Débora Motta
Divulgação/Uenf |
Extratos de ervas são testados em laboratório para comprovar eficiência do uso da homeopatia em animais |
A homeopatia e a fitoterapia ainda são pouco empregadas em animais, mas sua aplicação cresce na medida em que os medicamentos tradicionais – alopáticos – não alcançam os efeitos desejados. De acordo com a pesquisadora, o tratamento natural supera em muitos casos o tradicional. “As cepas dos carrapatos e dos vermes nematóides estão mais resistentes devido às sucessivas aplicações da alopatia, com superdosagens ou subdosagens equivocadas. Isso acontece porque os produtores rurais tradicionais costumam buscar informações sobre medicamentos diretamente nos balcões das casas de ração, em vez de procurar a orientação técnica de um profissional especializado”, explica Maria Angélica, responsável pelo setor de Parasitologia do Hospital Veterinário da Uenf.
Durante o projeto, a veterinária avalia os efeitos de cinco ervas (arruda, erva-de-santa-maria, melão-de-são-caetano, boldo e capim- limão) no controle de ecto e endoparasitos. No caso da arruda e da erva-de-santa-maria, já foram comprovados resultados no controle de carrapatos do tipo ixodídeos, por meio de testes in vitro. “Escolhi essas ervas a partir de um levantamento em que constatei que elas existem em todo o território nacional, o que justifica a viabilidade de estudar essas plantas. Elas são popularmente conhecidas por suas propriedades antiparasitárias”, explica a professora, que a partir de maio vai dar início aos testes das ervas in vivo, no rebanho de gado leiteiro mestiço de holandês da Estação Experimental Agroecológica Arca de Noé.
Com o apoio da Fundação, a estação foi implantada na propriedade Arca de Noé, do produtor rural Roberto Gomes Leite, em Sapucaia (RJ). Com selo orgânico desde
Divulgação/Uenf |
Gado estudado na Estação Experimental Agroecológica Arca de Noé segue os parâmetros do sistema orgânico |
Além de transmitir doenças e de sugar o sangue dos animais, o carrapato prejudica também o comércio exterior do país. “O carrapato tornou-se um problema governamental. O Brasil se encontra em terceiro lugar em exportação de orgânicos no mundo (café,chás, cachaça, sucos, feijão, milho, soja, açucar mascavo, doces e compotas e embutidos e laticínios). O país poderia estar em primeiro lugar na venda de couro bovino, mas ficou em 13 no ranking mundial de exportadores do produto, em 2005, atrás da Argentina”, diz Maria Angélica, que coordena uma equipe de 20 bolsistas. “O couro fica ainda mais depreciado porque o carrapato abre as portas para a atuação das moscas, que causam uma doença chamada miíase, caracterizada pela infestação de larvas que lesam o couro”, acrescenta.
Maria Angélica conta que a escolha de gado leiteiro orgânico para a pesquisa foi pautada pela necessidade de oferecer uma alternativa mais saudável à produção nacional de leite, base alimentar principalmente de crianças e idosos. “Existem na literatura casos de leucemia em vacas devido ao uso de carrapaticidas tradicionalmente comercializados, além de registros de intoxição nos trabalhadores que aplicam o produto. Nós bebemos esse leite com resíduos químicos”, diz, lembrando ainda que o país deve atender a rígidos parâmetros de segurança alimentar para atender o mercado interno e para poder exportar leite a mercados exigentes, como os da União Européia. “Esses mercados importam do Brasil, além de carne e leite do gado orgânico, o gado que o Ministério da Agricultura denomina ‘boi verde’, ou seja, aquele tratado com medicamentos tradicionais, mas que antes do abate não recebe nenhuma medicação, para ‘limpar’ o organismo de hormônios, praguicidas ou antibióticos. Esse prazo é conhecido como período de carência ”.
A pesquisadora alerta que os alimentos não orgânicos, sejam de origem animal ou vegetal, contêm substâncias altamente tóxicas, que podem causar ao organismo humano efeitos adversos – ainda incompreendidos. “Encontramos nos alimentos não orgânicos resíduos de várias bases químicas voltadas para o controle de insetos e de parasitos, além de antibióticos e hormônios”, diz. Ela lembra que a proposta da pesquisa está condicionada à administração de tecnologia limpa, de baixo impacto ambiental no sistema orgânico de produção, e à preocupação com o lado social, com o desenvolvimento sustentável e com a segurança alimentar do produto final que chegará na mesa do consumidor.
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes