em média, dois anos”, diz Mandarim-de-Lacerda. “Isso equivale dizer que um ser humano precisaria ingerir doses de óleo de peixe por dez anos para, talvez, alcançar os mesmo benefícios que os observados nos ratos”, explica.

Ao longo dos últimos anos, a equipe chefiada pelo pesquisador já publicou mais de uma dezena de artigos sobre o assunto em revistas científicas de renome – como Prostaglandins & Other Lipid Mediators e International Journal of Cardiology, ambas editadas pela Elesevier, a mais importante editora médica do mundo.O estudo de casos com animais portadores de diabetes ainda é recente. Mas um novo artigo sobre o assunto, já aprovado pela Prostaglandins & Other Lipid Mediators, deverá ser publicado até o final de 2005.

Laboratório recebe pedidos de consultas vindas de todo o Brasil

A ‘expertise’ do laboratório em quantificação morfológica (estereologia) a partir do estudo do arranjo espacial das estruturas morfológicas dos órgãos já é bastante conhecida nacionalmente. “Recebemos consultas de todo o Brasil”, confirma Mandarim-de-Lacerda, que exibe com orgulho o diploma de ‘Docteur d’État’, distinção que mereceu do governo francês, em 1985, após a defesa de sua tese de doutorado na Université René Descartes – Paris V.

Foi pouco depois de defender a tese que o cientista, ao retornar ao Brasil e já professor titular da Uerj, fundou o laboratório que hoje chefia e que conta com cerca de 50 pessoas, entre doutores, mestres, técnicos e alunos de pós-graduação e iniciação científica. No período de 2000 a 2004, Mandarim-de-Lacerda, que começou sua premiada carreira de pesquisador ao obter o diploma de Medicina pela Uerj, foi coordenador da Área Biomédica da FAPERJ. Escolhido para integrar o seleto grupo de Cientistas do Nosso Estado em 2000, ele afirma que o apoio da Fundação tem contribuído para a manutenção do laboratório e a compra de insumos básicos, como, por exemplo, dos óleos utilizados nas pesquisas – alguns deles importados.

Sobre as perspectivas da realização de testes em humanos, Mandarim-de-Lacerda avisa que seriam necessários a mobilização de recursos humanos e materiais de monta, numa pesquisa multidisciplinar de alto custo devido ao prazo necessário para confirmação das teses levantadas pelos experimentos recentes. “Seria necessário mobilizar uma equipe de especialistas, que incluiria, entre outros, nutricionistas, cardiologistas, imaginologistas, bioquímicos, epidemologistas etc, num projeto de longo prazo para o qual seria necessário um financiamento apropriado”, avalia.

Enquanto esse momento não chega, a equipe de cientistas parte para outros desafios. Nas linhas de pesquisa mais recentes do laboratório estão sendo investigados os efeitos da mesma dieta em casos de obesidade, menopausa precoce e restrição protéica na gestação. Sobre esta última, a literatura científica já reporta evidências suficientes para afirmar que a restrição de proteínas à mãe durante a gestação ‘programa’ o futuro bebê para uma vida que pode levar à obesidade, à hipertensão arterial e à diabetes. “Se no decorrer de nossa pesquisa ficar demonstrado que a administração regular de um determinado óleo pode ‘desprogramar’ esse indivíduo, poderíamos, no futuro, propor uma dieta acrescida do princípio ativo do óleo, por exemplo, no leite, que seria dado à população carente”, explica.

Por enquanto, tudo não passa de uma hipótese. Mas uma hipótese que, em vista dos resultados obtidos até agora, parece abrir novos horizontes para os eventuais – e cada vez mais promissores – benefícios e impactos que a pesquisa poderá ter na saúde pública dentro de alguns anos. O próprio pesquisador e alguns de seus pares no laboratório não têm dúvida de que o trabalho avança na direção certa. Prova disso é que alguns deles já tomam sua cápsula diária de óleo de peixe. “É bom deixar claro que a decisão de tomar doses de óleo de peixe é uma opção pessoal, que não conta com a chancela dos órgãos públicos competentes nesta matéria”, avisa. Para os interessados no assunto, mais informações sobre a pesquisa do Laboratório de Morfometria e Morfologia Cardiovascular da Uerj podem ser acessadas pelo endereço www2.uerj.br/~lmmc
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