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Publicado em: 16/09/2010
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Pesquisadores da Uenf desenvolvem novo medicamento contra a alergia

 

Débora Motta

 

                                                              Stock Photo by Evah
 
 Cerca de 30% da população em todo o mundo sofrem com
      algum tipo de alergia, de acordo com dados da OMS
Irritações na pele, olhos lacrimejantes, dificuldades respiratórias e até edema de glote. Esses sintomas, típicos de crises alérgicas, atingem um número considerável de pessoas em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 30% da população mundial sofre com diversos tipos de alergias. Mas os horizontes para o controle desse mal estão se ampliando. Um novo medicamento desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) – ainda em fase de testes em ratos, mas que já gerou um pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) – pode vir a ser uma alternativa mais inteligente para o tratamento dos alérgicos.

 

Diferente das tradicionais drogas anti-histamínicas, que só atuam depois da liberação no organismo das histaminas, isto é, das substâncias que desencadeiam as reações alérgicas, o novo medicamento vai atuar em uma fase anterior a esse processo, evitando que os sintomas se manifestem. A ideia surgiu após um longo período de pesquisas com proteínas alergênicas extraídas das sementes de mamona (Ricinus communis), em andamento há 15 anos no Laboratório de Química e Função de Proteínas e Peptídeos (LQFPP), do Centro de Biociências e Biotecnologia da Uenf, sob coordenação da professora Olga Machado. Ao longo de seu desenvolvimento, o projeto vem sendo apoiado pela FAPERJ por meio de diversos programas, como Auxílio à Pesquisa 1 (APQ 1) e o Edital de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCTR).

O primeiro passo da equipe foi identificar a estrutura bioquímica responsável pelo desencadeamento da alergia, que nada mais é do que uma reação imunológica do organismo quando em contato com substâncias estranhas, conhecidas como alérgenos (antígenos). Para isso, eles identificaram a sequência de aminoácidos de várias proteínas alergênicas contidas na torta de mamona – nome da massa de resíduos resultantes do processo de extração de óleo da semente, usada largamente como matéria-prima para a produção de biocombustíveis – e de seus epitopos. Os epitopos são as regiões da proteína que se ligam às imunoglobulinas, formando pontes especialmente com o principal anticorpo envolvido nas reações alérgicas: a imunoglobulina E (IgE).

 

Depois de desvendarem essa estrutura primária, os pesquisadores observaram que alguns aminoácidos, como o ácido glutâmico, apareciam constantemente nos epitopos. Intrigados, eles resolveram investigar as suas interações com a IgE e confirmaram a hipótese de que esses aminoácidos eram fundamentais para consolidar a ligação entre os epitopos e a IgE. “Para a proteína alergênica se associar e disparar o processo de alergia, certos aminoácidos têm que se ligar às IgEs das células, formando uma ponte com os epitopos e, então, liberando a histamina, ou seja, a substância que provoca os sintomas da alergia”, explica Olga.

 

Mecanismos da alergia

 

Pensando nesse mecanismo, a equipe da Uenf vem desenvolvendo um medicamento capaz de ocupar essas ligações antes que os epitopos das substâncias causadoras de alergia possam ocupá-la, evitando assim o surgimento dos sintomas indesejáveis. “A droga atua como uma bloqueadora de IgE”, resume a pesquisadora. “Começamos a desenvolver o medicamento em cultura de células de ratos e camundongos em 2005 e hoje estamos testando em animais vivos, com resultados preliminares imediatos e bastante satisfatórios”, conta. A realização de testes em humanos deve ser a próxima etapa. A equipe está aberta a propostas de empresas farmacêuticas para o fechamento de parcerias para o desenvolvimento final do remédio.   

 

De acordo com a bioquímica, a escolha da mamona para o estudo deve-se à importância da semente como fonte de produção de biocombustíveis. O principal subproduto da sua cadeia produtiva é conhecido como torta de mamona. Produzida a partir da extração do óleo das sementes, a torta é uma grande causadora de alergias, o que representa um desafio à saúde dos trabalhadores envolvidos nesse processo. “Devido à presença de alérgenos, o plantio, o processamento e a manipulação dessas oleaginosas podem constituir riscos para a saúde dos trabalhadores rurais e das usinas de produção, bem como da população nas áreas de plantio”, diz Olga.

 

A torta de mamona é utilizada como fertilizante orgânico por ser uma excelente fonte de nitrogênio e por apresentar propriedades inseticidas. Além disso, ela pode ser usada como matéria-prima para a produção de aminoácidos, plásticos, em especial biodegradáveis, colas e outros produtos. “É essencial agregar valor à torta produzida como um co-produto da extração do óleo de mamona, já que para cada tonelada de óleo extraída, é produzida 1,28 tonelada de torta de mamona, contendo cerca de 12 kg de proteínas alergênicas”, ressalta.

 

A boa notícia é que o medicamento deve apresentar resultados não só para as pessoas alérgicas à mamona, mas para quem tem outros tipos de alergia. Isso ocorre devido às respostas cruzadas entre alérgenos. As proteínas alergênicas da mamona estão presentes também no pólen, que, ao ser disperso no ar, pode causar sensibilização mesmo em quem nunca teve contato com a planta. “Indivíduos sensibilizados por alérgenos da mamona tornam-se propensos a desenvolver também sensibilidade a componentes alergênicos presentes em diversos alimentos, tais como camarão, peixe, glúten, trigo, soja, amendoim e milho”, afirma Olga. “Por isso, esperamos que o medicamento seja eficaz também contra outros tipos de alergia, causadas por alérgenos de outras fontes além da mamona”, conclui.

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