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Publicado em: 25/08/2005
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O ar que o carioca respira é objeto de estudo apoiado pela FAPERJ

Mario Nicoll

 

Conhecido como formol, o formaldeído – substância largamente utilizada para a conservação de cadáveres – tem sido encontrado em teores cada vez mais altos no ar que se respira no Rio de Janeiro. A elevação se dá na mesma proporção em que aumenta a frota de veículos convertidos para gás natural na cidade. O alerta é do químico Sergio Machado Correa, coordenador da pesquisa Impacto das Emissões Veiculares na Qualidade do Ar da Cidade do Rio de Janeiro, contemplada pelo programa Primeiros Projetos.

 

Suspeito de causar câncer nas vias respiratórias, o formol está para entrar na lista dos poluentes mais prejudiciais à saúde, onde figuram somente substâncias altamente perigosas como o benzeno, que pode causar leucemia. A lista é produzida pela Organização Mundial de Saúde, que classifica os poluentes em cinco níveis de periculosidade.

 

O formol tem ainda o agravante de ser um dos compostos que mais formam ozônio, substância que, embora benéfica na estratosfera, causa sérios danos na troposfera (o ar que respiramos), podendo prejudicar a córnea ocular, as vias respiratórias e plantações. “Aquilo que popularmente chamamos de ‘cheiro de chuva’ é na verdade cheiro de ozônio que se acentua devido às descargas elétricas das tempestades”, esclarece Sergio, do Departamento de Química Ambiental da Faculdade de Tecnologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

 

A elevação de formol no Centro do Rio

A pesquisa monitora a qualidade do ar no Centro do Rio, em especial na Av. Presidente Vargas, ao lado da estação de monitoramento automático da Feema.  “Nós medimos os poluentes que não são monitorados pela Feema, como alcanos, alcenos, aromáticos, álcoois, aldeídos e cetonas”, enumerou o pesquisador. A estação da Feema leva em conta apenas os chamados poluentes legislados, como ozônio, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, dióxido de enxofre, material particulado e hidrocarbonetos totais.

 

Os poluentes não legislados não possuem monitores automáticos mas, segundo Sérgio, sua amostragem não é menos necessária. “Eles precisam ser amostrados, levados ao laboratório, tratados e analisados”, opinou. Uma prova da importância desse monitoramento é a constatação de que os carros convertidos para GNV emitem mais formaldeído que outros.

 

De acordo com o estudo, o teor de formaldeído no Centro do Rio, que em 2000 era de 15 a 20 partes por bilhão (ppb) subiu para 50ppb em 2001 e continuou elevando seus níveis. Em 2002 já se registravam 68ppb e em 2003, 115 ppb. Como os demais poluentes não exibiam uma tendência significativa de aumento, os pesquisadores concluíram que alguma fonte específica contribuía para a elevação dos níveis.

 

Depois de suspeitar que o aumento fosse reflexo dos carros movidos a GNV, Sérgio realizou uma amostragem em 60 veículos bicombustíveis. “Medimos o teor de formaldeído com o mesmo veículo funcionando a gasolina e depois com GNV”, relatou. O resultado não surpreendeu os pesquisadores. Em sua totalidade, os 60 carros emitiram quatro vezes mais a substância quando movidos a GNV.

 

Sérgio, no entanto, faz questão de ressaltar que, mesmo com esse resultado, os carros movidos a GNV causam menos poluição que os movidos a gasolina, perdendo apenas no quesito formol. “A gasolina emite cerca de 60 poluentes, enquanto o GNV emite apenas cerca de 10 e, normalmente, em teores mais baixos”, comparou.

 

Os 60 carros analisados não foram projetados para operar com GNV. Tudo indica que a alta emissão de formol se dá apenas nos motores convertidos, que emitem este composto, produto da oxidação de parte do metano não queimado.  “Cerca de 5% do gás não queima no motor; ele passa e é convertido a formaldeído”, explicou.

 

Por enquanto, Sérgio analisou apenas um automóvel concebido por fábrica para funcionar com GNV. “Esse carro me surpreendeu por ter registrado nível zero de formaldeído”, disse Sérgio, que posteriormente visitou uma fábrica da Volkswagen para dar continuidade a sua pesquisa. Nessa visita, a chave do mistério começou a ser encontrada. "As fábricas remapearam a injeção eletrônica para aproveitar melhor o GNV e com isso reduziu-se a emissão de formaldeído”, presume o pesquisador.

 

Atmosfera simulada

As descobertas de Sérgio, que trabalha com poluição atmosférica desde 1996, já foram tema de diversos congressos e revistas internacionais, como a norte-americana Atmospheric Environment.  Entretanto, o estudo é mais abrangente. Depois de monitorar os diversos poluentes, os dados entram num simulador da atmosfera urbana do Rio de Janeiro – um software de domínio público da agência ambiental norte-americana ajustado para a realidade do Rio de Janeiro.

 

Informações como emissões veiculares, combustíveis empregados, dados meteorológicos e geográficos e as concentrações dos poluentes nas primeiras horas da manhã dão entrada no simulador que informa as concentrações dos poluentes ao longo do dia. O estudo é feito usando o modelo de trajetórias OZIPR e o mecanismo químico SAPRC, ambos de ampla aceitação pelo meio acadêmico internacional. Com as informações fornecidas pelo simulador, é possível promover alterações na matriz de combustíveis e verificar o efeito que causaria na qualidade do ar.

 

O simulador, que vem sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, pode ser um grande aliado na tomada de decisões. Ele pode analisar, por exemplo, a influência da adição de combustíveis como etanol na gasolina; GNV na matriz de combustíveis; e biodiesel no diesel de petróleo. A avaliação também pode levar em conta o resultado de fenômenos meteorológicos extremos, a eficácia da implantação do rodízio de veículos; o aumento da malha metroviária e muitos outros.

 

Vantagens e desvantagens do biodiesel

Um dos objetivos da pesquisa de Sérgio é avaliar as emissões de poluentes pelos motores a diesel com adições de biodiesel a diferentes proporções. Dados preliminares indicam que o uso de biodiesel promoverá uma melhora na qualidade do ar em termos de CO, NOx, ozônio e material particulado. Entretanto ocorrerá um aumento nos teores de hidrocarbonetos mais perigosos como os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e mais uma vez o formaldeído.

 

Sérgio suspeita que esta piora nos hidrocarbonetos será sentida mais nas grandes cidades. Segundo ele, o benefício do biodiesel é muito grande em termos globais, pois vegetais  como a mamona e o girassol capturam o carbono emitido da atmosfera. “Atualmente está em curso uma plantação de mamona e girassol na Uerj em Resende. Os vegetais serão usados na produção de biodiesel a ser usado pela frota da prefeitura de Resende. Tudo ancorado pela Secretaria Estadual de Ciência Tecnologia e Inovação”, disse.

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