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Publicado em: 07/07/2016
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Infestação por piolhos: uma doença negligenciada

Débora Motta

Estudantes de escola municipal na Tijuca exibem seus exemplares
do livro Doutor, eu tenho...piolho (Fotos: Divulgação/Acervo pessoal)

Um inseto inconveniente, que parasita o couro cabeludo e se alimenta do sangue humano. Mais do que um bicho que causa coceira, vergonha e desconforto, o piolho está associado a um problema de saúde pública no Brasil. “A pediculose, como é chamada a infestação por piolhos, é considerada uma doença negligenciada no País. São ditas negligenciadas as doenças tratáveis e curáveis, que afetam principalmente populações com poucos recursos financeiros, mas que, justamente por isso, não despertam o interesse da indústria farmacêutica. Elas estão praticamente extintas no mundo desenvolvido e não atraem a atenção das autoridades”, destaca o dermatologista Omar Lupi, que é professor adjunto da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). “No Brasil, mais de 20% das crianças em idade escolar pegam piolho”, alerta.

Para popularizar informações sobre o tratamento da pediculose e esclarecer dúvidas em geral sobre os temidos insetos sanguessugas, ele lançou o livro Doutor, eu tenho...piolho (Edit. Gen-AC Farmacêutica, 2014, 62 p.). A publicação é o desdobramento de um projeto contemplado com recursos do edital Apoio à Melhoria do Ensino em Escolas da Rede Pública Sediadas no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ. Escrita em linguagem simples e editada em um formato fácil de ler e transportar, a obra reúne diversas perguntas e curiosidades que permeiam o universo popular, com as respectivas respostas do especialista, que é membro titular da Academia Nacional de Medicina.

A ideia de escrever um livro sobre piolhos surgiu quando Omar Lupi presidiu a Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio de Janeiro (SBD-RJ). Na ocasião, em 2007, ele participou de um extenso programa de atendimento a pessoas carentes no projeto Dermatologista Solidário, em parceria com os Médicos Sem Fronteiras. “Resolvemos organizar um mutirão de atendimento dermatológico em áreas muito carentes, nas comunidades do Morro Azul, no Flamengo, da Providência, da Mangueira e em Ramos, e para isso solicitei a doação de amostras de medicamentos para diversas doenças de pele. Porém, ao iniciarmos o atendimento, percebi que a maior demanda daquela população era pelo tratamento de parasitoses cutâneas, como sarna e piolho, em níveis alarmantes. Num primeiro momento, fiquei incrédulo com o que via, pois não imaginava que essas doenças negligenciadas estivessem ainda tão disseminadas no Rio”, conta.     

A publicação do livro veio acompanhada de um trabalho de divulgação científica, que incluiu a visita a quatro escolas municipais do Rio – Mário da Veiga Cabral, Francisco Cabritta, Prudente de Moraes e Samuel Wainer –, todas situadas nos arredores do Hospital Gaffrée e Guinle, da UniRio, na Tijuca, onde Lupi coordena o Serviço de Dermatologia da pós-graduação. “Fizemos uma visita inicial aos colégios e realizamos exames clínicos em todas as crianças e professores. Montamos uma minienfermaria, com boxes de atendimento, e detectamos infestação por piolhos em 8% dos examinados, incluindo crianças e professores”, explica o médico, que nessa ação contou com a ajuda de voluntários da Sociedade Brasileira de Dermatologia e alunos da pós-graduação em Dermato do Gaffrée. “Depois da avaliação clínica, fizemos um ciclo de palestras para desmistificar informações equivocadas sobre piolhos e distribuímos cerca de 1.900 exemplares do livro. Em uma segunda visita, quando repetimos a avaliação clínica, observamos que a média dos infestados por piolhos caiu para 1,5%”, acrescenta.

Omar Lupi (primeiro à esquerda na fileira de trás) e voluntários da
Dermatologia 
da UniRio: combate ao piolho em escolas públicas 

Lupi ressalta que os piolhos só se instalam na cabeça de alguém por contato direto. “Piolho não tem asas ou pernas adaptadas para pular, como a pulga, nem é capaz de voar. Pode até ser carregado pelo vento, porque é leve, mas não se pega piolho do ar. Ele só é transmitido quando alguém infestado encosta a cabeça em outra pessoa, ou pelo uso de roupas e chapéus que contenham o inseto”, diz. Apesar de não escolherem faixa etária, é muito comum que a infestação por piolhos ocorra em crianças em idade escolar, já que elas brincam juntas e compartilham os mesmos objetos, como escovas. “Atualmente, até os celulares podem facilitar a vida do piolho quando as pessoas se aproximam e encostam as cabeças para tirar fotografias juntas”, pondera.

Outra informação é a de que o piolho que ataca os humanos não passa para animais de estimação, ou vice-versa. “O piolho é um parasito exclusivo, isso quer dizer que aqueles que atacam os humanos só atacam os humanos. Existem outras espécies de piolhos, exclusivas de pombos, e só deles, ou apenas de gatos. Até o piolho que infesta a genitália, conhecido popularmente como chatos, se restringe apenas a essa área do corpo e não passa para a cabeça, sendo transmitido por contato sexual. Há ainda uma espécie de piolho que só parasita o corpo humano, longe da cabeça e da genitália”, esclarece. Fora das cabeças humanas, o piolho morre rapidamente. “O piolho do cabelo não pode sobreviver mais do que 24 a 48 horas fora da cabeça. No entanto, os piolhos que ainda estão vivos fora da cabeça humana são capazes de infestar outras pessoas, se tiverem oportunidade.”  

Com cerca de três milímetros, os piolhos atingem pessoas de várias classes sociais, embora estejam frequentemente associados às más condições de vida. “As parasitoses são mais prevalentes em aglomerados humanos, como entre pacientes internados em hospitais, em quartéis, em instituições mentais e nos colégios. Outro fator que faz com que elas sejam mais frequentes é a desinformação. Nas comunidades, pessoas moram aglomeradas em espaços reduzidos e há menor informação sociocultural e acesso à saúde. Tais locais são um ambiente propício para esse tipo de infestação”, diz.

Outro mito sobre os piolhos diz respeito aos métodos de tratamento caseiros. Recorrer à tradicional touca com produtos como álcool líquido ou vinagre para tratar a infestação não é recomendável. “O álcool só irrita ainda mais o couro cabeludo, assim como o vinagre, o que pode acarretar alergias nas crianças, mais coceira e lesões no couro cabeludo. Há relatos de pessoas que usam até inseticidas, que são tóxicos e não têm efeito sobre as lêndeas. O tratamento deve ser recomendado por um dermatologista, que vai prescrever xampus com substâncias adequadas”, conclui Lupi. No futuro, ele planeja dar continuidade ao projeto e elaborar uma publicação sobre a sarna.

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