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Publicado em: 04/04/2024 | Atualizado em: 04/04/2024

5ª Conferência Estadual de C,T&I discute caminhos para o fomento à pesquisa e desenvolvimento

Débora Motta

A partir da esq., a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima, o secretário estadual de C,T&I, Mauro Azevedo, e o subsecretário Edgard Leite, na mesa-redonda Ecossistema de C,T&I fluminense (Foto: Lécio Augusto Ramos)  

Com o tema “C,T&I para um Rio de Janeiro Justo, Sustentável e Desenvolvido”, a 5ª Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação levou à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na terça e quarta-feiras, dias 2 e 3 de abril, um panorama da produção científica e tecnológica fluminenses, em uma série de debates sobre os desafios e oportunidades para a formulação de políticas de fomento ao setor. Iniciativa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), o evento reuniu no Teatro Odylo Costa Filho, no campus Maracanã, diversos gestores, representantes de instituições públicas e privadas, acadêmicos, empresários e pesquisadores, se consolidando como um fórum importante para alinhar as propostas a serem apresentadas nos dias 4, 5 e 6 de junho, na Conferência nacional, em Brasília.

Na mesa-redonda Ecossistema de C,T&I fluminense, o papel das universidades estaduais para o desenvolvimento científico regional e a importância de ações integradas no fomento à pesquisa, entre a FAPERJ e a SECTI, estiveram em pauta. “Temos um ecossistema bem diversificado no estado, com instituições que atendem a diversos níveis, desde a creche, com a Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica), até a pesquisa avançada, com a FAPERJ, fora as instituições federais sediadas em território fluminense”, detalhou o secretário de Estado de C,T&I, Mauro Azevedo. “O desafio é interligar esse ecossistema para que a academia possa trabalhar de forma integrada, com o setor público e o privado, e atender às necessidades da ponta, chegando ao cidadão”, resumiu.

Diálogos para o financiamento à C,T&I

O presidente da FAPERJ, Jerson Lima, ressaltou a importância do repasse contínuo, pelo Governo do Estado, dos 2% da receita tributária líquida à FAPERJ, que permite com que a Fundação mantenha seu orçamento anual para o fomento à C,T&I. “Essa regularidade no repasse de recursos é fundamental. O objetivo desta conferência é olhar para o futuro. O Brasil ainda tem poucos pesquisadores por milhão de habitantes, cinco vezes menos do que os países que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)”, lembrou.

“Temos na FAPERJ cerca de oito mil bolsistas e sabemos que não há futuro para o País se não houver investimento em pesquisa básica, e sem fazer a ponte da produção acadêmica com a sociedade. Temos orgulho do trabalho desenvolvido no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj, de alta complexidade, que tem a excelência da pesquisa e da extensão. O Rio foi muito importante no estudo que comprovou a relação entre Zika e microcefalia, por exemplo. Temos trabalhado em parceria com outras agências de fomento e com o Governo Federal, em diversos editais, como o Pronex, os INCTs, o Tecnova e o Programa Centelha”, citou Lima. Participaram ainda desta mesa a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo; a reitora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Rosana Rodrigues; a presidente da Faetec, Caroline Alves; o presidente interino da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), Gerson Oliveira; e o mediador, o subsecretário de Estado de Ensino Superior, Tecnológico e Pesquisa, Edgard Leite.   

Dando continuidade aos debates, o diretor de Tecnologia da FAPERJ, Aquilino Senra, traçou um painel do ecossistema de inovação estadual, na mesa-redonda Ciência, Tecnologia e Sociedade. “Investimentos em tecnologia são essenciais, porque geram resultados que impactam diretamente a vida da população. O Brasil ocupa a 49ª posição no ranking global de inovação, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, que considerou 132 economias de todo o mundo”, contextualizou.

Aquilino Senra: diretor de Tecnologia da FAPERJ destacou a atuação da Fundação para promover o empreendedorismo, como o lançamento do edital Doutor Empreendedor, e elencou áreas estratégicas para o fomento à inovação (Foto: Lécio A. Ramos)

Senra citou cases de sucesso da aplicação de ideias inovadoras no setor empresarial brasileiro, como a Embraer, a Embrapa e a Petrobras (Pré-Sal), ao lado do complexo econômico e industrial da Saúde da Fiocruz. Ele lembrou que a FAPERJ tem lançado programas para incentivar os estudantes a se tornarem também empresários, como o Doutor Empreendedor. Para os próximos anos, ele sugeriu algumas áreas estratégicas para investimento. “Devemos investir em áreas que estão na fronteira da inovação, como a Internet das Coisas, a nanotecnologia, Tecnologias Verdes, Inteligência Artificial, tecnologias para o setor de Saúde e de Empreendedorismo Social e tecnologias quânticas”, sugeriu. Entre os palestrantes deste debate, estiveram também o físico Alexandre Rossi, pesquisador na área de biomateriais no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF); o assessor da Presidência da FAPERJ, engenheiro mecânico e nuclear Antonio José da Silva Neto, que falou sobre sua experiência no Instituto Politécnico da Uerj; e o engenheiro químico José Alberto Sampaio Aranha, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).  

