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Publicado em: 05/11/2015
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A produção industrial fluminense em foco

Aline Salgado

Economista e professor da UFF, Jorge Britto traçou o
perfil da indústria do Rio (Fotos: Lécio Augusto Ramos)

Em sua 6ª edição, o Encontros FAPERJ trouxe um debate profundo e detalhado sobre o perfil e o potencial inovador da indústria fluminense. O evento, que é organizado pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas para Inovação (Neppi), aconteceu na última quarta-feira, 4 de novembro, na sede da Fundação, e teve como palestrante convidado o economista e professor associado da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jorge Britto. 

Com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Britto mostrou como a indústria fluminense evoluiu nos últimos 17 anos – de 1996 a 2013 –, puxada pelo boom da indústria extrativa, de petróleo e gás, e por um crescimento relativamente constante da indústria de transformação. Mas essa expansão não se refletiu de forma mais efetiva em um aumento nos investimentos em inovação e nem em uma maior absorção de mão de obra qualificada – mestres e doutores – para o setor produtivo de maneira diversificada.  Segundo o economista, esses profissionais que atingem tal nível de formação estão fortemente concentrados no setor de petróleo e gás. 

De acordo com Britto, a análise da série histórica de 2002 a 2012 das Contas Regionais e da Pesquisa Industrial Anual (PIA), ambas do IBGE, revela o aumento da participação da indústria fluminense na indústria nacional, de 10,1% para 16,6%. Os dados também mostram um processo menos intenso da chamada desindustrialização – redução da participação da indústria de transformação na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do País – na economia fluminense quando comparada à nacional. De 2002 a 2012, o peso da indústria de transformação na produção industrial nacional caiu de 16,9% para 13%. No Rio, essa participação reduziu de 9,1% para 7,1%. 

"Embora possamos perceber que há na economia brasileira um processo em curso de desindustrialização, puxado pela indústria de transformação, no Rio de Janeiro, o peso da indústria de transformação na produção industrial fluminense cai em ritmo menos intenso, o que é compensado pelo forte crescimento da indústria extrativa", afirmou Britto.

Dentre as atividades mais relevantes na indústria de transformação fluminense, encontram-se a fabricação de bebidas; artigos do vestuário e acessórios; edição, impressão e gravação; coque e refino de petróleo; produtos químicos; produtos farmoquímicos e farmacêuticos; metalurgia básica; montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias; e fabricação de outros equipamentos de transporte.

Ainda de acordo com dados das Contas Regionais do IBGE, quando se olha a indústria extrativa de forma isolada, percebe-se o quanto o setor se tornou pilar do desenvolvimento da economia fluminense. Comparativamente, a participação da indústria extrativa do Rio de Janeiro na indústria nacional alcançou peso de 47,6% do total do País, em 2012. Por outro lado, a indústria de transformação do estado representa apenas 6,7% do total do Brasil, tendo como base o mesmo ano. "Os dados do Valor Adicionado a preços básicos no Rio de Janeiro nos mostra que, juntas, a indústria extrativa e a de transformação fluminense têm uma participação de 17% na indústria nacional", acrescentou Britto. 

Representantes de oito centros de pesquisa no
estado do RJ participaram do evento na sede da FAPERJ 

Outro dado apresentado pelo especialista e que reitera a importância da indústria extrativa para a economia fluminense é o aumento da participação do estado no Valor da Transformação Industrial (VTI), captado pela série de dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE. Este indicador calcula a diferença entre o valor bruto da produção industrial (VBPI) e o custo com as operações industriais (COI). Segundo Britto, ao longo dos últimos 17 anos (1996-2013), o VTI do Rio, em valores deflacionados – descontada a inflação do período –, registrou um crescimento médio de 3,3% ao ano. "Percentual levemente superior ao do País, que cresceu 3%. O que revela algum dinamismo da indústria fluminense", apontou o economista.

A indústria do Estado do Rio de Janeiro também registrou crescimento no porte (variável que considera a receita média por empresa) e de produtividade, captada pelo cálculo do VTI por número de empregados. Na comparação com o País, o Rio de Janeiro registrou, em 2013 – o último dado da série analisada – um porte médio das empresas industriais 40% superior ao porte do total das indústrias nacionais. Na análise por setor, verificou-se que a expansão é disseminada, abrangendo tanto empresas do ramo extrativo, como também alguns ramos importantes da indústria de transformação.

"Observamos um crescimento médio anual do porte das empresas no Rio de Janeiro de 3,5%, enquanto no País chega a apenas 0,5%", afirmou Britto, referindo-se aos dados da série histórica de 1996 a 2013. 

Já em termos de produtividade, o setor industrial no estado alcançou em 2013 um valor médio geral 80% superior à da média nacional. De acordo com o economista, também nesse quesito, o diferencial das indústrias fluminenses está tanto no setor extrativo, como também no de transformação, com destaque para as indústrias de fabricação de produtos químicos, edição, metalurgia e o segmento automotivo.

"Enquanto o crescimento médio anual da produtividade da indústria nacional no período 1996-2013 é zero, no Rio, ele chegou a 1,9%, sendo impulsionado pela expansão da indústria extrativa, em 2%. Mas também é relevante o crescimento médio anual alcançado pela transformação, em 0,6%, comparativamente à taxa média anual negativa observada para o conjunto da indústria de transformação no País no período", salientou o economista.

