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Publicado em: 16/08/2002
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Em busca dos mistérios do cérebro

Em busca dos mistérios do cérebro

Obra revela o progresso de uma das áreas que mais avançaram nos últimos tempos: a neurociência

 

A neurociência é uma área relativamente   recente.  Data da década de 1970 e  resulta da confluência de várias disciplinas que até então concebiam o sistema nervoso de maneira independente e desarticulada, como a neuroanatomia, a neurofisiologia, a neurologia, a psiquiatria, a psicologia, entre outras. A explicação faz parte da apresentação do livro Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais da neurociência, lançado pela editora Ateneu. Seu autor é Roberto Lent, titular do Departamento de Anatomia e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.

               

Com quase 700 páginas e mais de 400 ilustrações, o livro aborda desde a biologia molecular do neurônio até os fenômenos da mente, da memória, da emoção e da cognição. Roberto Lent explica que não se trata de um livro que contém teses ou descobertas originais, “porque essas são publicadas em periódicos especializados”.  Mas, sem dúvida, trata-se do primeiro livro no país, de autor brasileiro, sobre neurociência entendida como uma ciência que reúne tudo sobre o cérebro, apesar dos avanços atingidos na área. “Fazer pesquisa em neurociência é entrar na aventura de conhecer a própria mente humana, os mecanismos biológicos que a determinam, as doenças mentais, enfim, os fenômenos do cérebro de uma forma geral”, diz o pesquisador.

               

A obra se destina não só ao público universitário, mas também a leigos interessados em obter informações básicas e abrangentes, porém claras, a respeito do sistema nervoso e de seu órgão central, o cérebro. Segundo Roberto Lent, um defensor  da socialização do conhecimento, difundir o trabalho produzido na universidade para o maior número de pessoas possível é uma obrigação. “Afinal, é o imposto da população que paga nossas pesquisas”, ressalta.

 

 

Diversas possibilidades de leitura

               

Cem bilhões de neurônios tem 20 capítulos. Segundo o seu autor, eles podem ser lidos na seqüência ou separadamente, caso o leitor tenha curiosidade específica. Cada um foi revisto e avaliado por um pes-quisador brasileiro, que trabalha na área e que também escreveu um boxe sobre sua área de atuação. Assim, se o leitor quiser apenas ter uma idéia do panorama da pesquisa em neurociência brasileira, neste início de década, basta ler os quadros “Neurociência em movimento”. Para os interessados em obter uma visão geral da história da neurociência, o livro tem os quadros “História e outras histórias”, escritos, para cada um dos capítulos, por Suzana Herculano-Houzel. E, além disso, as ilustrações de Simone Mendes permitem uma “leitura” visual, dando ao leitor uma noção do que cada capítulo aborda.          

 

 

O estágio da neur ociência no Brasil

               

“Ler essa obra é um prazer cien-tífico e estético”, escreveu Ivan Izquierdo, em artigo especial para a Folha de S. Paulo. Neurocientista, titular de neuroquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o professor Izquierdo lidera um dos grupos que mais se destacam na pesquisa da neurociência brasileira, na área da química da memória. Com seu estudo sobre os mecanismos moleculares da memória, o grupo procura desvendar uma questão instigante: por que a nossa memória é seletiva? Como se explica que conseguimos guardar nossa data de nascimento, o nome de nossa mãe e o nosso próprio nome, enquanto de outros nos esquecemos?

               

Referindo-se, ainda, aos avanços no campo da neurociência, o dr. Roberto Lent cita o grupo que trabalha com células-tronco no Instituto de Biofísica, da UFRJ, coordenado pela professora Rosália Mendez Otero, que desenvolve estratégias para desenvolver terapias celulares para doenças do sistema nervoso. Outro grupo, na Escola Paulista de Medicina da Unifesp, desenvolve modelos de epilepsia em animais, para compreender suas causas e os danos que provoca no cérebro. Na Coppe/UFRJ, bem como em São Carlos e Ribeirão Preto, há grupos tra-balhando com modelagem matemática de fenômenos neurais, isto é, a criação de modelos simples feitos em computador que permitem compreender melhor o funcionamento do cérebro e, even-tualmente, a construção de má-quinas que possam fazer o mesmo.

 

A lista da comunidade de neu-rocientistas, que cobre um grande espectro de subáreas dessa disciplina, não se esgota aí. A própria capa do livro do professor Roberto Lent é a imagem de um cérebro real, de uma pessoa a quem foram apresentadas frases com conteúdo moral particular, para serem analisadas. “As áreas em vermelho na frente do cérebro, são as áreas consideradas do julgamento moral. Essa imagem é de um grupo liderado pelo neurologista Jorge Moll Neto, que as cedeu para mim. É um exemplo de uma pesquisa de grande criatividade, para a qual foram utilizadas técnicas avançadas de ressonância magnética fun-cional”, diz o cientista.

               

 

Uma fronteira que se move

 

Não há quem negue que a neu-rociência é uma das áreas que mais avançou nos últimos tempos. Mas, para o dr. Roberto Lent, ainda desconhecemos muita coisa. Ele explica que os especialistas sabem como os neurônios nascem, como os circuitos neuronais se formam, como se comunicam, como trocam informações. Graças às pesquisas, sabe-se que os neurônios se reúnem em populações e que essas habitam diferentes áreas do cérebro, quais áreas têm participação numa e noutra função e qual o conjunto de áreas que participa de uma ação mental ou comportamental de um indivíduo. Esse conhecimento permite identificar doenças e propor terapias para doenças neurológicas e psiquiátricas, sejam elas cirúrgicas, medicamentosas, fisioterapêuticas ou fonoaudiológicas. Mas o professor ressalta:  “ainda não conhecemos muitas coisas e elas se situam princi-palmente na esfera do mental, do cognitivo, do emocional, porque são funções muito humanas. Posso simular, num rato ou num macaco, um comportamento motor em que o animal pega um objeto com a pata e posso estudar de que modo o cérebro desse animal coordena os músculos e comanda aquele movimento complicado. Posso, então, fazer um paralelo com seres humanos a partir do que faço com os animais. Mas como poderíamos proceder da mesma forma para estudar a linguagem, que é tipicamente humana? Nesse caso, não tenho correlato em animais. Tenho, no máximo, o canto dos canários e alguns sons emitidos pelos macacos que têm um certo significado, mas isso está muito longe, mas muito longe, da riqueza da expressão lingüística do ser humano.”

 

Para Roberto Lent, o grande desafio do século XXI é desvendar os mistérios na esfera mental, emocional e cognitiva do ser humano. E ele não se atreve a dizer que nunca chegaremos a esse conhecimento. “Afinal, quem, nos tempos de Newton, imaginaria que seríamos capazes de extrair das menores partículas da matéria a quantidade de energia que conseguimos extrair hoje? Que conseguiríamos modificar um gene de um ser vivo e gerar outro? Há tantos desafios que foram vencidos que não ouso dizer que não venceremos o da compreensão do cérebro humano”, frisa.

               

Mas, para o professor Roberto Lent, mesmo vencendo todos esses desafios, não cruzaremos a fronteira do conhecimento, pois sempre haverá o desconhecido. Na opinião do cientista, podemos avançar sobre ela, mas ela se move sempre. “Ela é algo inatingível, porque ela se move com o conhecimento”, conclui.

 

Apoio FAPERJ

Modalidade: Auxílio à Editoração

Valor Total: R$ 20.000,00

Ano: 2001

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