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Publicado em: 23/08/2007
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Estudo joga novas luzes sobre a resistência do vírus HIV às drogas

Paul Jürgens

 Vinicius Zepeda    

 
Soares: coordenação de 3 grupos de
pesquisa entre o Rio e o Sul do país

Um grupo de pesquisadores brasileiros acaba de anunciar uma descoberta que deve abrir novas perspectivas para o tratamento de Aids nos países em desenvolvimento – os mais afetados pela pandemia da Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida). Sob a coordenação de Marcelo Soares, professor e pesquisador do Departamento de Genética da UFRJ, o grupo estudou o comportamento dos vírus dos tipos B e C em pacientes de dois grandes centros de atendimento de HIV/Aids no Rio Grande do Sul. A pesquisa constatou que os do segundo grupo – que afeta principalmente os países ditos periféricos – estão menos propensos às mutações que tornam o vírus mais resistente ao coquetel anti-HIV.

Em outras palavras, o tratamento dos indivíduos que carregam o subtipo C leva vantagem sobre os do outro grupo, já que o tempo necessário para que o vírus desenvolva mecanismos de resistência às drogas é significativamente maior. “Estamos muito contentes com a descoberta, pois a variante C, além de pouco estudada até o momento, é a responsável por nada menos que 50% dos casos reportados de HIV no mundo, a maioria deles na África subsahariana”, explica Soares. O HIV é dividido em tipos genéticos que vão, nas letras do alfabeto, de A até K. Realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e no Hospital Universitário da cidade do Rio Grande ao longo dos últimos seis anos, o trabalho de pesquisa, que contou com o apoio da FAPERJ, incluiu duas das três classes de remédios utilizados no coquetel anti-HIV.

Apresentada pelo pesquisador na mais recente Conferência Internacional da Aids, no mês de julho, em Sydney, a descoberta foi divulgada oficialmente em artigo publicado na edição de agosto da revista científica PloS ONE (Public Library of Science). Nas próximas semanas, a inclusão do artigo em portais e bases de dados especializados em medicina promete ter repercussão internacional. “A implicação destes resultados é promissora para encorajar e intensificar as políticas governamentais internacionais de auxílio e financiamento do tratamento de pessoas infectadas em países pobres da África e da Ásia, onde o subtipo C é o dominante”, explica Soares.


Colaboração reúne três grupos de pesquisa do país

A equipe coordenada por Soares reúne, além de pesquisadores da UFRJ, cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Fundação Universitária do Rio Grande. A colaboração com as duas equipes gaúchas foi fundamental para consubstanciar o estudo porque, em território nacional, a região em que está localizado o Estado do Rio Grande do Sul é a que conta com uma significativa presença de soropositivos infectados pela variante C. Nas demais áreas do país e do continente americano, assim como na Europa Ocidental, no Japão e na Austrália, o tipo B é o mais comum – razão pela qual tem sido a variante mais estudada já que afeta populações de áreas afluentes – embora o total de infectados por essa variante só represente 14% de casos no globo.

Outra importante razão para concentrar a pesquisa no estado gaúcho é o fato de que desde 1996 o Brasil possui uma política de acesso universal e gratuito ao tratamento com o coquetel anti-HIV. E o estado gaúcho, na opinião do pesquisador, é possivelmente o único lugar do mundo onde o tipo C já foi exposto aos medicamentos do coquetel por longos períodos.

 Divulgação

 
         Mapa-múndi mostra incidência das variantes do HIV  

“O tipo C é o mais comum no mundo, sendo responsável por metade de todas as infecções por HIV, cerca de 20 milhões. É típico de países africanos ao sul do deserto do Saara, que abriga 2/3 das infecções do planeta. Além disso, é o tipo encontrado na Índia, país com número crescente de infecções pelo HIV. É muito importante entendermos as propriedades deste variante do vírus, pois quando é introduzido em uma população em que não ocorria antes, ele passa a prevalecer na epidemia da região”, explica Soares. “Apesar do tipo C ser o mais freqüente no mundo, pouco ainda se sabe acerca de suas características biológicas, principalmente acerca da eficácia da resposta terapêutica do coquetel nos pacientes infectados”, diz Soares.

Indivíduos sob tratamento ‘ideal’ têm chances insignificantes de transmitir o vírus

Cerca de duas dezenas de novas drogas para combater o HIV, desenhadas invariavelmente em laboratórios de países ricos, chegaram ao mercado ao longo dos últimos anos. Os preços de lançamento, sempre elevados, impedem o acesso pelas populações de países periféricos. Embora não sejam capazes de bloquear completamente a mutação e a replicação do HIV, os novos medicamentos vêm contribuindo para retardar esse processo, além de minimizar em escala crescente os efeitos colaterais de alguns dos princípios ativos que parecem os mais adequados ao tratamento anti-retroviral, que permanecem presentes em algumas dessas novas drogas.

“A Aids está se tornando uma doença crônica, mas sob o ponto de vista social temos observado uma melhora constante para os pacientes”, diz o pesquisador da UFRJ. Soares lembra que indivíduos que têm acesso ao tratamento pela Rede SUS (Sistema Único de Saúde) – o programa brasileiro de combate à Aids já foi considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um modelo para os países em desenvolvimento –, levam uma vida praticamente normal. “O coquetel surgiu há 12 anos e os pacientes que recebem tratamento e acompanhamento ‘ideal’ têm chances insignificantes de transmitir o vírus a uma outra pessoa”, afirma Soares.

No Brasil, há cerca de 140 mil pacientes em tratamento pelo SUS. O total de casos estimados no país é de 600 mil. No mundo, a população infectada pelo HIV seria de 40 milhões de pessoas. Para Soares, que além de pesquisador do laboratório de genética do UFRJ também atua como colaborador do Instituto Nacional do Câncer (Inca) desde meados do ano passado, o programa nacional de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e Aids do país continua sendo um dos mais efetivos e eficientes do planeta. “Apesar de alguns contratempos, o programa continua sendo um exemplo a seguir no manejo da epidemia”, elogia.

O artigo publicado na PloS ONE ganhou o título de Differential Drug Resistance Acquisition in HIV-1 of Subtypes B and C. Além de Marcelo A. Soares, assinam o estudo os pesquisadores Esmeralda A. J. M. Soares, André F. A. Santos, Tathiana M. Sousa, Eduardo Sprinz, Ana M. B. Martinez, Jussara Silveira e Amílcar Tanuri.

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