Violência e medo mudam a arquitetura de grandes cidades
O medo tem suscitado mudanças ostensivas na arquitetura do Rio de Janeiro e de São Paulo. Pesquisa coordenada pela arquiteta Sônia Ferraz, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta as transformações ocorridas na arquitetura de grandes cidades, com o intuito de garantir a segurança, e compara as construções do terceiro milênio a castelos medievais.
A pesquisa revela novos hábitos e exigências refletidas em construções de alto padrão gerados pela violência.
As mudanças decorrentes do medo da vio-lência começaram a aparecer a partir da década de 1980. No início dos anos 90, multiplicavam-se as ofertas de porteiros eletrônicos, e, no final dessa década, os recursos de segurança passaram por um processo de sofisticação, chegando ao ponto de serem incluídos em projetos arquitetônicos. As guaritas e pequenas câmeras são bons exemplos - explica a professora.
A pesquisa, que contou com a participação de quatro alunos de graduação, revela as diferenças nas formas usadas para garantir a segurança de imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na capital paulista, o acúmulo visual de obstáculos nas construções de médio e alto padrão é notório. Não há edifício ou casa de alta renda que não tenha muros altos, guaritas, fios eletrificados, câmeras visíveis e carros de serviços privados circulando ostensivamente. As guaritas quase não permitem a visão de fora para dentro, e alguns muros chegam a 12 metros de altura, aguçando a curiosidade sobre aquilo que é protegido - analisa Sônia Ferraz.
No Rio, a característica mais forte detectada no estudo é a in-vasão do espaço público pelos condomínios, com grades e fechamento de ruas. É o custo social da segurança privada, pondera a pesquisadora. Grades invadem as calçadas, contornam obstáculos, como caixas de gordura, fecham ruas sem saída e há, ainda, a presença dos pos-tos policiais na porta dos endereços nobres.
Medo aumenta receita de empresas voltadas para segurança
No estudo, a arquiteta resalta como o medo pode gerar lucro. Uma fatia significativa do mercado imobiliário e da indústria de equipamentos e materiais de segurança depende da manutenção e da disseminação desse estado de pânico para manter a boa lucratividade de seus negócios. A casa, agora, é construída visando, em primeiro lugar, garantir a segurança dos moradores, alerta Sônia.
As estratégias de segurança vêm desenhando um novo padrão formal e funcional de arquitetura e de cidade. Especialistas do mercado imobiliário dizem que o aparato de segurança não aumenta o valor do imóvel, mas aumenta a sua liquidez.
A pesquisa reúne fotos dos locais analisados, ressaltando adaptações ou mudanças na arquitetura das duas cidades que funcionam como mecanismos de segurança. As fotos ajudam a entender como as construções modernas lembram castelos da Idade Média, afirma Sônia, que cita, como exemplo, o condomínio Summer Dream, na Barra da Tijuca. Cercado por um muro e separado por um fosso, o condomínio tem como único acesso uma ponte com dupla cancela.
Apoio: FAPERJ
Modalidade: Auxílio à Pesquisa -APQ1
Valor: R$ 11.096,00
Ano: 2000
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