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Publicado em: 20/12/2007
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Pesquisa busca novas substâncias para combater Aedes aegypti

Vilma Homero

Ele tem apenas de 5 a 7milímetros e listras brancas bastante características, mas se tornou um desafio às autoridades de saúde do país. O Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, foi o responsável por 536.519 casos da doença registrados no país entre janeiro e novembro de 2007, 1.275 deles na forma hemorrágica. Ou seja, 200 mil a mais do que em 2006, com o maior número de casos registrados na região Sudeste. Apesar desses dados, divulgados em dezembro pelo Ministério da Saúde, a boa notícia é que houve uma redução das áreas críticas de disseminação do vírus em comparação a anos anteriores. Resultado que se pode atribuir às campanhas que têm sido feitas para eliminação dos focos do inseto.

É uma luta sem tréguas, que se desenvolve em várias frentes. Enquanto de um lado permanece o combate aos possíveis criadouros do Aedes aegypti, nos laboratórios, os pesquisadores buscam conhecer cada vez mais as características do vetor para melhor combatê-lo. É exatamente o que faz a bióloga Denise Valle, do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores, do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em sua pesquisa "Dengue no estado do Rio de Janeiro, monitoramento e determinação dos mecanismos de resistência aos inseticidas químicos usados no programa de controle do Aedes aegypti", ela tem estudado diferentes populações de mosquito de diversos municípios brasileiros e o papel das enzimas responsáveis pela detoxificação de inseticidas, incluindo as enzimas esterases e GST (sigla para glutationa-s-transferase), na resistência aos inseticidas atualmente usados.

O estudo de Denise e sua equipe se soma às pesquisas desenvolvidas por especialistas de diferentes áreas – epidemiologistas, médicos, entomologistas, biólogos –, que subsidiam o Ministério da Saúde para traçar as estratégias do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD). Isso inclui trabalhos que buscam entender as características e o comportamento do vetor, as formas de melhor monitorar seus criadouros e, naturalmente, identificar as substâncias mais eficazes para eliminá-los.

Especialmente neste último caso, de resistência a inseticidas químicos, seu laboratório é referência nacional para o Ministério da Saúde e um dos integrantes da Rede Nacional de Monitoramento da Resistência de Aedes aegypti a Inseticidas (MoReNAa) – o mais amplo programa mundial do gênero. No momento, a equipe finaliza uma pesquisa de produtos que neutralizam o inseto por atuar sobre seu metabolismo, tornando-o inofensivo. Produtos que estão em fase final de testes, antes de entrar na rotina do ministério para o combate à dengue.

"Fazemos uma integração entre pesquisa acadêmica e prestação de serviços para o Ministério da Saúde, na definição de um programa de gestão integrada, que tem servido como modelo não só para o combate ao Aedes aegypti como também para aplicação contra outros vetores, no Brasil e em outros países do Mercosul". Ao analisar, entre 2001 e 2004, as populações de mosquito de vários municípios brasileiros, o grupo de Denise pôde identificar as variações nas diversas regiões do país, o que levou a Rede MoReNAa a sugerir estratégias específicas a cada uma delas.

"A constatação, no começo do verão, de índices elevados de infestação pelo mosquito é um indicador de risco de surto de dengue. Por isso mesmo, o Ministério da Saúde costuma fazer levantamentos de infestação a cada dois meses, e especialmente antes do verão (em geral no mês de outubro). O controle é feito principalmente voltado para a eliminação das larvas, evitando-se que cheguem às formas adultas, passíveis de transmitir a doença", fala a pesquisadora.

Confira a entrevista em que a pesquisadora analisa a realidade do combate à dengue e as alternativas atualmente em estudo.

Boletim da FAPERJ – Pelos resultados de sua pesquisa "Dengue no estado do Rio de Janeiro: monitoramento e determinação dos mecanismos de resistência aos inseticidas no programa de controle do Aedes aegypti" e pelos mapeamentos já feitos dos focos e tipos de mosquito predominantes em determinadas regiões, a senhora tem sugerido medidas específicas a cada área do país. No caso do Rio de Janeiro, quais os tipos de mosquito prevalentes e quais seriam as medidas mais adequadas à realidade fluminense? E o que considera como os resultados mais importantes ou surpreendentes de sua pesquisa?

