No intuito de conferir o que está sen-do desenvolvido nessa área, o repórter do FAPERJ Notícias visitou alguns laboratórios da Coppe e acompanhou de perto o estudo para o armazenamento seguro do hidro-gênio, observou testes para o uso do biodiesel como combustível e constatou o desenvolvimento de pesquisas em materiais reciclados cujo objetivo é transformar esgoto, lixo e óleo utilizado na fritura de alimentos em fontes produtoras de energia limpa e renovável.
Em um mundo cada vez mais caren-te de recursos renováveis, a múltipla utilização das fontes disponíveis ganha status de prioridade máxima para a sociedade. Na ponta de lança desse processo, os centros de pesquisas correm contra o tempo para cumprir o papel que lhes cabe. O Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da Coppe aposta no potencial do biodiesel e na reciclagem de matérias como o esgoto, o lixo acumulado nos depósitos da Comlurb e o óleo utilizado na fritura de alimentos.
De acordo com o pesquisador Luciano Basto, coordenador executivo do Ivig, a Europa já está bem à frente nas pesquisas e na utilização do bio-diesel: Na Alemanha, pelo menos 100 mil carros são movidos a bio-diesel, à base de óleo de kolza -prima da canola. No Brasil, pesquisadores da Coppe e da Escola de Química da UFRJ estão trabalhando no desenvolvimento de um processo industrial e de controle de qualidade para viabilizar a pro-dução do biodiesel nacional. O objetivo é homologar o uso desse combustível no Brasil. Mas esta é uma empreitada coletiva, que reúne vários atores, entre eles: a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Petrobras, a FAPERJ, a Comlurb, os Ministérios da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e das Minas e Energia e algumas empresas como a indústria química Hidroveg.
O país necessita de uma política específica para o desenvolvimento dessa indústria, assinala o pes-quisador da Coppe, lembrando que depende da ANP a autorização para o uso do biodiesel como combustível. Para dar o sinal verde, a agência vai usar como base os resultados dos testes físico-químicos e mecânicos que estão sendo realizados nos laboratórios da Coppe com matérias-primas novas (óleo de soja, mamo-na ou milho) e residuais (óleo de fri-tura, sebo bovino e gordura de esgoto). Os testes físico-químicos já foram concluídos com sucesso e os testes mecânicos iniciam no próximo mês, afirma o pesquisador.
Vantagens econômicas e ambientais
Segundo Basto, são inúmeras as vantagens oferecidas pelo biodiesel, tanto do ponto de vista ambiental como social e econômico. O objetivo maior é encontrar uma alternativa para o combustível tradicional, que causa inúmeros danos ao meio ambiente e ainda por cima desequi-libra a balança comercial do país: Do ponto de vista econômico, poderíamos substituir as importações do diesel, que hoje superam US$ 1 bilhão anuais, e dinamizar a economia interna, gerando emprego e renda para as populações de baixa qualificação profissional, pela produção em larga escala das culturas utilizadas na produção do óleo. Além disso, o uso do biodiesel poderá reduzir a poluição ambiental, minimizando os efeitos do enxofre em 98%, de material particulado em 50% e de dióxido de carbono em 78%, afirma Luciano Basto.
Outra fonte renovável que vem sendo estudada no Ivig é o lixo urba-no. As pesquisas indicam que o preço da energia elétrica produzida a partir do lixo é bastante competitivo em relação ao da energia gerada do gás natural. Segundo Luciano Basto, 40 milhões de toneladas de lixo, que equivale ao total de lixo produzido anualmente no Brasil, podem ofertar 70 bilhões de kwh de energia elétrica, cerca de 85% do que gera a usina de Itaipu. Além de aumentar a produção de energia, um bem escasso que recentemente aprendemos a valorizar, o aproveitamento energético do lixo apresenta outra vantagem: reduzir o resíduo nosso de cada dia, conclui Basto, referindo-se a um dos maiores problemas enfrentados pelas prefeituras no Brasil, que é a destinação final do lixo. Ninguém quer ter um aterro sanitário próximo de casa. No entanto, a quantidade de lixo produzida nas grandes cidades brasileiras faz com que, a cada 30 anos, um aterro tenha sua capacidade esgotada. Portanto, transformar lixo em energia limpa e renovável me parece uma ótima solução, finaliza o pesquisador.
Alguns projetos em andamento
A - Já são recolhidos, por mês, 25 mil litros de óleo utilizado na fritura de alimentos em lojas do McDonalds. O combustível produzido a partir desse óleo é misturado com diesel e utilizado em caminhões da Comlurb (empresa que coleta lixo no Rio de Janeiro). A proporção é de 95% de diesel e 5% do biodiesel. Não é preciso mudar o motor do veículo.
B - Biogás obtido a partir do lixo no Aterro de Gramacho - Baixada Fluminense - Misturado ao biodiesel feito a base de óleo de fritura produz eletricidade utilizada numa estação de tratamento de chorume localizada naquele aterro.
C - Até o fim do ano, será gerada eletricidade a partir do biogás obtido em uma estação de tratamento de esgoto da Cedae. A gordura desse esgoto poderá ser transformada em biodiesel e abastecer a frota daquela companhia.
Apoio FAPERJ
Modalidade: Auxílio à Pesquisa (APQ1)
Programa de Estudos Avançados
Instituto Virtual de Mudanças Globais
Valor: R$ 200 mil
Ano: 2001
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