Danielle Kiffer
Recordar é viver, diz a música popular. Ao criar, na Escola de Educação da universidade, um centro de documentação, memória e difusão, a professora Angela Maria Souza Martins, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), mostra que recordar também pode significar contribuir para a difusão científica. Montado com subsídios da FAPERJ, com recursos do edital de Apoio às Instituições de Ensino e Pesquisa Sediadas no Estado do Rio de Janeiro, o centro compreende duas salas. Uma delas é uma espécie de espaço multimídia, com capacidade para 50 pessoas, construída para a realização de reuniões, conferências e apresentações de dissertações e teses. “Esse espaço tem sido amplamente utilizado por alunos e professores da instituição”, afirma.
A outra sala, chamada de centro de documentação e memória, foi destinada ao arquivamento e pesquisa do acervo, e está aberta a todos os estudantes da UniRio para a realização de pesquisas no acervo. "São três computadores, e cada um deles precisa ter muito espaço de memória, porque ali estão arquivadas todas as dissertações de mestrado e doutorado produzidas na área da pós-graduação de Educação da universidade”, comenta Angela.
O trabalho de pesquisa e catalogação dos trabalhos produzidos na universidade demorou cerca de três anos e foi dividido em duas etapas. Na primeira fase, foi feito o levantamento de todas as pesquisas já realizadas pelos professores do programa de pós-graduação em Educação da universidade. “Foi um processo trabalhoso, já que o programa de pós em educação foi criado em 2004. Em 10 anos de curso foram produzidos e concluídos pelos docentes 19 projetos, e há outros 24 em andamento.”
No acervo, pode-se encontrar, por exemplo, pesquisas sobre cinema e educação; sobre a história da educação pública, que teve início na Primeira República; sobre a relação entre educação e cordel; sobre preconceito racial nas práticas educativas, entre outros temas. “São trabalhos importantes, que tanto contribuem para futuros estudos como para a melhora na educação”, afirma.
A segunda etapa consistiu em organizar informações sobre os alunos egressos no programa, desde o início até os dias de hoje. Para conseguir essas informações, a professora e equipe elaboraram questionários para esses alunos. “Procuramos traçar um perfil dos discentes que se interessaram pelo curso; pesquisamos, junto aos egressos, elementos que nos ajudassem a descrever sua trajetória em atividades acadêmicas e científicas, além de informações que nos levassem a sua atuação profissional, sua participação em atividades acadêmicas e ainda se deram continuidade aos estudos, cursando um doutorado, por exemplo”, explica Angela.
Com as pesquisas, Angela e equipe puderam constatar que atualmente a idade dos que cursam mestrado é bem menor do que há algumas décadas, o que mostra que os estudantes começam na graduação já pensando em seguir carreira acadêmica. “Também vimos que cerca de 78% dos estudantes vêm da área de pedagogia, enquanto o restante é formado por profissionais de outras áreas. O aspecto mais importante é que a maioria dos profissionais de educação que cursam a pós-graduação passam a trabalhar na área universitária e deixam, ou pretendem deixar, o trabalho como professor na educação básica. Isso, na verdade, reflete a situação precária de salário e reconhecimento que os professores do ensino básico enfrentam. E esse êxodo acaba sendo prejudicial para as escolas públicas”, analisa Angela.
Para que alunos e professores de outras universidades futuramente possam ter acesso ao acervo, Angela pretende, junto com sua equipe, criar um site e disponibilizar na rede todas as informações coletadas. “É um projeto futuro, já que o acervo é muito extenso, com textos, fotos e filmes, e não para de crescer. De qualquer forma, acreditamos que o centro será uma contribuição fundamental para os estudos de discentes de outros cursos e instituições. Desse modo, nosso trabalho em resgatar e manter essa memória científica e difundi-la será ainda mais bem-sucedido”, finaliza.
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