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Publicado em: 07/05/2009
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Estudo traça panorama da situação de mananciais na Rebio-Tinguá

Vilma Homero

Numa região que abrange os municípios de Nova Iguaçu, São João de Meriti, Caxias, a área da Unidade de Conservação Rebio-Tinguá abriga as nascentes de vários rios que fornecem água para a população da Baixada Fluminense. Rios, córregos e riachos que também abastecem as inúmeras e imensas piscinas de águas naturais das dezenas de sítios e grandes fazendas de lazer que, a cada final de semana, atraem milhares de turistas àquelas matas. Na mesma região, os moradores da comunidade da Biquinha sofrem com a falta de água. Apesar da enorme tubulação da Cedae, que conta com diversos pontos de captação na reserva, na maioria das casas, a água que chega às torneiras é de poço ou captada na precária fonte que dá nome ao lugar. É exatamente sobre essa área, de fundamental importância para a população fluminense, que a pesquisadora Ana Lucia Lucas Martins, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) concentrou seus estudos. Em Usos sociais da água e impactos na unidade de conservação Rebio Tinguá, ela procura traçar um panorama daquela área de proteção ambiental, incluindo a situação de seus mananciais, de seus moradores, e suas perspectivas de abastecimento hídrico.

"Não encontrei nenhum estudo de cientista social sobre a área da Rebio. E não há como se pensar questões de proteção ambiental, sem pensar nas relações homem/natureza. Se não incorporamos as populações envolvidas nessa questão, também não avançamos no jogo da conservação", fala Ana Lúcia. Nesse sentido, seu trabalho procura preencher uma lacuna importante. "Procuro mostrar como tem sido a gestão dos recursos hídricos e quais suas perspectivas futuras", fala.

 Divulgação / Felipe Ferreira 

        
Usados para lazer, rios da reserva também servem para que moradores, sem água nas torneiras, lavem roupas

Para isso, com uma equipe de alunos, ela faz inúmeras visitas à reserva, entrevista moradores e proprietários das fazendas locais. "Com 26 mil hectares, trata-se de uma reserva de tamanho significativo, especialmente considerando-se que está em área urbana. Sua maior área está no município de Nova Iguaçu, em Vila de Cava (283km2), e há outras menores em Miguel Pereira (119km2) e em Xerém, Duque de Caxias (87km2). Mas toda a reserva é uma região de conflitos e tensões", explica.

O que é fácil de entender. Nas áreas de amortecimento do entorno da floresta, concentram-se comunidades de moradores e grandes sítios voltados para o turismo. "Esse turismo tem como seu maior atrativo atividades ligadas à água. Em várias fazendas, as margens de rios são cimentadas para permitir seu uso para o lazer. Isso provoca assoreamento, a que se somam as toneladas de lixo deixadas pelos visitantes a cada final de semana", diz. Basta ver o estacionamento de uma dessas fazendas para constatar que o número de visitantes – que chegam em várias dezenas de ônibus de turismo, vans e automóveis particulares – atinge facilmente a casa dos milhares.

"A questão é que, enquanto a água para o lazer é abundante, falta para a população local. Sem abastecimento regular, é preciso recorrer a poços artesianos, às vezes perfurados próximos a fossas. Isso compromete a qualidade de vida das pessoas, já que esses poços não são capazes de atender nem em qualidade hídrica nem em vazão a demanda dos moradores, o que é foco de permanentes tensões", explica a pesquisadora. A comunidade da Biquinha é um exemplo do que fala Ana Lúcia. Esquecida durante décadas pelo poder público, ela agora é alvo de algumas ações em andamento. Colada à borda da floresta, a comunidade vem acompanhando as obras de manilhamento com que a Cedae pretende suprir de água e esgoto toda aquela área. "Como abriga muitos moradores antigos, a Biquinha também é interessante por nos possibilitar, através dos relatos e das memórias dessas pessoas, acompanhar a história ambiental da região."

 Divulgação/ Felipe Ferreira

    
Região de mananciais, a reserva e seus moradores vêm sendo objeto da pesquisa de Ana Lúcia (à direita)

Em 1934, foi criado um Código Florestal, delimitando a área de proteção às florestas na região do Tinguá, Xerém e Mantiqueira. Mas desde 1833, toda aquela área da Rebio-Tinguá é protegida por decreto imperial, já que havia a preocupação de se manter a preservação dos mananciais que abasteciam o estado. Principalmente a cidade do Rio de Janeiro, que à época sofria com a crise no abastecimento, agravada com o desmatamento da Floresta da Tijuca. Descrito pelos viajantes do século passado que se encantavam com as belezas do lugar, o Tinguá ainda conta com a ajuda da natureza para a proteção de seus mananciais: escarpas íngremes no interior da floresta dificultam o acesso até lá.

Apesar dessas medidas de proteção, há muitos pontos vulneráveis na reserva, e alguns deles que levam à perda de qualidade hídrica. "Além de áreas desmatadas para dar lugar a pastagens de gado, como acontece em Miguel Pereira, há também a captação de água desenfreada para o turismo na região do Tinguá, e as trilhas que levam às cachoeiras no interior, em Xerém, deixando lixo no interior da floresta. Tudo isso é causa de grande impacto hídrico", diz Ana Lúcia. Há ainda a ação de caçadores e palmiteiros, reduzindo espécies da fauna e flora local. "Trata-se de uma área em que habitam espécies endêmicas, em que o impacto da caça tem sido grande. Há tempos não se vêem mais exemplares de onça parda ou de jaguatiricas. Isso significa uma redução no quadro da biodiversidade local, embora ações de repressão à caça pelas autoridades florestais pareçam vir produzindo certa eficácia", fala.

A Rebio é uma área de proteção integral, e suas florestas têm acesso permitido apenas a pesquisadores. "O que acontece nas áreas de amortecimento, onde se concentra a população local – que precisa ter facilitado seu acesso à água, melhores condições de moradia e de transporte – se reflete na qualidade da floresta. E a proteção da floresta, por sua vez, tem reflexos diretos na vida dos habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro, já que envolve abastecimento hídrico, qualidade climática e o bem-estar da população."

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