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Publicado em: 22/04/2021 | Atualizado em: 29/04/2021
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A genética nos conflitos do passado e do presente

Juliana Passos

Gráfico indica a proporção de genes ancestrais na população no Estado, de acordo com pesquisas publicadasem 2014 e 2018. Chama a atenção a predominância europeia nas linhagens paternas (Imagem: Leonor Gusmão)

Identificação de paternidade, composição étnica dos sul-americanos, encontro de desaparecidos políticos na ditadura argentina ou conflitos na Nigéria. Há mais de 30 anos a geneticista Maria Leonor Rodrigues de Sousa Botelho de Gusmão, pesquisadora no Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trabalha com perfil genético tanto no âmbito da genética forense, quanto na investigação da ancestralidade. Leonor, que nasceu em Portugal, garante que não teria graça mapear seu genoma, uma vez que a Europa registra populações muito homogêneas, como confirmam suas pesquisas. Mas, ressalta, continua a se surpreender a si e aos outros com a variedade existente no Brasil. "Todo semestre ensinamos aos estudantes como fazer seu mapa genético e sempre perguntamos o que eles esperam encontrar a partir de seu fenótipo e dos colegas. E sempre se surpreendem com os achados", conta.

Mesmo com tanta variedade, algumas presenças foram identificadas como constantes em trabalhos realizados por Leonor e colaboradores. A presença do homem branco europeu na grande parte das linhagens, enquanto do lado materno, a predominância dependerá da região no Brasil. Nos estados do norte prevalece a indígena; já no Rio de Janeiro e Bahia, africanas. A pesquisadora também cita pesquisas nessa mesma linha, mas das quais não participou, que mostram a predominância da origem de pessoas escravizadas. "Enquanto nos países próximos ao Caribe a maioria é proveniente da região Centro-Ocidental da África, incluindo as regiões entre a Alta Guiné e o estreito de Benin, para o Brasil vieram de regiões da África sub-saariana mais ao Sul, especialmente da costa Sul-Ocidental, compreendendo as regiões de Loango e Angola", explica a geneticista, evitando falar em países, uma vez que a divisão territorial na época era bastante diferente do que é hoje.

A pesquisadora conta que as coletas realizadas no País e em vizinhos está avançada, mas para detalhar a proveniência de gerações escravizadas vindas de países africanos ainda será necessária uma maior investigação nos países daquele continente. Entre os países já investigados estão algumas populações de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Atualmente, ela desenvolve projeto de pesquisa para ampliar o mapeamento genético na Nigéria e tem financiamento do programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. "Nos casos de coletas em outros países, estabelecemos parcerias com universidades locais, inclusive para facilitar a coleta das amostras", explica a professora.

Nesse projeto, a proposta é contribuir com a identificação da ancestralidade parental com foco em três grupos linguísticos existentes na Nigéria: Hausa, Igbo e Yoruba. A coleta de amostras de 358 indivíduos trouxe pelo menos uma surpresa: a grande heterogeneidade. "As diferenças são maiores do que quando comparamos entre alguns países", revela Leonor. Os resultados das pesquisas também contribuíram para o maior conhecimento do genoma das populações sul-americanas e também para fins de identificação das vítimas dos conflitos de ordem político-religiosa, que acontecem atualmente na Nigéria.

Para Leonor Gusmão, é preciso mais pesquisas em genética no continente africano para melhor conhecer a América do Sul (Foto: Arquivo pessoal)

As análises geracionais são feitas a partir do cromossomo Y nos homens e no DNA mitocondrial nas mulheres. A pesquisadora explica que, embora a capacidade de resolução dos marcadores de ancestralidade diminua, a partir do mapeamento do genoma é possível verificar pelo menos 30 gerações anteriores. "A cada nova geração, a presença de fragmentos do cromossomo inicial, com igual origem, se reduz à metade e assim sucessivamente", explica. E embora a codificação de genes tenha se tornado algo corriqueiro para a Biologia e com grandes projetos (a chamada Big Science) para essa decodificação, as amostras regionais são pequenas. "Por exemplo, num dos maiores projetos de mapeamento de genomas humanos completos, a América do Sul foi representada com apenas uma coleta em Lima, no Peru, e outra em Medellín, na Colômbia", diz.

Ainda que dedique boa parte de seu trabalho à genética forense e à solução de conflitos, além de mapeamento da ancestralidade, o que acaba por expor conflitos do passado, as pesquisas realizadas por Leonor Gusmão também são utilizadas em trabalhos clínicos. Uma vez que determinadas características genéticas podem indicar predisposição para determinadas doenças ou comportamentos do organismo, a base de dados das pesquisas em ancestralidade acabam por alimentar outras pesquisas. "Atualmente, realizo análises para grupos que trabalham a questão genética na obesidade e câncer", finaliza.

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