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Publicado em: 09/10/2008
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Reflexões sobre o lazer na Cidade Maravilhosa ganham publicação

 Reprodução

     

     No livro, a análise do lazer
     sob vários enfoques

Durante quatro finais de semana, em 2006, uma casa na cidade praiana de Muriqui foi cenário de lazer para oitenta pessoas. Mais do que sol e praia, esses "turistas" puderam, pela primeira vez em muito tempo, aproveitar prazeres que dificilmente podiam experimentar: 77,5% deles eram moradores dos quatro núcleos do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, enquanto outros 19% eram moradores de Residências Terapêuticas. A experiência, organizada pelo Clube de Lazer e Cidadania da Colônia, mostrou que ações do gênero não apenas contribuem para a desinstitucionalização desses pacientes, como para sua inclusão social. É também uma das iniciativas enfocadas no livro Lazer e Cidade – Reflexões sobre o Rio de Janeiro, em que os organizadores Edmundo de Drummond Alves Júnior, Victor Andrade de Melo e Angela Brêtas, reúnem diversos artigos para propor uma reflexão sobre o tema.

Publicado recentemente pela editora Shape, com apoio da FAPERJ, o livro procura, ao longo de 13 capítulos, investigar as múltiplas dimensões do lazer. "Esta temática tem se tornado cada vez mais uma preocupação e avançam as iniciativas ligadas tanto à reflexão teórica sobre o assunto quanto ao número de experiências concretas de intervenção", fala Victor de Andrade Melo. No livro, analisam-se aspectos históricos, numa comparação entre as cidades de Paris e Rio de Janeiro, na transição entre os séculos XIX e XX; a busca pela transformação: lazer, mediações culturais e vida associativa numa favela carioca; até o impacto de políticas públicas de esporte e lazer em Petrópolis; ou as experiências de lazer em saúde mental; e para idosos e aposentados.

Na segunda metade do século XIX, capitais de grande influência e representação simbólica, tanto internacionalmente quanto em seus países, viveram profundamente a transição e as tensões desencadeadas pela construção da idéia de modernidade. Foi o caso de Paris e do Rio de Janeiro. Nessas cidades, as atividades públicas de lazer ganharam papel fundamental na construção de uma nova forma de organização urbana. Preparava-se terreno para a "sociedade de consumo" que se anunciava, em que lazer e diversão ganhariam ainda maior importância.

"No Rio, podemos observar o desenvolvimento e melhor estruturação de um mercado de diversões, que incluía espetáculos musicais e teatrais, os primeiros momentos de nosso cinema e o crescimento das práticas esportivas, em que se destaca o remo", explica Victor Melo no primeiro capítulo. Naquela época de transição, certos esportes ganhavam espaço, como práticas adequadas a um país que se pretendia moderno, embora atividades ditas "bárbaras", como a briga de galo e a capoeira, mantivessem sua popularidade entre as camadas menos privilegiadas economicamente.

"O prefeito Pereira Passos bem que tentou implementar os corsos como forma correta de brincar o Carnaval, mas suas ações não foram eficazes em eliminar os zé pereiras, jongos e lundus. Da mesma maneira, os bailes do Teatro Municipal não substituíram os sambas de roda. Ao contrário, o que se observa é a criação de espaços públicos que acabaram dando origem a novas manifestações, como o choro e o samba carioca, em suas múltiplas formas de organização, inclusive as escolas de samba."

Paralelamente, buscava-se também intervir nas atividades de lazer do operariado nascente. Na esteira da Segunda Guerra Mundial, e para atrair os trabalhadores para a órbita do Estado, foi criado o Serviço de Recreação Operária, que oferecia aos trabalhadores sindicalizados a oportunidade de vivências culturais consideradas benéficas e necessárias à formação/educação desse trabalhador e fundamental para os novos tempos.

"As práticas rotineiras de recreio das camadas pobres da população eram desqualificadas, já que não se coadunavam com o comportamento esperado de um trabalhador da era Vargas", comenta Angela Brêtas. Em contrapartida, empresas como a Companhia Light de Luz e Força, ofereciam a seus funcionários programas de atividades, composto por esportes, cinema, teatro, escotismo, jogos de salão e biblioteca. "Tudo isso destinava-se a proporcionar aos associados uma vida social condizente com sua situação de cultura, visando a uma maior aproximação e maior solidariedade entre os integrantes da classe trabalhadora", explica a pesquisadora.

Tal como no caso das atividades com pacientes do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, que mostraram tantos aspectos positivos como se viu no início deste texto, o lazer também tem sido, nas últimas décadas, motor de experiências sociais em áreas da cidade consideradas de "risco". Multiplicam-se os projetos voltados para jovens moradores de favelas, boa parte deles identificada como "de lazer, esporte ou cultura", numa tentativa de apresentar a essa população uma alternativa à ociosidade, que, em geral, está associada a valores negativos, como violência e criminalidade.

Implícita ou explicitamente, essas iniciativas procuram transformar trajetórias – que dentro dessa visão aparece condicionada e limitada pelo contexto social da pobreza e da exclusão. A idéia aqui seria de ampliar as "oportunidades capazes de proporcionar aos jovens moradores da favela de Manguinhos uma maior possibilidade de mobilidade e manobra social". "Neste sentido, a importância dessas iniciativas estava relacionada à aquisição de valores morais, capazes de modificar a percepção de crianças e jovens sobre a vida, afastando-os supostamente da violência e do mundo do crime", afirma Fabio de Faria Peres, em um dos capítulos do livro.

Desta forma, Lazer e cidade traça um panorama teórico bastante extenso dessa temática, em seus múltiplos aspectos. Como fala Victor Melo, "seus capítulos são investigações desenvolvidas por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, tendo em comum o fato de buscar inserir o lazer no cenário das tensões da sociedade contemporânea, numa preocupação com a articulação entre teoria e prática, e um desejo de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Esperamos que o leitor sinta-se convidado a embarcar nessa fascinante viagem."

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