Roni Filgueiras
Divulgação |
Experimentos com placas de polímeros e amido: solo e microorganismos degeneram compostos |
“Para onde olharmos, veremos polímeros”, diz Dilma, que brinca que o maior problema da humanidade não é a violência, mas a garrafa PET (politereftalato de etila, um poliéster, polímero termoplástico, ou plástico, usado na indústria de embalagens e tecelagem). "Já não é possível descartar o plástico na natureza, é preciso descobrir e popularizar um meio fácil de reaproveitá-lo", incentiva a engenheira. Uma dessas formas, ela, que há quase duas décadas se especializou na reutlização de polímeros (longas cadeias orgânicas basicamente compostas de carbono, sendo o mais conhecido o plástico), descobriu ainda na época em que cursava o doutorado ao defender a tese sobre reciclagem de polímeros.
“Se eu quebrasse a cadeia orgânica de polímeros usando um determinado catalisador de refinaria degradaria este polímero e produziria um combustível. A tese foi comprovada, mas até hoje só há uma única fábrica na Alemanha que faz isso. Ainda é economicamente inviável”, diz a coordenadora da graduação de engenharia química da UFRRJ. “Conseguimos que o polímero tivesse uma grande resistência, obtivemos um produto tão bom que não sabemos o que fazer com ele hoje”, exemplifica. Tornar a reciclagem um processo ao alcance de todos é um mantra que ela quer ver aplicado na prática pelos brasileiros. “Os brasileiros ainda resistem, mas para que isso funcione tem de ser simples e barato.”
Na pesquisa intitulada “Degradação microbiológica de mistura de polietileno e amido”, Dilma e seus alunos conseguiram comprovar que é possível que um objeto fabricado a partir de polietileno com amido seja decomposto por um determinado microorganismo. “Separamos cinco tipos de solos e enterramos a amostra e o deixamos ao ar livre, sob sol e chuva.” Com a experiência, a pesquisadora e os estudantes observaram que duas amostras de solo com um determinado microorganismo degradava o material, ao contrário dos outros três. “Isso prova que é possível degradar o polietileno com amido e reintegrá-lo ao meio ambiente, o que evitaria a contaminação de solo e leitos de rios." Em janeiro de 2008, o Departamento de Solos da UFRRJ vai testar a composição dos solos dos experimentos. “Nesta fase, vai-se isolar o microorganismo e identificá-lo; até agosto, a pesquisa estará concluída”, prevê Dilma.
A pesquisa “Desenvolvimento de novos compósitos de polietileno, carepa e e-cat para aplicação de pavimentação” surgiu de uma conversa com um professor, que estava de visita marcada à Gerdau Cosigua, no pólo siderúrgico de Santa Cruz. “Acabei me convidando”, lembra-se Dilma. Na unidade do maior grupo do ramo no país, ela observou a grande quantidade de resíduos gerados nas diversas fases da transformação de sucata em arame, arame farpado e pregos. “No processo, eles usam todo tipo de sucata, de carcaças de carros a geladeira velha e vimos que tudo é beneficiado com grande quantidade de resíduo”, enumera. Há dejetos como a carepa (óxido de ferro que se forma na superfície do aço laminado a quente); e o e-cat, um catalisador à base de alumínio silicato, produto fornecido pela Fábrica Carioca de Catalisadores S.A. (única empresa de catalisadores para refino de petróleo do Brasil, formada pela Albemarle Catalysts e Petrobras), que só é usado duas a três vezes na indústria e depois desprezado. “A partir dessa visita, comecei a pensar como esses resíduos poderiam ser reaproveitados. Isso seria um ganho para a Gerdau, que ainda teria lucro na transformação desses dejetos em produtos comercializáveis”, afirma Dilma.
O projeto “Desenvolvimento de novos compósitos de polietileno, carepa e e-cat para aplicação de pavimentação” visa agregar esses dejetos à argila e fabricar uma cerâmica mais resistente. “Seria uma cerâmica plástica, pois o polietileno não deixaria o material quebrar tão facilmente, e ainda o tornaria impermeável, isolando os tóxicos do e-act”, explica Dilma. Além da engenheira, fazem parte da pesquisa o químico Hélio Fernandes Jr. e as arquitetas Liliana Fay e Emília Martins Ribeiro, todos da UFRRJ.
Já o estudo “Produto de limpeza ecológico: do óleo ao sabão”, que recebeu recursos do edital “Apoio à Melhoria do Ensino nas Escolas Públicas do Estado do Rio de Janeiro”, da Fundação, quer dar um destino simples ao velho óleo de cozinha. “Esta pesquisa é um desdobramento de meus trabalhos, ainda estamos no estágio inicial, mas hoje já existem ONGs que se especializaram em recolher em domicílio o óleo de cozinha usado para transformá-lo em sabão em barra”. É uma forma, como prega a pesquisadora, de ajudar o meio ambiente e ainda ter uma renda extra.
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