Inovação para o desenvolvimento urbano

O papel da Ciência e Tecnologia para a melhoria da qualidade de vida nas cidades foi o tema da mesa-redonda realizada na tarde de terça-feira, que apresentou o projeto Conecta, desenvolvido na Uerj. “O Conecta Uerj-Rio propõe uma cartografia das demandas regionais, para apoiar a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico e integrado das diversas regiões fluminenses, com um estudo detalhado e propostas de gestão para as regiões Serrana, Baixada Litorânea, Centro-Sul Fluminense, Sul Fluminense, Metropolitana, Norte e Noroeste Fluminense, Costa Verde”, explicou Egberto Gaspar de Moura, professor titular da Uerj.

Ele organizou, junto com Tatiane Alves Baptista, criadora da Plataforma Conecta e também professora titular da universidade, o livro Mapa dos desafios e oportunidades para a gestão municipal: uma agenda de melhorias para as políticas públicas nas cidades, que reúne detalhes sobre o projeto. Também foi palestrante nesta mesa a assessora da Diretoria de Tecnologia da FAPERJ, Renata Angeli. A mediação foi de Márcia Cristina Paes, professora da Uerj, assim como Renata.

Mulheres na Ciência: avanços e desafios

Outro ponto alto da conferência na terça-feira foi a mesa-redonda Mulheres na Ciência, que contou com a participação da diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela, eleita recentemente como a primeira mulher à frente da Academia Nacional de Medicina (ANM); a professora Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), representando a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader; a deputada federal Soraya Santos, Procuradora da Mulher na Câmara dos Deputados; e as reitoras da Uerj, Gulnar Azevedo, e da Uenf, Rosana Rodrigues; com a mediação da presidente da Faetec, Caroline Alves.

“As mulheres sempre tiveram participação na construção do pensamento científico, mesmo na Grécia Antiga, e sempre foram invisibilizadas, mas nunca desistiram. Até no Brasil, a primeira parteira, Madame Durocher, tinha que se vestir de homem para trabalhar, e foi a primeira mulher aceita na Academia Nacional de Medicina, por indicação do Imperador”, refletiu a reitora da Uerj. “Na Ciência, falamos muito da Marie Curie, que na época não teve a visibilidade que deveria ter. No Brasil, temos muitas histórias, como a de Maria Augusta Estrella, que se formou em Medicina nos Estados Unidos em 1879, com o apoio do Imperador. Esse fato inspirou posteriormente o ingresso das mulheres em instituições de nível superior no Brasil. Hoje, o número de mulheres na Ciência brasileira tem crescido mais do que o de homens. A participação feminina cresceu 29%, nos últimos 20 anos. No entanto, a representação feminina em cargos de poder ainda deve ser ampliada”, completou Gulnar. 

Participantes da mesa-redonda Mulheres na Ciência levantaram reflexões sobre a importância da igualdade de gênero e do aumento da participação feminina na pesquisa (Foto: Divulgação/SECTI) 

A diretora Científica da FAPERJ destacou o modelo inclusivo da Uerj e falou sobre os desafios para igualdade de gênero no mercado de trabalho. “Quando entrei para a Faculdade de Medicina da UFRJ, lembro que só cerca de 10% dos alunos eram mulheres. Hoje, não é mais assim. Mas as posições de comando em todo o mundo ainda são predominantemente masculinas e culturalmente a gente aprende, como mulher, a aceitar que seja assim. Esse é um ponto que deve ser trabalhado na sociedade”, disse. Eliete falou também sobre a importância histórica de sua eleição como presidente da ANM. “A Academia Nacional de Medicina foi fundada em 1829 por Pedro I e só em 1985 foi eleita a primeira mulher como membro titular, por votação, que foi a professora Lea Coura. De 85 para cá, 2024, só foram eleitas 10 mulheres, de um total de quase 700 membros. É claro que isso é uma coisa impactante”, ponderou.

