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Publicado em: 20/08/2009
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O cinema vai à escola

 

Débora Motta

 

 Divulgação/ UFRJ

 

      Em uma das aulas práticas, a professora Adriana
      Fresquet orienta um aluno da Escola de Cinema

O cinema é um grande aliado no processo de aprendizagem de crianças e adolescentes. Partindo dessa premissa, a professora Adriana Mabel Fresquet, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE/UFRJ), coordena o projeto Cinema para aprender e desaprender (Cinead), contemplado pela FAPERJ por meio do edital "Apoio às instituições de ensino e pesquisa sediadas no estado do RJ". A iniciativa resultou na criação da Escola de Cinema do Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp-UFRJ), onde estudantes do ensino médio e fundamental (5 e 6 séries) estabelecem o primeiro contato com a teoria e a prática da sétima arte.

 

Um dos principais impulsos para o projeto foi o estabelecimento de um convênio, em 2008, entre a Faculdade de Educação da UFRJ e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). A partir dessa parceria, tornou-se possível organizar visitas regulares dos alunos à cinemateca do museu. “Os estudantes assistem às projeções em película de filmes que estão fora do circuito comercial, especialmente produções brasileiras, que apesar da qualidade ainda são pouco valorizadas pelo grande público”, diz a professora.

 

Para escolher os filmes a serem exibidos aos alunos, é necessário um minucioso processo de pesquisa documental no acervo do museu, realizado por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do Laboratório de Imaginário Social e Educação (Lise), onde este projeto de pesquisa está inserido. “Mais de 30 pesquisadores estão envolvidos com esse trabalho, entre alunos de mestrado e doutorado de diversas áreas do conhecimento, como geografia, pedagogia e comunicação, e professores da Faculdade de Educação e do CAp-UFRJ”, explica, acrescentando que vários trabalhos acadêmicos estão sendo produzidos a partir da experiência dos alunos com o cinema.

 

Com o apoio concedido pela Fundação, também foi possível criar quatro cabines na sala da biblioteca da cinemateca do MAM, que possibilitam socializar o acervo cinematográfico a toda a população. “As cabines permitem que o vasto acervo do MAM, antes de exibição restrita à programação eleita pela curadoria do museu, esteja disponível para os visitantes. Agora qualquer cidadão pode escolher os filmes que quer ver e agendar uma programação própria”, destaca Adriana.  

 

O trabalho desenvolvido pela Escola de Cinema agrega o ensino da teoria do cinema com a prática, a partir de produções realizadas pelos próprios alunos. “Tentamos introduzir os fundamentos da teoria do cinema, apresentando princípios da história por filiações estéticas de algum elemento da linguagem cinematográfica, segundo nos ensina Alain Bergala, professor e cineasta francês que constitui o principal referente teórico-metodológico deste projeto”, diz Adriana Fresquet.

 

“Apresentar trechos de filmes de diferentes épocas tratando da focalização de um personagem, por exemplo, permite introduzir o aluno no conhecimento de diversos cineastas e suas épocas, ao mesmo tempo em que motiva a realização de exercícios práticos, nem sempre destinados à elaboração de curtas-metragens”, acrescenta.

 

A educadora exemplifica uma das primeiras atividades: a tomada das oficinas pedagógicas da cinemateca francesa, inspirada na experiência dos irmãos Lumière, os inventores do cinema, que consiste em filmar um plano fixo, sem edição, durante um minuto (a película usada pelo cinematógrafo terminava em aproximadamente 52 segundos). “Filmamos com os alunos o chamado ‘minuto Lumière’, que é uma tentativa de restaurar a primeira vez do cinema. É uma aproximação das crianças e adolescentes à própria infância do cinema”, conta.

 

Cenas do cotidiano do colégio, como a saída para o recreio e a movimentação na biblioteca, a descida do bondinho do Pão de Açúcar ou um enquadramento do calçadão de Copacabana são registradas nessas pequenas filmagens que conservam toda a força do cinema em um simples plano. “Estas oficinas também são realizadas pelos participantes do Curso de Extensão Universitária Cinead, de oito horas de duração, que é oferecido gratuitamente todos os meses na Praia Vermelha”, explica.  

 

Unindo o cinema à educação, o projeto também é um laboratório para a análise acadêmica sobre a introdução da sétima arte na grade curricular das escolas. “A proposta é uma experiência piloto para pensar formas de introduzir o cinema na escola. No CAp-UFRJ, ele funciona como uma disciplina extracurricular, de duas horas semanais”, diz Adriana.

 

Ela prefere que o ensino do cinema não seja obrigatório para os alunos. “Acredito muito mais nas propostas de impregnação de cinema no espaço escolar: projetar filmes nos recreios, introduzir cabines nas bibliotecas, criar cineclubes, realizar visitas à cinemateca ou cinemas alternativos, convidar cineastas e artistas na escola. Porém, o crescimento da demanda escolar por projetos de cinema obriga este desdobramento de pesquisa para pensar em uma fundamentação curricular, que conta já com a participação de mais de dez universidades em todo o País”.

 

De acordo com a professora, o nome do projeto é uma alusão às possibilidades oferecidas pelo cinema de aprender e desaprender. “A educação deve criar seu próprio olhar do cinema e criticar sua instrumentalização pedagógica. Podemos aprender com os filmes, mesmo que o objetivo deles não seja ensinar”, explica Adriana.

 

No entanto, para aprender é necessário desconstruir preconceitos. “Desaprender valores equivocados faz parte do processo da experiência do cinema, que permite uma identificação de preconceitos carregados pelo expectador, nem sempre de modo consciente. Às vezes, da rejeição que um personagem nos produz, descobrimos misérias próprias até então inconscientes, e criamos uma forte necessidade de desaprender aquilo que aprendemos, possivelmente nos primeiros anos de vida”, diz a pesquisadora.

 

O projeto já conquistou a simpatia de um cineasta de peso. O consagrado Nelson Pereira dos Santos, um dos mais importantes precursores do Cinema Novo, é o padrinho do grupo e teve sua visita às instalações da Escola de Cinema do CAp-UFRJ registrada pelos alunos. “Outros trabalhos que fizemos com os estudantes sobre Nelson foi revisitar as locações do filme Rio 40 graus, clássico do cineasta”, diz Adriana, que liderou com os alunos pesquisas sobre outras produções da obra de Nelson, como Vidas Secas.

 

Outro desdobramento do trabalho foi a publicação de dois livros organizados por Adriana: Imagens do desaprender (ed. Booklink, 2007) e Novas imagens do desaprender (ed. Booklink, 2008). “Os livros fazem um balanço sobre o trabalho do Cinead e reúnem análises de diversos especialistas sobre a forma como o cinema retrata a infância e a adolescência”, diz a educadora. Ela lembra que o outro desdobramento do projeto foi a realização de diversos encontros internacionais de cinema e educação. “Na segunda edição do evento, em novembro de 2008, convidamos o cineasta Alain Bergara, responsável pela introdução do cinema na grade curricular das escolas elementares francesas”, conclui.

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