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Publicado em: 14/12/2017 | Atualizado em: 08/03/2018
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XXI Encontros FAPERJ discute a inovação e o papel das start-ups na indústria farmacêutica

Débora Motta

Jaime Rabi compartilhou, no XXI Encontros FAPERJ,
a experiência 
da empresa Microbiológica Química
e Farmacêutica 
(Foto: Lécio Augusto Ramos)

Os entraves a serem superados no Rio de Janeiro e no País para promover a inovação no setor farmacêutico e o papel das start-ups – empresas nascentes de base tecnológica –, estiveram em pauta durante o XXI Encontros FAPERJ, realizado na manhã desta quinta-feira, 14 de dezembro, na sede da Fundação. “A noção de importância da Ciência e da Tecnologia ainda não foi incorporada de fato na cultura e na economia brasileiras, e não haverá inovação e desenvolvimento nacional sem essa incorporação. A produção acadêmica ainda está isolada nas universidades e não é incorporada, em grande parte, pelo mercado e pela sociedade, porque somos um país com uma visão imediatista, que não investe em políticas públicas de longo prazo. Por outro lado, a indústria espera por resultados imediatos, tanto na formação de pessoal quanto nos projetos de pesquisa”, avaliou o diretor-executivo e de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da empresa Microbiológica Química e Farmacêutica Ltda., o chileno radicado no Rio Jaime Rabi. Ele foi o palestrante da última edição de 2017 dos Encontros FAPERJ, que contou com a presença de prestigiados representantes da academia e do mercado.

Rabi compartilhou com os presentes a experiência da Microbiológica, uma companhia nacional criada em 1981, em período que entrou para a história da economia brasileira como a “década perdida”, em meio a dificuldades como as altas taxas de inflação, a dívida externa e os choques do petróleo. Apesar disso, a empresa desenvolveu um caminho de síntese para o imunossupressor azatioprina (purina), essencial, na época, no programa nacional de transplante de rins. Depois, se tornou pioneira em procedimentos sintéticos para a produção em larga escala de medicamentos antirretrovirais no Brasil – em particular, utilizando nucleosídeos que têm servido de base para a invenção de agentes antivirais usados na medicina humana, para a zidovudina (o AZT brasileiro), a estavudina (d4T) e a lamivudina (3TC). O empreendimento cresceu e, mais recentemente, se destacou por estabelecer parcerias internacionais, como a bem-sucedida aliança com a americana Pharmasset, que desenvolveu o sofosbuvir, fármaco utilizado em casos de hepatite C crônica, e com a empresa Idenix, na cidade de Boston, estado de Massachusetts, que resultou no desenvolvimento dos antivirais telbivudina e valtorcitabina, contra a hepatite b.

A Microbiológica surgiu quando Rabi dividia seu tempo entre o trabalho como pesquisador e empreendedor, e como professor ligado ao antigo Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NPPN/UFRJ) – denominado desde 2013 de Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors. Ele contou que enfrentou certa resistência de alguns colegas na época, por acreditarem que o professor universitário não deveria se envolver em trabalhos voltados para o mercado. “Essa cultura era muito comum na época, ainda existe, em alguma medida, e deve ser superada. Por razões históricas, a academia e a indústria seguiram por caminhos independentes no Brasil, sem interações relevantes ou duradouras, o que é prejudicial para ambas e para o próprio País. Era extremamente incomum um professor pesquisador, de nível 1A pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], como eu, desenvolver o lado empreendedor também, fora da universidade. Até que decidi, em 1994, me dedicar exclusivamente à indústria. Deixei a UFRJ, onde cheguei a exercer a função de diretor do NPPN”, recordou.

Rabi destacou que um dos principais pontos que nortearam o sucesso da Microbiológica, que na época era uma start-up, foi a escolha de objetivos realmente estratégicos. “A década de 1980 foi assolada pela epidemia do vírus HIV, e o desenvolvimento de antirretrovirais era um ponto relevante. É importante destacar que relevância é um valor de mercado, diferente do mérito, que é um valor da cultura acadêmica. O mercado exige que as start-ups concentrem esforços em temas relevantes, que realmente tragam resultados a serem aplicados na sociedade. Esse é um dos conselhos que eu daria aos jovens empreendedores de hoje, a atenção na relevância dos seus produtos”, destacou.

Além desse aspecto, Rabi apontou outros referenciais de valor para o sucesso de start-ups na criação de medicamentos inovadores. “É preciso também ter velocidade para estabelecer liderança em um novo paradigma, ter qualidade para atender a exigências regulatórias, ter certeza de que a solução encontrada atende plenamente às necessidades do mercado e desenvolver continuamente as competências essenciais da empresa, para estar na fronteira do desenvolvimento científico e tecnológico”, completou.

Por último, Rabi lembrou que é preciso agilizar o diálogo entre a universidade e a indústria e favorecer o estabelecimento de uma cultura empreendedora em geral, e também no setor farmacêutico. “O Brasil ainda está vivendo um processo de estruturação dos seus parques tecnológicos e organizando os processos de inovação, com a criação dos núcleos de inovação tecnológica nas universidades (NITs), sob a proteção dos campi, e ainda lidando com barreiras como a burocracia das instituições para questões como manutenção de equipamentos, registro de patentes e recebimento de recursos, enquanto o ritmo do mundo desenvolvido exige que a inovação seja feita já, para ontem. Tenho esperança que a plataforma de conhecimento que temos gerado sirva, de alguma forma, de valor estratégico para o desenvolvimento do País”, concluiu Rabi.

Estiveram presentes a diretora de Tecnologia da FAPERJ, Eliete Bouskela; o sócio fundador e diretor da Antera Gestão de Recursos, José Arnaldo Deutscher; a consultora técnica da Abifina, Ana Claudia Oliveira; os professores da Universidade de Alicante, Carmen Nágera e Miguel Yus; a pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (CDTS/Fiocruz), Claudia Chamas; os professores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ), Daniela Rozental e Luis Gabriel Gelves; o pós-doutorando Rodolfo Maia e a professora Lidia Lima – todos do Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio/UFRJ); a pós-doutoranda em Química da UFRJ, Marina Alves; a chefe do Departamento de Síntese de Drogas de Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nubia Boechat; o professor do Laboratório de Química Bioorgânica (LQB/UFRJ), Paulo Costa; e a coordenadora executiva da Agência de Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Shirley Coutinho.

A iniciativa de promover o Encontros FAPERJ é coordenada pela Diretoria de Tecnologia da Fundação, com a curadoria do professor José Manoel Carvalho de Mello, assessor da Diretoria de Tecnologia da FAPERJ. Os mediadores do encontro foram os assessores da Diretoria de Tecnologia Eliezer Barreiro, que é professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (ICB), e Sergio Yates.

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