O bom desempenho da indústria fluminense nos últimos anos não foi acompanhado, no entanto, por um aumento nos investimentos em inovação e na atração de mão de obra qualificada, em especial, mestres e doutores, para o setor produtivo de forma setorialmente diversificada. Conforme apontou o professor da UFF, a análise da série histórica de 2000 a 2011 da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, mostram que o Rio de Janeiro tem relativamente menos empresas inovadoras que outros estados da federação. 

"O percentual do Rio de Janeiro no total de empresas inovadoras, contabilizadas pela Pintec, caiu de 5,3% para 3,9% no período analisado. Esse movimento, preocupante, também foi observado na participação do estado no número de empresas que investem em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Houve uma redução de 6,7% para 5,5%", destacou Britto.

Indústria de petróleo e gás é a que mais atrai mestres
e doutores (Fotos: Divulgação/ Governo do Estado)

Para o especialista, a economia fluminense é caracterizada pela forte presença da cadeia de petróleo e gás, o que se reflete no maior peso relativo do estado no total de gastos em P&D gerais da indústria. Segundo Britto, a expansão do setor tem gerado desdobramentos importantes, que atingem direta e indiretamente outros segmentos da indústria fluminense, levando a um potencial de dinamização da economia com um todo. 

"Observa-se que houve um crescimento da produtividade no Rio de Janeiro, mas ele não se deu apenas em função da exploração do petróleo. A química teve um crescimento produtivo relevante em função da expansão do polo gás-químico. O setor de máquinas e equipamentos também, embora tenha sido puxado pela expansão da atividade do setor de petróleo e as necessidades geradas por essa atividade", observou Britto.

O especialista, no entanto, não deixou de reconhecer o efeito que a atual queda nos preços do petróleo e os demais problemas enfrentados pelo setor podem vir a ter sobre a dinamização do potencial inovativo da economia fluminense. "As consequências negativas podem, por exemplo, resultar em maiores dificuldades para consolidar um cluster de inovação gerado no entorno da indústria do petróleo", ressaltou.

Em sua exposição, o professor da UFF também destacou a forte concentração de empresas de grande porte no estado, o que tem gerado, por consequência, uma centralização de investimentos em inovação e na concentração de pessoal técnico da mais alta qualificação em um número limitado de setores, em especial, na cadeia de petróleo e gás. "A taxa de inovação no estado é mais concentrada em setores de maior porte e intensivos em processos e em capital, como a indústria extrativa (petróleo), metalúrgica e química", disse Britto. 

"O reflexo disso é que a taxa de inovação em produto novo ‘para a empresa’ (segundo a metodologia da Pintec) no Rio tende a ser inferior: 5,5% aqui, enquanto que chega a 14,4% no Brasil. Em resumo, a taxa de inovação da indústria fluminense no Rio equivale a quase 1/3 da média nacional", acrescentou ele. Neste sentido, um aspecto importante salientado pelo especialista refere-se à necessidade de o estado incrementar a articulação de setores de maior porte e produtividade com o conjunto das demais atividades produtivas, incluindo o setor de serviços. Tal articulação geraria, assim, “efeitos de transbordamentos”, conhecidos também como spill-overs, que viriam a fortalecer as capacitações inovativas da economia fluminense.

Outro relevante dado discutido por Britto foi a forte tendência ao autofinaciamento de esforço inovativo no estado. Segundo o especialista, observa-se a existência da concentração desses esforços em empresas de maior porte, e uma baixa participação relativa de suporte governamental. Outra constatação foi a alta concentração de mão de obra qualificada na indústria de petróleo e gás. Cerca de 80% dos mestres e doutores que atuam no setor industrial estão nessa área. Por outro lado, o percentual de profissionais destes níveis de formação que estão empregados em pequenas e médias empresas (PMEs) é bastante reduzido.   

Vista aérea do Parque Tecnológico da UFRJ: principal
polo de P&D do Rio (Foto: Genilson Araújo/UFRJ)

"Segundo dados da Rais (2014), dos 28 mil mestres e doutores empregados no estado, apenas 993 atuavam em pequenas e médias empresas, o que equivalia a um percentual de 3,5% que, inclusive, era inferior à média do Brasil. Aparentemente, o Rio teria um amplo potencial de absorção de mestres e doutores por PME, visto que concentramos muitos e importantes centros de formação de mão de obra de alta qualificação, em especial na área de engenharia e em diversos campos das ciências básicas e aplicadas.”, disse Britto. “Existe também um potencial para a criação de startups, que não é bem aproveitada no estado", acrescentou.

A 6ª edição do Encontros FAPERJ contou com a presença de especialistas da Academia de Propriedade Intelectual do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi);  da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal Fluminense (UFF); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio); Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Clube de Engenharia; Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); além do corpo técnico da FAPERJ.

O próximo evento da série tem como convidado o gerente de Sistemas de Inovação, Gestão da Inovação e Redes da Natura, Leonardo Augusto Garnica. Ele vai discutir a interação universidade-empresa na perspectiva da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e a experiência da Natura.

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