Débora Foguel lembrou que as mulheres apresentam um maior percentual de conclusão da Educação Básica, porém, abandonam mais a escola do que os homens para se dedicarem a trabalhos não remunerados, como afazeres domésticos e cuidar de pessoas. “No total, foram 56,3% das mulheres, contra 52,4% dos homens concluintes na Educação Básica, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios”, pontuou. Ela citou que, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2023, a terceira maior causa de abandono escolar entre brasileiros de 15 a 29 anos é a necessidade de se dedicar a afazeres domésticos ou de cuidar de pessoas (15%). “Menos de 1% dos homens deixam as salas de aula por esse motivo, ao passo que 36% das mulheres apontaram esse motivo como causa do abandono”, acrescentou. A segunda maior causa de abandono escolar é a falta de interesse (23%) e, a primeira, a necessidade de trabalhar (45%).

Da periferia à Harvard, um sonho possível

Ontem, jovens moradores de periferias. Hoje, pesquisadores que conquistaram espaços e se consolidam como referências na academia. A mesa-redonda Da periferia à Harvard, mediada pela jornalista Claudia Jurberg, assessora de imprensa da FAPERJ e doutora em Educação, Gestão e Difusão em Biociências pela UFRJ, apresentou trajetórias pessoais de superação, exemplos de como a educação transforma vidas e como o investimento em projetos de Divulgação Científica pode despertar vocações para a pesquisa. A geógrafa e doutora em Agronomia Thamyres Sabrina Gonçalves compartilhou sua história. Moradora do Vale do Jequitinhonha, ela percorreu um longo caminho até chegar à sua graduação na Universidade Estadual de Montes Claros, em Minas Gerais.

“Não tive infraestrutura de família, não conheci meus pais. Como muitos brasileiros com ascendência negra e indígena, nem tinha documentos. Morava de aluguel sozinha aos 17 anos, mas para conseguir isenção da taxa de inscrição no vestibular foi difícil, tive que falar com o reitor e entrar com recurso”, contou ela, contemplada no edital lançado especialmente para cientistas negros e indígenas, lançado a partir de iniciativa conjunta entre a FAPERJ e o Instituto Serrapilheira. Após a seleção, Thamyres passou a integrar o Laboratório de Arqueologia da Paisagem do Museu Nacional, unidade de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para trabalhar com a Antropologia na reconstituição da história evolutiva da Serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e Bahia, a partir da análise do achado de carvão em áreas florestais.

Os debatedores da mesa Da periferia a Harvard: Claudia Jurberg, Wagner Seixas, Thamyres Gonçalves, Michelle Mothé, José Lucena e Jorge Belizário (Foto: Felipe Correa/Faetec)

Ex-morador do bairro Vigário Geral, Wagner Seixas, que atualmente é professor do IBqM/UFRJ, teve sua vida transformada quando, ainda adolescente, participou do projeto Jovens Talentosos, então capitaneado pelo médico e professor Leopoldo De Meis (1938-2014). O programa oferece ainda hoje, no IBqM, a jovens de baixa renda das escolas públicas, o primeiro contato com as carreiras científicas. “Participei do curso de férias com o professor Leopoldo e fui selecionado para receber a orientação do seu aluno, o professor Galina Filho. Hoje tenho o orgulho de coordenar o programa Jovens Talentosos, que tem uma metodologia revolucionária criada pelo Leopoldo, estimulando os alunos a encontrarem suas próprias respostas científicas”, contou.

Seixas, que cursou pós-doutorado no Instituto de Medicina de Harvard, em Boston (2004-2007), destacou a importância da Divulgação Científica na sociedade. “Muitos jovens sabem dizer até os nomes de traficantes, mas não sabem dizer nomes de cientistas relevantes”, justificou. A mesa também teve a participação do professor Jorge Belizário, coordenador do programa de Pré-Iniciação Científica da FAPERJ, o Jovens Talentos; da engenheira química Michelle Gonçalves Mothé, professora da Escola de Química da UFRJ; e do engenheiro José Lucena Barbosa Júnior, do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Nos dois dias de evento, o público pode apreciar aulas magnas de dois cientistas notáveis: o médico neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, fundador do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (em homenagem ao seu pai, considerado a grande referência da neurocirurgia no Brasil – 1914-2004), membro da ANM e da Academia Brasileira de Letras (ABL); e o físico Luiz Davidovich, professor emérito da UFRJ e ex-presidente da ABC (2016-2022), com vasta experiência nas áreas de ótica e informação quânticas. Niemeyer ministrou a aula O labirinto do cérebro, enquanto Davidovich discorreu sobre Ciência básica para o desenvolvimento de uma nação.    

Confira na íntegra os vídeos de transmissão ao vivo da 5ª Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, no Canal da FAPERJ

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