Denise Valle Basicamente só há uma espécie de mosquito vetor de dengue no país, o Aedes aegypti (já que o Aedes albopictus ainda não foi incriminado como vetor no país). O que varia são as populações do mosquito, mais ou menos numerosas e com características fisiológicas distintas em função das condições existentes de cada região e da pressão que se faz para combatê-lo. Dos quatro sorotipos do vírus, existem três no Brasil. Mas a circulação desses sorotipos é bastante dinâmica. No início da epidemia de 2002, por exemplo, circulavam na cidade do Rio de Janeiro principalmente os tipos 1 e 2, mas no decorrer do surto, o tipo 3, detectado pela primeira vez no Rio em 2000, se disseminou e passou a ser responsável pela maioria dos casos. Nosso temor agora é a entrada no país do vírus tipo 4, já presente em alguns países da América Latina. O combate ao vetor, no caso o Aedes aegypti, é uma das medidas mais importantes dessa luta e precisa ser efetivada durante todo o ano. O importante é eliminar os criadouros de larvas, evitando, assim, que elas se transformem em mosquitos adultos e possíveis transmissores da doença. No Rio, é preciso um empenho maior e integrado das várias secretarias, à semelhança do que foi feito em Belo Horizonte, onde se criou um comitê de combate à doença, que reuniu, semanalmente, os secretários municipais de Política Urbana, Saúde, Planejamento etc. Foi como eles abortaram uma epidemia no verão passado.

Boletim da FAPERJ – Apesar dos esforços para controlar os focos de mosquito, a dengue tem ressurgido aparentemente em formas cada vez mais danosas ao homem, com o aumento dos casos de dengue hemorrágica. Que fatores, na sua opinião, levam a essa situação?

Denise Valle – A questão é que só se contrai uma única vez cada sorotipo do vírus. Isso porque ao ter a doença pela primeira vez, o indivíduo fica imunizado para sempre contra aquele sorotipo, mas apenas temporariamente contra os demais. Numa segunda vez, se vier a ser contaminado por um sorotipo diferente, é provável que o episódio seja mais grave. Em outras palavras, embora ainda não se conheça todos fatores responsáveis pelo desenvolvimento de dengue para a forma hemorrágica, de modo geral, quantos mais episódios da doença, maiores as chances de contrair a do tipo hemorrágico. Temos que trabalhar para não ter no país um perfil da doença semelhante ao asiático. Lá a dengue se transformou em doença de criança, o que quer dizer que não há mais muitos adultos suscetíveis.

Boletim da FAPERJ – Um dos focos de sua pesquisa é a resistência do Aedes aegypti aos efeitos dos inseticidas usados. Como atua esse mecanismo de resistência e qual a importância da enzima GST nessa atuação?

Denise Valle – Os principais inseticidas atualmente usados atuam sobre o sistema nervoso central do mosquito. Eles exercem a pressão de seleção sobre as populações de mosquito: sobrevivem os mais resistentes. Até 2000, os únicos inseticidas usados em todo o país contra larvas e mosquitos adultos eram à base de organofosforados. Naquele ano, a Rede MoReNAa verificou que as populações de mosquito estavam resistentes a essa classe de inseticidas. Passou-se então a empregar piretróides no controle de mosquitos adultos, nacionalmente. Hoje, no entanto, já observamos resistência também aos piretróides. Por isso, o mais importante é o combate contínuo aos focos de larvas. Já a GST, assim como as esterases e as monooxigenases, são enzimas detoxificantes, responsáveis pela resistência metabólica do mosquito. Nosso laboratório adaptou metodologia que quantifica a atividade dessas enzimas em grande escala. Este trabalho foi validado pelo Centers for Disease Control americano e publicado sob a forma de livro (em parceria entre o Ministério da Saúde e a Fiocruz) e de artigo, em revista científica internacional. Para cada população, são avaliadas seis enzimas simultaneamente, em 120 mosquitos individuais. Encontramos maior atividade nas enzimas GST e esterases, e temos procurado relacionar esse resultado à resistência a organofosforados e a piretróides.

Boletim da FAPERJ – Alguns pesquisadores sugerem o uso de pesticidas com princípio ativo extraído de plantas. Pelo que tem testado em seu laboratório, que outras substâncias poderiam substituir com eficácia os inseticidas atuais, e mais especificamente contra os tipos de mosquito encontrados na região do Rio de Janeiro?

Denise Valle – No Brasil, só usamos inseticidas aprovados pela Organização Mundial de Saúde. Há diversos estudos para desenvolver pesticidas extraídos de plantas. Mas como o Aedes aegypti é um mosquito urbano que põe seus ovos na água, o maior problema com relação a inseticidas alternativos é poder usá-los em água potável, o que reduz a gama de possibilidades. O outro requisito é que esses produtos possam ser produzidos em escala comercial. Atualmente, o ministério tem considerado a possibilidade de usar, para o controle de larvas, inseticidas alternativos do grupo dos Reguladores do Desenvolvimento de Insetos (IGR, do inglês Insect Growth Regulator). Estas substâncias impedem que os insetos alcancem a fase adulta. Algumas, como os análogos de hormônio juvenil (AHJ) atuam no sistema endócrino das larvas, fazendo com que mudem sempre para outra larva, jamais atingindo a fase adulta. Outras dessas substâncias são os inibidores da síntese de quitina (ISQ), que interferem com a elaboração do exoesqueleto do inseto, tornando-o vulnerável. Atualmente, representantes dessas substâncias estão aprovadas para uso em água potável, ou seja, não têm efeitos tóxicos para os humanos. Nossa equipe agora observa até que ponto haverá resistência cruzada dos inseticidas químicos com essas substâncias.

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