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Publicado em: 05/03/2009
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Selo de biossegurança: para um trabalho sem riscos no laboratório

Vilma Homero

 Divulgação/UFRJ

      
        Em cima, carambolas saudáveis da árvore próxima ao
       CCS. Embaixo, os frutos prejudicados pela contaminação 

A árvore de carambola perto dos laboratórios do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra o tamanho do problema: seus frutos deformados tornam visíveis os efeitos da contaminação ambiental na área em que está plantada. Em outro ponto, nos corredores do próprio CCS, próximo das salas de aula, os níveis de contaminação por microorganismos, em 2007, excediam 3.000 unidades formadoras de colônias por m3, quando o máximo aceitável é de 750 unidades. "São diversas as situações de risco a que se expõem, cotidianamente, os pesquisadores durante o trabalho nos laboratórios, quando não há uma política de biossegurança eficiente", refere o professor Tomaz Langenbach, chefe do Laboratório de Toxicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que durante oito anos presidiu a Comissão de Biossegurança daquela universidade.

Para discutir essa situação, o Programa de Pesquisa de Governança de Risco, projeto sediado no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e coordenado por Langenbach, está organizando um encontro, previsto para este mês de março, com os representantes de instituições de biossegurança e das agências de fomento. Na ocasião, serão debatidas estratégias para melhorar as condições de trabalho nos laboratórios e proposta a criação de um selo de biossegurança. Com a criação do selo, uma proposta que será discutida é a de que a liberação de financiamentos a projetos estaria vinculada ao cumprimento de exigências de segurança. Seria uma forma de se procurar viabilizar as mudanças necessárias no ambiente de trabalho.

"Para receber os recursos de um financiamento, cada laboratório precisaria comprovar que está promovendo a adequação de equipamentos, instalações e normas de proteção individual compatíveis com os riscos de seu trabalho científico. Mas o selo só ganha expressão se for uma condição para aprovação de projetos pelas agências financeiras", explica Langenbach.

Trata-se de experiência semelhante a que foi feita com os transgênicos, com ótimos resultados. Naquele caso, as normas, com abrangência nacional, estabelecidas para a produção, foram introduzidas gradativamente, de forma a permitir a sua boa assimilação. "O caso dos transgênicos foi um desafio enfrentado com sucesso em nosso país, e uma experiência que pode ser estendida às demais áreas de pesquisa, no esforço de reduzir os riscos do trabalho científico. É um assunto até agora pouco discutido, mas que precisa ser continuamente abordado", diz Langenbach.

A proposta do selo surgiu como consequência da inoperância em mudar as condições de trabalho nos laboratórios, mesmo depois da extensa pesquisa realizada pela comissão que presidiu nas dependências do CCS. "Como muitas instituições não resolvem a questão de biossegurança a contento por iniciativa própria, estratégias para garantir cuidados para reduzir certos riscos se impõem", fala o pesquisador. É nesse sentido que o Programa de Pesquisa em Governança de Risco propõe levantar a discussão sobre o assunto, que já foi bem equacionado nos países do Primeiro Mundo.

Engenheiro agrônomo, com doutorado em biologia na Alemanha, e pesquisas em microbiologia ambiental, durante oito anos ele presidiu a Comissão de Biossegurança na UFRJ, criada para reduzir os riscos no trabalho científico. Durante a sua gestão, Langenbach fez extensa pesquisa sobre todas as condições de segurança nas instalações do CCS, da UFRJ. "Foram avaliadas as condições externas dos prédios, a qualidade do ar dos corredores e as características internas dos laboratórios. A partir daí, elaboramos um relatório em que sugeríamos medidas para solucionar os problemas mencionados. Mas, um ano após a ampla divulgação promovida entre os dirigentes do centro, nenhuma das sugestões havia sido implementada. Isso deixa claro que a comunidade científica conhece os problemas, tem capacidade de sobra para resolvê-los, mas as coisas não acontecem."

Para Langenbach, quando as instalações são adequadas, o desempenho do trabalho fica mais seguro. "Mas o modo de trabalhar também pode ser um complicador. Nem sempre estamos conscientes de todos os riscos que corremos", fala. Ele próprio foi vítima de acidente em seu laboratório, há mais de duas décadas. No ambiente refrigerado e fechado em que trabalhava, mesmo com o uso de capela, o fato de respirar solventes orgânicos pode ter sido o que lhe desencadeou uma grave doença.

Segundo o pesquisador, um bom exemplo de experiência bem-sucedida é a política de biossegurança da Fiocruz, instituída há mais de dez anos. Ele explica que medidas simples e pouco onerosas podem contribuir para grandes saltos de qualidade nessa área. Como o descarte organizado que foi promovido no CCS, durante a sua gestão à frente da comissão. "Muitos laboratórios trabalham com material tóxico ao homem e a outras formas de vida. Antigamente, no CCS, esses resíduos eram descartados no lixo ou no esgoto, ou então guardados, o que às vezes resultava no acúmulo de grandes quantidades de material descartado. A articulação entre os laboratórios para o descarte desse material, previamente agrupado em classes diferentes e removido por uma empresa especializada, teve excelentes resultados", conta.

Igualmente importante é o ensino sobre os cuidados básicos para os estudantes recém-chegados nos laboratórios. Na impossibilidade de se acrescentar esse ensinamento à grade curricular, tornou-se essencial transmitir esse conhecimento sem os condicionantes de tempo e local. A partir daí, surgiu o curso a distância preparado por Langenbach e sua equipe. O CD didático traz instruções de cuidados básicos para o trabalho em laboratório. "Muitos estudantes, estagiários de iniciação científica, chegam aqui sem saber os procedimentos fundamentais para lidar com material de risco. Assim, pensamos numa forma de fazer isso como um guia, que pudesse ser facilmente adotado."

Para o professor, embora o trabalho voltado para o avanço tecnológico venha trazendo inúmeras soluções para a sociedade, seu exercício cotidiano traz também algumas consequências. "Devemos sempre avaliar riscos e, quando for preciso, assumi-los e procurar saná-los", conclui.

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